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De Covid-19 à literatura caribenha, este é o quadro da região em 2020

Categorias: Caribe, Barbados, Belize, Guiana, Jamaica, Trindade e Tobago, Ativismo Digital, Educação, Eleições, Etnia e Raça, Fotografia, Juventude, Lei, Literatura, Meio Ambiente, Mídia Cidadã, Mulheres e Gênero, Música, Política, Protesto, Saúde, COVID-19
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Ilustração sobre a  Covid-19 [1] de Prachatai no Flickr, CC BY-NC-ND 2.0 [2].

A Covid-19 foi sem dúvida o tópico [3] que dominou as manchetes este ano. No Caribe, entretanto, a pandemia serviu para exacerbar problemas já existentes, incluindo desigualdades sociais e violência de gênero — mas também permitiu que netizens (cidadãos da internet) da região tivessem espaço para criar e reimaginar seu futuro coletivo.

Segue o resumo de algumas das histórias mais populares de 2020…

Covid-19

Desde a proibição de viagens [4] até o declínio do turismo [5], o Caribe — como o resto do mundo — foi forçado a se readaptar [6], em uma tentativa para se proteger contra o vírus.

A princípio, diversos países caribenhos fecharam suas fronteiras [7] (alguns, como é o caso de Trinidade e Tobago, permanecem fechados [8]) e os governos regionais começam a impor restrições de quarentena [9].

As mudanças comportamentais, no entanto, foram implementadas pouco a pouco. A Jamaica enfrentou problemas com aglomerações  [10]em áreas públicas de comércio, e houve vários relatos de que a polícia teve que interromper festas em Trinidade e Tobago, mesmo diante de normas de saúde pública [11] que limitavam reuniões com grande número de participantes. As contradições que guiaram tais ações policiais contribuíram para discussões on-line questionando [12] se houve duplicidade de critérios na execução [13] dos protocolos relativos à Covid-19.

Os efeitos em cascata das restrições ao combate da Covid-19 — tanto no âmbito econômico [14] com em outros — logo se manifestaram. Trinidade e Tobago, por exemplo, vivenciou [15] um aumento nos relatos de violência doméstica durante o período inicial de lockdown do país, e a disparidade econômica se tornou ainda mais ampla [16] com o início das aulas virtuais, que impediu o acesso [17] de diversos estudante ao ensino.

Como em uma guerra, a batalha [18] contra a Covid-19 foi repleta de avanços [19] e recuos [20], como o cancelamento [21] antecipado do Carnaval de Trinidade e Tobago em 2021.

Por outro lado, a pandemia também trouxe à tona a criatividade, tanto na cozinha [22] quanto em uma iniciativa virtual de música extempo, [23] na qual cantores e músicos divulgaram mensagens sobre segurança e solidariedade. Um netizen da região começou a utilizar o design thinking (desenho de pensamento)  [24]ao questionamento sobre como o Caribe pode se preparar para o mundo pós-Covid-19.

Black Lives Matter 

Logo após 25 de maio de 2019, data do assassinado do afro-americano George Floyd pelas mãos de policiais em Mineápolis, Minnesota, o movimento norte-americano Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), ganhou destaque global.

No Caribe, a morte de Floyd levantou questões importantes [25] sobre o racismo fortemente enraizado [26] na região e o legado colonial.

O movimento #BLM inspirou — por toda a região [27] — pedidos de remoção de estátuas, as quais eram consideradas pelo povo caribenho [28] uma forma de roubar-lhes o direito de contar sua própria história. Em Barbados, esses esforços culminaram na remoção oficial [29] de uma estátua do oficial da marinha britânica Horatio Nelso, por seu papel no comércio transatlântico de escravos.

Desde a Jamaica [30], ao norte do arquipélago, até Trinidade e Tobago [31], ao sul, houve também o clamor por uma maior responsabilidade policial [32] e pela reforma do sistema penitenciário [33].

Se por um lado houve diversos [26] problemas [34] envolvendo empresas que tentavam lucrar com o interesse público criado ao redor do movimento #BLM, por outro houve o esforço [35] para dar início ao debate [36] racial.

