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Moçambique: vídeo mostra violação grave de direitos humanos em Cabo Delgado

Categorias: África Subsaariana, Moçambique, Guerra & Conflito

Ponte fronteiriça de Cabo Delgado, norte de Moçambique, 4 de agosto de 2009. Photo by F. Mira via CC BY-SA 2.0.

No o dia 12 de Janeiro de 2023, as redes sociais em Moçambique foram inundadas [1] pela partilha de um vídeo que dava conta da queima de corpos por parte dos militares que enfrentam [2] terroristas no Norte do país, Cabo Delgado. No referido [1] vídeo, é possível ver militares com a bandeira da África do Sul a jogar corpos para o fogo. Supõe-se que tais corpos sejam de terroristas capturados em combate pelos militares.

Logo de seguida, o vídeo [3] causou um conjunto de reacções, sobretudo para condenar a ocorrência de tais actos, bem como chamar atenção para a grave violação de direitos humanos que são cometidas desde o início do conflito em Cabo Delgado. Para o Director executivo do Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD), Adriano Nuvunga, as imagens [3] são a ponta do iceberg de uma violação maior de direitos humanos e de abusos por parte de agentes militares externos em Cabo Delgado.

Aquela é uma atitude dos esquadrões da morte, queimar corpos. Há uma lei própria que regula a atuação de tropas em situação de conflito, particularmente quando são forças internacionais.

Por seu turno, a presidente da Comissão dos Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de Moçambique, Feroza Zacarias, lamentou [4] a crueldade evidenciada no vídeo, tendo exigido a responsabilização dos infractores:

Aquilo é uma desconsideração dos direitos humanos. Um olhar de normalização que norteia o nosso Estado.

Para a Amnistia Internacional (AI), as imagens são um exemplo ‘horrível’ do que está a acontecer na ‘guerra esquecida’ que está a ter lugar nesta província no Norte de Moçambique, referiu [4] Tigere Chagutah, representante da organização para a África Oriental e Austral.:

A queima de corpos por soldados é deplorável e provavelmente uma violação do direito humanitário internacional, que proíbe a mutilação de cadáveres e exige que os mortos sejam tratados com respeito.

Enquanto isso, o Presidente da Namíbia, Hage Geingob, disse que a organização não pode condenar ainda o acto porquanto decorre uma investigação [5] para averiguar a veracidade das alegações.

Geingob também preside a Troika de Políticas e Defesa e Segurança da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), a qual descreveu como ‘perturbador’ o vídeo e prometeu ‘medidas’ após a conclusão das investigações, mesmo sem especificar o que será feito de facto. Como reacção, Zenaida Machado, da Human Rights Watch, disse que os militares devem respeitar os direitis humanos naquela região:

Esperamos que o relatório seja publicado em breve. Deverá também instruir todos os soldados no terreno em Cabo Delgado para agirem em conformidade com a lei e respeitarem os direitos humanos. Deixe-lhes bem claro que actos como o do vídeo horrível, não serão tolerados.

Como está a situação em Cabo Delgado?

Desde Outubro de 2017, Moçambique tem vivido um conflito [8] armado na província de Cabo Delgado, no norte [9] do país. Já foram dadas várias explicações [10] sobre as causas, como questões de ordem religiosa ou pobreza juvenil, mas no geral as causas reais permanecem desconhecidas. Apesar das alegações [11] de que o Estado Islâmico esteja por detrás dos ataques e pretende ocupar as áreas de produção de gás em Moçambique, nem os perpetradores, nem as origens da violência foram identificados.

Para além do apoio que está a ser dado por países Africanos, Portugal e outros países da União Europeia tem estado [12] a formar militares das forças armadas de Moçambique. Estes apoios trouxeram algum alívio e aparente segurança em Cabo Delgado, embora ainda persistam focos de conflito em algumas partes daquela província.