Brasil: Encobrimento de Vídeos do Pinheirinho Leva Ativista a Greve de Fome

O episódio que ficou popularmente conhecido como “Massacre do Pinheirinho“, a expulsão violenta de milhares de moradores pobres de suas casas em um terreno pertencente à massa falida de de Naji Nahas, foi fotografada e filmada sob os mais diversos ângulos.

Desde o dia anterior à desocupação em si, aos momentos de pânico por parte da população enquanto era vítima da brutalidade policial na cidade de São José dos Campos, até os depoimentos colhidos após terminada a desocupação, com a população alojada em abrigos precários e sendo assediada pelas forças policias que deveriam protegê-las.

Não faltaram denúncias de abuso de poder e de violência extrema, além de denúncias de que muitas pessoas teriam sido feridas e mesmo mortas, mas ninguém parece conseguir informações nem nos hospitais da cidade e nem no (IML) Instituto de Medicina Legal local. O ativista carioca Pedro Rios Leão foi à cidade de São José dos Campos e entrevistou dezenas de moradores que, na frente das câmeras, afirmaram a existência de mortos e feridos que estariam sendo escondidos pela prefeitura e governo estadual.

O ativista encontra-se em greve de fome, acorrentado em uma das entradas da Rede Globo de Televisão no Rio de Janeiro, a quem ele acusa de conivência com o Massacre, que vem sendo escondido pela grande mídia ou tratado com total normalidade.

Pedro Leão em greve de fome no Rio de Janeiro. Foto do usuário do facebook Rodrigo Ajooz, usada com permissão.

Em seu vídeo, cujo provocativo nome “Eu queria matar a presidenta: depoimentos da guerra civil brasileira” faz alusão ao seu depoimento pessoal ao final, no qual declara que é um direito legítimo desejar a morte daqueles que levam a morte até o povo, há ainda espaço para a leitura de uma emocionante poesia criada por Antônio da Silva, morador expulso logo na abertura do vídeo.

Leão aponta não apenas a prefeitura de São José dos Campos, apelidada de “São José dos Campos de Concentração” por muitos, mas também o governo estadual e federal como culpados pelo que considera um crime contra a população do Pinheirinho. Ele se declara em estado de guerra contra governos que são coniventes com o sofrimento da população desalojada e implora para que a presidente Dilma Rousseff tome uma atitude.

Seu vídeo denuncia o medo da população frente à violência com que estão sendo tratados e coleta inúmeras denúncias cuja investigação se mostra urgente. A igreja onde os moradores se refugiaram foi alvo de bombas e tiros – apesar das negativas do padre local que, posteriormente, expulsou os moradores do local – e nas proximidades um homem foi alegadamente assassinado pelas tropas ocupantes do Pinheirinho. No vídeo, repetem-se as denúncias de corpos “sumidos” do IML.

O usuário do Youtube stresser gravou um vídeo em que mostra o início da greve de fome de Leão e seu discurso explicando as razões para a greve.

E aqui a segunda parte, com uma entrevista com Leão.

O Coletivo de Comunicadores Populares, da cidade de Campinas, gravou e editou o vídeo “O Massacre de Pinheirinho: A verdade não mora ao lado” (até o momento com legendas em inglês, espanhol e francês), visto por mais de 190 mil pessoas, no qual reproduz entrevistas feitas com moradores desalojados do Pinheirinho que denunciam a violência cometida pela PM (Polícia Militar) no primeiro dia da desocupação, 22 de janeiro de 2011, como o uso de spray de pimenta contra mulheres grávidas e crianças, intimidação, ameaças, bombas de gás e de efeito moral contra a população que foi expulsa de suas casas sem direito a pegar sequer documentos e mesmo na área organizada pela prefeitura para cadastramento das famílias expulsas.

O vídeo ainda mostrou a situação da população refugiada em uma igreja das proximidades e em albergues, se sentindo humilhados. Por fim, o Coletivo resume a situação política e legal por detrás de toda a operação, acusando o governo e a justiça paulista de estar submetido aos interesses do especulador Naji Nahas, contra os interesses populares.

O Coletivo, ainda, entrevistou famílias no dia anterior à desocupação violenta, sábado 21 de janeiro “logo depois da tentativa de reintegração de posse frustrada por uma liminar de âmbito federal que obrigou a polícia a parar com a operação”. O vídeo, chamado de “Onde estarão os Nobres? Uma família de Pinheirinho 1 dia antes do Massacre” é o relato de pessoas simples sobre sua situação e o medo que sentiam de perder tudo.

O grupo Los solidários, cujo nome é uma homenagem a um grupo anarquista que atuava em Barcelona nos anos 20, coletou imagens da  violenta desocupação intercaladas por declarações do Capitão Antero, responsável pela comunicação da PM, a fim de mostrar as discrepâncias entre ação e discurso oficial no vídeo chamado “O Pinheirinho é do povo! — crônicas do terrorismo do Estado“.

O grupo entrevistou ainda moradores expulsos de suas casas que denunciaram a existência de mortos, cujos corpos estriam sendo escondidos pelas autoridades. O grupo ainda procurou em hospitais informações sobre feridos e mortos e não tiveram acesso, além de terem realizado entrevistas durante a noite após a desocupação com moradores visivelmente assustados e temerosos de seus futuros.

O ativista Hiure Anderon gravou dois vídeos, postados em seu canal do Youtube, com depoimentos de mães desalojadas do Pinheirinho, muitas grávidas ou com filhos pequenos, em situação absolutamente precária.

O rapper Davi Perez gravou uma música em homenagem às vítimas do “Massacre do Pinheirinho”, reproduzida pelo blog em solidariedade à população desalojada. O blogueiro Hugo Albuquerque compilou uma lista, em inglês e português, sobre as dez mentiras mais comuns contadas sobre o Pinheirinho.

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