Na Guiana, entretanto, após um longo [37] e arrastado impasse [38] eleitoral, no qual o governo em exercício, muito estimado pelo eleitores afro-guianenses, foi acusado de tentar fraudar os resultados em seu favor e impedir que a oposição, o Partido Progressista do Povo (PPP) — que possui como suporte o eleitorado indo-guianense — assumisse [39], acirrando tensões étnicas e culminando no assassinado brutal [40] de dois jovens.

Depois de uma eleição penosamente disputada, vários usuários de redes sociais sugeriram [41] que o ventre racista de Trinidade e Tobago era visível.

#BlackLivesMatter também ajudou a atrair a atenção internacional sobre o direito da região à reparações históricas pela escravidão. Amparado pelo sucesso da assinatura de um acordo de reparações históricas [42] de 20 milhões de libras esterlinas (aproximadamente 142 milhões de reais) entre a Universidade de West Indies e a Universidade de Glasgow em 2019, o Caribe continuou [43] a defender [44] a necessidade de reparações [45].

O meio ambiente

Enquanto a pandemia focava em problemas regionais, um dos assuntos mais urgentes [46] continua a ser o meio ambiente. Esta é uma causa que mobilizou os usuários regionais de redes sociais esse ano, desde a comemoração  [47]do Dia da Terra [48] até o reconhecimento do Dia Mundial do Meio Ambiente [49].

Diversos marcos promissores em defesa do meio ambiente foram conquistados, desde a aprovação do Projeto de Lei de Recursos da Pesca [50] de Belize, aclamado [51] como “um modelo de gestão de recursos marinhos”, até o vibrante ativismo juvenil [52] contra a proposta de extração de calcário em uma área ecologicamente vulnerável da Jamaica.

O ativismo também triunfou quando houve a conscientização pública [53] sobre a ameaça ambiental [54] apresentada por um petroleiro [55] venezuelano ancorado no mar caribenho

Embora a ambientalista e autora jamaicana Diana McCaulay tenha escrito um romance distópico  [56]que advertia sobre o possível impacto da crise climática na região e no mundo, viam-se lampejos de esperança [57] de que o Caribe [58] pudesse contribuir para superar [59] tal sina.

Violência de gênero.

A violência contra mulheres e crianças [60] foi tema constante das manchetes desde o início de 2020 [61].

Alguns ativistas relacionaram [62] a violência [63] com a maneira pela qual as mulheres são tratadas na cultura caribenha, dizendo que o sexismo é “um dos mais perigosos vieses”.

A comediante de trinitina Simmy De Trini usou plataformas on-line [64] como o Facebook para virar o viés de gênero de ponta-cabeça, enquanto o professor e palestrante universitário Amilca Sanatan explorou a fundo [65] como ocorre a socialização dos homens caribenhos e como eles podem ajudar a dar um fim à violência.

Literatura caribenha

O talento literário regional ganhou grande evidência em 2020 — ano em que o Festival Bocas Lit, considerado o principal festival literário do Caribe, comemorou seu décimo aniversário. Bem no início da pandemia, Bocas publicou sua lista de obras indicadas  [66]para o Prêmio OCM Bocas de Literatura Caribenha, e durante o confinamento pela pandemia, os netizens estiveram ocupados com uma  colaboração coletiva sobre [67] “os 100 livros caribenhos que nos formaram.”

A fundadora do Festival Bocas Lit, Marina Salandy-Brown,  recebeu [68] a condecoração de integrante honorária da Sociedade Real de Literatura por ajudar a difundir a literatura caribenha mundialmente.

Autores caribenhos vivenciaram momentos de grande sucesso [69] nesse ano: vários foram nominados [70] — e ganharam [71] — prêmios literários internacionais.

A Global Voices teve o prazer de contar com a participação de alguns deles em suas matérias, incluindo Roger Robinson [71], Ingrid Persaud [72] e Brian Heap [73].

Despedidas

Por fim, o Caribe se despediu de muitas de suas grandes personalidades neste ano.

Barbados perdeu grandes nomes em diferentes campos de atuação: o poeta Kamau Bathwaite [74], a lenda do críquete Everton Weekes [75] e o ex-primeiro-ministro Owen Arthur [76].

Em apenas alguns meses, Trinidade e Tobago perdeu bastiões culturais, os irmãos Tony [77] e Dennis Hall [78], e a Jamaica ficou de luto pelo falecimento [79] do pioneiro cantor e compositor de reggae Toots Hibbert, cuja morte foi amplamente noticiada como decorrente da Covid-19.