Moçambique: morte de rapper e activista provoca actos de manifestação e repressão policial

Foto da manifestação – Cidade de Maputo – feita por Dércio Tsandzana (Março 2023)

Edson da Luz, conhecido como Azagaia, era um dos artistas mais destacados do rap em Moçambique. Falecido no dia 9 de Março, sua música era relevante em diversos países lusófonos. Azagaia, aos 38 anos, foi vítima de um ataque de epilepsia.

Azagaia ficou conhecido por defender causas sociais por meio da sua música crítica contra a forma como os políticos governam em Moçambique. Por várias vezes, Azagaia chegou a ser preso ou ser intimado pelas autoridades moçambicanas por conta da sua música, como uma afronta ao poder político vigente. Uma das vezes data de 2016, quando a actuação do artista fora cancelado sem razão aparente.

As reacções sobre a morte de Azagaia vieram de todo o lado, com lamentações e tristeza pela morte do rapper. Das autoridades moçambicanas, a ministra da cultura, Eldevina Materula, disse ter ficado ‘extremamente chocada’ com a notícia:

Sem dúvida que a música e a cultura moçambicana estão de luto. O mundo perdeu um ‘rapper’ único…

Jovens e grupos de cidadãos se organizaram para mostrar a sua admiração e estima pelo rapper, organizando actos de vigília e solidariedade ao artista e sua família, seja em Moçambique, Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde.

Já no dia do seu enterro, ocorrido no dia 14 de Março, várias pessoas acorreram ao local das cerimónias para se despedir do rapper.

Contudo, quando os apoiantes se deslocavam ao cemitério, foram impedidos pela polícia que bloqueou uma das passagens por onde o cortejo fúnebre devia passar. Como explicação, foi dito que se estava a usar uma via imprópria para o efeito:

Como forma de prestar outras homenagens ao rapper, em diferentes cidades capitais de Moçambique foram organizadas manifestações pacíficas no dia 18 de Março, incluindo a capital Maputo.

Porém, no mesmo dia foram relatos actos de impedimento, violência e tortura contra os cidadãos que pretendiam honrar Azagaia. Sem razão aparente ou justificada, a Polícia da República de Moçambique usou a força, inclusive gás lacrimogêneo, para dispersar os manifestantes que de forma pacífica tentavam manifestar.

Não existia razão clara para a acção da polícia, dado que a marcha havia sido devidamente comunicada. Os relatos da acção da polícia foram feitos amplamente nas redes sociais:

Como reacção, a Amnistia Internacional veio repudiar os acontecimentos, apelando responsabilização dos actores da violência:

A polícia deve abster-se de visar mais os manifestantes, incluindo a sua detenção arbitrária e o seu envolvimento em actos de violência retaliatória contra os manifestantes pacíficos.

As autoridades devem investigar rapidamente a polícia que prendeu pessoas em Maputo e as sujeitou a espancamentos e assegurar que sejam responsabilizadas pela violação dos direitos humanos dos manifestantes, incluindo o direito internacional.

Até ao momento não se conhece nenhuma reacção oficial, por escrito ou outro meio, que venha da polícia sobre o que realmente sucedeu naquele dia 18 de Março.

Depois dos actos de violência, foi colocada a circular uma petição virtual que tinha como objectivo informar ao mundo sobre o que estava a suceder em Moçambique. Até ao momento que se publica este texto, as assinaturas já ultrapassam 15.000:

Não se conhece ainda nenhum pronunciamento oficial do Chefe de Estado ou de outras autoridades políticas do Governo sobre os actos de violência e espancamento contra os cidadãos em várias cidades de Moçambique naquele dia 18 de Março.

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