- Global Voices em Português - https://pt.globalvoices.org -

Sete quadrinhos e graphic novels baseados em experiências dos negros ganham adaptações no cinema

Categorias: África Subsaariana, África do Sul, Costa do Marfim, Estados Unidos, Gana, Nigéria, Arte e Cultura, Boas Notícias, Filme, Literatura, Mídia Cidadã
“Ireti” is billed as the first “African female superhero.” Image Source Comic Republic. Used with permission

“Ireti” é anunciada como a primeira “super-heroína africana”. Fonte da imagem Comic Republic. Utilizada com autorização.

Quando Pantera Negra, filme americano de super-herói baseado no personagem homônimo da Marvel Comics, estreou em 2018, foi um marco importante por ser um dos primeiros heróis negros em filmes de super-heróis americanos convencionais. Com seu enorme sucesso, o longa também destacou o vazio representacional sobre como os africanos são retratados em Hollywood e no gênero das histórias em quadrinhos.

Embora os quadrinhos de super-heróis produzidos localmente e escritos por africanos para africanos tenham conquistado adeptos desde o final da década de 1980, a popularidade dos quadrinhos disparou em 2016, principalmente devido ao aumento dos filmes de super-heróis, como os da Marvel Studios.

Capitão África [1] foi a primeira história em quadrinhos africana de super-herói a se tornar global. Escrito e ilustrado pelo ganês Andy Akman [2] na década de 1980 e publicado pela editora nigeriana, African Comics Limited, sua aclamação foi decaindo lentamente [1] na década de 1990 até que caiu silenciosamente no esquecimento.

Apesar de seu desaparecimento, Capitão África se tornou a base [1] que inspirou uma nova geração de artistas e editores de histórias em quadrinhos independentes de todo o continente. Estes criadores de quadrinhos africanos têm contado histórias que atraem um público africano real que anseia por mais diversidade, representação e autenticidade em suas histórias.

Pantera Negra quebrou o teto de vidro dos super-heróis africanos e estabeleceu um precedente sobre como os criadores de quadrinhos africanos negros poderiam “passar” seus heróis de quadrinhos do desenho para as telas e aproveitar um crescente mercado de fãs [3] e uma legião de fãs globais.

Quadrinhos “BLACK”

Em outubro de 2020, a Warner Bros anunciou que faria uma adaptação cinematográfica de “BLACK [4]”, história em quadrinhos criada por Kwanza Osajyefo e Tim Smith 3. “BLACK” conta a história de como um jovem sobrevive a um acontecimento violento e se dá conta de que tem poderes. Ele logo é perseguido por um consórcio secreto que quer controlar suas habilidades. A trama explora uma dupla realidade na qual apenas os negros têm poderes de super-heróis.

Se você não leu BLACK, de Kwanza Osajyefo, Tim Smith 3 e Jamal Igle, deveria comprar um exemplar agora. Foi feito mais do que qualquer outro para este momento, supondo o que aconteceria no mundo real se os negros e somente os negros de repente manifestassem superpoderes.

Kwanza, quem começou sua carreira como estagiário na Marvel Entertainment, surgiu com o conceito de “BLACK” há mais de dez anos e pôde imprimir as seis edições da história em quadrinhos após uma campanha de “Kickstarter” que o ajudou e a seus cocriadores a arrecadarem 90 mil dólares para lançar o projeto.

A série recebeu elogios da crítica e se tornou um exemplo de diversidade e representação [7] nos quadrinhos. Os criadores já estão trabalhando na sequência, “WHITE”, que explora o que acontece quando os Estados Unidos descobrem que existem negros com poderes de super-heróis.

“Aya de Yopougon”

AYA [8]” é um filme de animação francês de 2013, dirigido por Marguerite Abouet [9] e Clément Oubrerie e baseado na graphic novel “Aya de Yopougon [8]”.

Antes de sua adaptação ao cinema, “Aya de Yopougon” se tornou uma série extremamente popular [10] traduzida em 15 idiomas sobre a vida em Abiyán durante a década de 1970, na Costa do Marfim. A série foi publicada entre 2005 e 2010 e conta com seis volumes que reúnem as memórias da infância de sua autora, Marguerite Abouet. Marguerite cresceu em Yopougon, bairro operário nos arredores de Abiyán.

Depois de sua estreia, tornou-se uma mistura vitoriosa de romance e comédia, o que garantiu à obra uma indicação [11] ao prêmio César francês de melhor desenho animado em 2014.

“Malika”


Malika [12]” é uma graphic novel de fantasia histórica africana inspirada em uma guerreira real da África Ocidental do século 16, a rainha Amina de Zazzau.

A adaptação cinematográfica de “Malika” estreou no YouTube em outubro de 2019 após uma campanha de Kickstarter que ajudou a arrecadar 10 mil dólares [13] de 285 patrocinadores. Embora não tenha tido o sucesso avassalador de adaptações [14] como o de Aya, recebeu ótimas críticas e aclamação dos fãs [15].

