Moçambique: Dhlakama e Nyusi acordam cessar as “hostilidades militares” por uma semana

Conferência de imprensa via telefone de Afonso Dhalakama que falava a partir das matas de gorongosa [Sofala] para um grupo de jornalistas em Maputo

Os microfones captam a voz de Afonso Dhalakama que, via telefone, conversou com os jornalistas desde as matas da Gorongosa. Foto: Alexandre Nhampossa/GV

O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, anunciou nesta terça-feira (27.12) a cessação provisória das hostilidades militares entre as forças da Renamo e as governamentais que deverá ter efeitos a partir das zero horas do dia 28 de dezembro em todo o território moçambicano.

A trégua deverá durar, em princípio, uma semana. Contudo, caso corra bem — não se registando nenhum incidente —, esta experiência poderá ser prorrogada, garantiu Dhlakama durante a conferência de imprensa que deu via telefone a partir das matas da Gorongosa, na província de Sofala, para um grupo de jornalistas que o escutavam atentamente em Maputo, capital de Moçambique.

O acordo foi alcançado na segunda-feira (26.12) durante uma “longa conversa telefónica” mantida entre o líder da Renamo e o Presidente da República, Filipe Nyusi, num esforço que “visa proporcionar que os moçambicanos passem as festas e um ano novo num ambiente de paz”, disse Afonso Dhlakama.

O anúncio da trégua provocou diferentes reações nas redes sociais. No Facebook, Lazaro Mabunda, pesquisador e jornalista baseado em Maputo, felicitou as lideranças pelo acordo:

Finalmente, Dhlakama e Nyusi acordaram a cessação temporária de hostilidades. Conseguiram contornos [à] elite radical da Frelimo que criava obstáculos. Parabéns aos dois. Moçambique agradece

Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi Foto: DR/PR

Azarais Felisberto, indignado com a duração da trégua, comenta o seguinte:

Mas eu acho que o povo deve pôr um freio nesta brincadeira pah . A vida de cerca de 25 milhões de Moçambicanos não deve estar nas mãos de duas pessoas pah . De que serve para nós esta paragem por 7 dias? Porque não uma paragem definitiva? Que diferença faz entre morrer as 14h ou 15h?

No mesmo sentido Manuel F Candula escreveu:

Puxa!!! Isso não é notícia que se diga ao povo. São sacanas esses gatunos… se podem parar por um ou dois dias, porque não parar de vez? Subentende-se que a guerra é revestimento deles.

Américo Matavele entende que é uma boa novidade, tendo em conta tratar-se de um primeiro passo para a paz:

Boa nova: toda a caminhada começa sempre com um passo. E este já foi dado. Espero que este entendimento seja mais profundo em 2017, para o bem do país que tem tudo para dar certo, menos a guerra…”

Na mesma linha, Ivan Pene, comenta que:

Acho que é um primeiro passo para paz efetiva. Num processo caracterizado pela desconfiança entre os intervenientes, este é um passo importante que pode ajudar a restabelecer a confiança entre as partes o que seria determinante para alcançarmos a tão almejada paz. Evitemos críticas que não nos levam a lugar nenhum e vamos nos concentrar nas soluções deste diferendo

Entretanto, Celio Bila escreveu na publicação de João Massango aquilo que para ele virá a ser uma boa novidade para os moçambicanos:

(…) Só será boa nova se a cessação for para sempre e Dlhakama sair da mata juntamente com seus homens e as FDS [Forcas de Defesa e Segurança] tomarem consciência agindo com escrupulosidade

Mário Massinwana, comentando a publicação de Bernardo Álvaro, jornalista do semanário Canal de Moçambique, fez votos para uma eventual prorrogação dos dias da trégua:

É claro sinal de que afinal os dois líderes, falando a solo, podem levar o navio a um porto seguro. Espero que finda a semana haja uma renovação prolongada do período…”

Por sua vez, Dercio Tsandzana (colaborador do Global Voices), espera que a pausa da guerra seja definitiva:

(…) Que não seja apenas o espírito ilusório e badalado das festas, mas que o temporário se torne definitivo, longínquo e sustentável. Para mim já pode começar o ano 2017, a melhor prenda já chegou. Contudo, não deixa de ser curioso que quando querem, eles podem.

Captura de imagem da conta do Twitter de Afonso Dhalakma, lider da RENAMO

A declaração provisória das hostilidades militares constitui o primeiro consenso entre o Governo e a Renamo numa mesa de diálogo que vem decorrendo desde o mês de Maio com o objetivo de resolver a atual crise política e militar  que fustiga o País.

Indignado com a criação da referida Comissão enquanto os lideres podem falar diretamente, Henriques Depende questionou:

Mas se eles conseguem falar diretamente, por que não libertem o povo das hostilidades? por que optarem por negociações representativas quando podem fazer uma negociação direta? nós africanos somos assim por que afinal?

Já no Twitter, o chefe dos mediadores internacionais no diálogo de Paz entre o Governo e a Renamo, Mário Raffaelli, considera a trégua um “grande passo”:

“Cessação das hostilidades”, após entendimento entre Dhlakama e Presidente Nyusi, com possibilidade de extensão para facilitar as negociações. Um grande passo em frente.

Por sua vez, Mussa Maleque entende que o acordo feito ao telefone pelas lideranças revela que havendo vontade política, eles podem terminar com a guerra que tem ceifado muitas vidas inocentes:

O conflito entre a Renamo e as forças do Governo intensificou-se após as eleições gerais de 2014 quando o maior partido da oposição, a Renamo, recusou aceitar os resultados que deram vitória ao partido no poder, a Frelimo. Desde então, o centro e norte de Moçambique estão a ser assolados pela violência militar, na sequência da exigência da Renamo de governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.

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