Em sessão tumultuada por protestos e com os votos mínimos necessários, o deputado evangélico Marco Feliciano, do PSC (Partido Social Cristão) foi eleito no último dia 07 de março, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, no Brasil.
Presidente da Igreja Assembléia de Deus, Feliciano trata-se de figura polêmica. Contrário ao casamento gay e ao direito ao aborto, é alvo de processo por estelionato no Supremo Tribunal Federal (STF), onde responde a ação por homofobia, devido a uma mensagem no seu Twitter de 31 de março de 2011: “A podridão dos sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao crime, à rejeição”.
O site Carta Capital relata que durante seu discurso de posse, Feliciano negou ser homofóbico ou racista. O pastor já causou diversas polêmicas com seus comentários. Em um discurso durante um congresso evangélico, ele afirmou que a Aids era o “câncer gay”.
No blog de Feliciano, podemos ler:
Todos sabemos que a chamada AIDS pode atingir qualquer pessoa independente de preferencia sexual mas a própria ciência revela o predomínio de infecção por esta doença em pessoas manifestamente homossexuais, tanto é verdade que quando se doa sangue na entrevista se for declinada a condição de homossexual essa doação é recusada.
O blog Mistura Urbana, opina:
Fundamentados na desculpa da liberdade religiosa e liberdade de expressão, pessoas que deveriam estar comprometidas com o AMOR AO PRÓXIMO como o pastor e deputado Marco Feliciano e o milionário pastor Silas Malafaia preferem, escolhem, optam por inflamar multidões de religiosos com ódio, violência e preconceito. E ainda se posicionam como vítimas de uma militância gay odiosa e perseguidora (?!?!?!?!?!?).
No vídeo abaixo, o pastor Feliciano inflama os fiéis contra o casamento gay:
Uma lista das barbaridades externadas por Feliciano, pode ser vista no site CSP conlutas, entre elas:
A maldição que Noé lança sobre seu neto, Canaã, respinga sobre o continente africano, daí a fome, pestes, doenças, guerras étnicas!
O deputado tem mais de 143 mil seguidores no Twitter (@marcofeliciano) e 105 mil no Facebook.
Segundo o site Gazeta do Ribeirão, seus seguidores no Twitter e no Facebook saíram em sua defesa:
“As pessoas só atacam quem incomoda. O senhor está fazendo a diferença. O povo de Deus é contigo”, escreveu uma simpatizante no Twitter. “Sei que fará uma gestão digna que lhe foi confiada”, comentou outro seguidor. “Pastor @marcofeliciano é um exemplo pra nossa geração! Um homem de Deus que não tem do que se envergonhar e merece nosso respeito”, acrescentou outro.
Porém, ao contrário do que se imagina, o pastor não está recebendo apoio da massa evangélica em sua totalidade.
A Rede Fale, representante de 39 grupos religiosos, anunciou seu repúdio à eleição e lançou abaixo-assinado para retirá-lo do cargo.
Em carta aberta publicada no seu site, a Rede Fale diz:
Os exemplos históricos de cristãos envolvidos com os Direitos Humanos são vários, figuras como a do pastor batista Martin Luther King Jr. ou do bispo anglicano Desmond Tutu nos inspiram por exatamente colocarem a fé como o motor para suas ações de promoção e defesa dos direitos.
A repercussão da eleição de Feliciano foi parar também às ruas de várias capitais do Brasil, no último final de semana. Internautas convocaram passeatas através do Facebook, e partilharam fotos nas redes sociais.
Uma petição Avaaz pedindo o afastamento de Feliciano, já tinha reunido mais de 300 mil assinaturas até o momento da publicação deste artigo.
A responsabilidade dos partidos políticos é posta à prova quanto à vitória do pastor para presidir a Comissão dos Direitos Humanos. A referida Comissão é composta de 18 membros, e atualmente conta com cinco membros do PSC e outros seis da bancada evangélica.
O blog O Diário informa:
Para viabilizar a eleição do deputado evangélico, o PSC teve o apoio do PMDB [Partido do Movimento Democrático Brasileiro] e do PSDB [Partido da Social Democracia Brasileira], que cederam suas vagas na comissão ao partido. Com apenas um membro no colegiado, hoje, durante a eleição, o PSC tinha cinco deputado membros. O PMDB cedeu duas vagas e o PSDB, mais duas. O partido também recebeu o apoio do PR [Partido da República], do PTC [Partido Trabalhista Cristão] e de um deputado do PSB [Partido Socialista Brasileiro], o Pastor Eurico.
O parlamentar e membro da CDHM Jean Wyllys (do PSOL-RJ, Partido Socialismo e Liberdade – Rio de Janeiro) em entrevista à Rede Brasil Atual, defende a tese de que a posse do pastor Feliciano como presidente da Comissão está relacionada às disputas políticas e aos acordos partidários em curso no Brasil com vistas às eleições presidenciais de 2014.
Muito identificado com a defesa dos direitos LGBT, o deputado afirma ainda que os recentes acontecimentos envolvendo a comissão também dizem respeito a uma “disputa ideológica” em torno dos direitos humanos no país.
O site Causa Operária relatou em um artigo, a declaração de Domingos Dutra (Partido dos Trabalhadores), ex-presidente da Comissão, antes de formalizar a presidência para Feliciano, a 7 de março de 2013:
“Me retiro nesse momento em nome do PT e me retiro em meio a uma ditadura que foi estabelecida aqui” (Congresso em Foco, 7/3/2013). A declaração do petista não invalida o fato que houve um acordão entre as lideranças partidárias para entregar a comissão para a bancada evangélica. A comissão que foi criada há 20 anos teve sua presidência dirigida majoritariamente pela esquerda, só o PT dirigiu 18 vezes.