A história em quadrinhos em três volumes, publicada em março de 2016 [14], segue as façanhas de Malika, rainha da nação e comandante militar, que luta para manter a paz em seu império em constante expansão.

A história em quadrinhos foi criada por Roye Okupe [16], originário de Lagos (Nigéria). Sua paixão pela animação o levou a fundar a YouNeek Studios em 2012, empresa que o permitirá ir atrás de seu sonho de criar uma biblioteca diversa de super-heróis.

Desde então, YouNeek arrecadou mais de 70 mil dólares no Kickstarter para adaptar suas outras séries de quadrinhos, como “E.X.O.”, “WindMaker” e “Iyanu”, em filmes.

Ireti

Ireti é apresentado como o primeiro longa-metragem de uma “super-heroína africana [17]“. A empresa nigeriana Comic Republic, maior editora de histórias em quadrinhos independentes da África, assinou um acordo de produção com a Emagine Content e a JackieBoy Entertainment para dar luz verde ao filme.

“Ireti”, obra de Michael “Balox” Balogun com ilustrações de Yussuf Adeleye, conta a história de Ireti Bidemi, universitária de Ibadan (Nigéria) que luta contra o crime com estilo após ser agraciada com os poderes de uma antiga rainha guerreira.

Embora Ireti seja o primeiro do catálogo da Comics Republic [18] que será adaptado para o cinema e televisão, há muitos outros quadrinhos em preparação, como “Aje”, trama de fantasia inspirado na espiritualidade e no misticismo iorubá, e “The Vanguards”, inspirado em uma equipe de super-heróis ao estilo Vingadores.

Série “Supa Strikas”

A série “Super Strikas [19]” é considerada uma das histórias em quadrinhos de maior circulação no mundo, com mais de 1,4 milhões de exemplares vendidos em 16 países por mês. Tem uma temática pan-africana futebolística que está em publicação desde 2000.

Foi publicada pela primeira vez na África do Sul, com distribuição em toda a África Subsaariana em 2002. Pode-se dizer que é a primeira história em quadrinhos a conquistar um imenso sucesso comercial em forma de manchetes globais, patrocínios, colocação de produtos e anúncios de página inteira.

O título se tornou uma série de televisão animada [20] em 2009, produzida na Malásia pela Animasia Studio e pela sul-africana Strika Entertainment.

“Supa Strikas” combina humor, ação, tecnologia e exploração no contexto das partidas de futebol. A história tem por foco o atacante mais jovem da equipe, Shakes, que muitos consideram o melhor atacante do mundo. Os temos explorados são a autorrealização, o jogo limpo, o trabalho em equipe e o respeito.

“Strike Guard”

“Strike Guard” é uma série de histórias em quadrinhos [21] ambientada em Lagos, na Nigéria, que gira em torno de um personagem fictício chamado Bolaji Coker, universitário possuído pelo semideus iorubá Ajagbeja. Ele tem a oportunidade de voltar à vida com o espírito de Ajagbeja usando seu corpo como hospedeiro. O jovem Ayodele aceita e se torna o combatente do crime de Lagos, Strike Guard.

A série está enraizada na espiritualidade e na cultura iorubá, além de incorporar o estilo de vida africano contemporâneo. É criação de Ayodele Elegba [22], veterano do setor nigeriano das histórias em quadrinhos e da animação, que começou sua carreira como roteirista em 1999.

O primeiro curta de animação [23] de Strike Guard foi produzido pela SPOOF! Animation em 2016. Estreou [24] na Comic-Con de Lagos de 2017.

Yasuke

Yasuke, A Netflix series inspired by the African Samurai

Yasuke, a série de anime da Netflix inspirada nos samurais africanos

Embora “Yasuke”, série de anime da Netflix [25] sobre um samurai africano que estreou em abril de 2021, não se enquadre estritamente nesta categoria de quadrinhos adaptados para o cinema, ela é digna de ser mencionada.

Yasuke era um africano que se tornou o samurai de um dos senhores da guerra mais famosos do Japão medieval do século 16, o Japão Feudal. Ele se transformou ao longo dos séculos na mítica lenda que aparece em inúmeros mangás e em um ícone da cultura popular fora do Japão.

Depois de sua estreia, a série da Netflix sobre Yasuke foi aclamada [25] como um “momento de plenitude” entre os fãs de anime negro. Sua importância como ponto de virada na representação de um herói de animação negro reavivou o discurso sobre a representação e a caracterização estereotipada dos personagens negros no cinema.

Este artigo havia creditado erroneamente Somto Ajuluchukwu como criador da série Strike Guard, mas foi atualizado para creditar Ayodele Elegba como criador.