Uma coruja sobe na árvore: Líder indígena resiste a invasão da polícia no Rio de Janeiro

Urutau resistiu por 26 horas em cima de árvore, em protesto a desocupação da Aldeia Maracanã. Foto: Facebook/ Mídia NINJA

Urutau resistiu por 26 horas em cima de árvore, em protesto a desocupação da Aldeia Maracanã. Foto: Facebook/ Mídia NINJA

Na manhã de segunda-feira, 16 de dezembro, enquanto o batalhão da Tropa de Choque da Polícia Militar retirava a força os ativistas que ocupavam um dos edifícios da Aldeia Maracanã, o líder da tribo Guajajara, José Urutau Guajajara correu. Aos 64 anos, Urutau – nome que em tupi significa coruja – subiu em uma árvore como forma de protestar o despejo. E ali permaneceu por 26 horas.

No final da manhã de terça-feira, Urutau, foi retirado do local pelos bombeiros e levado por uma ambulância. Diabético, o indígena teve seu acesso a água controlado pela polícia. Além disso, segundo informações do grupo Mídia NINJA, os policiais impediram que qualquer comida chegasse a ele. Apoiadores da ocupação, que acompanhavam a resistência de Urutau, tentaram burlar o bloqueio jogando alimentos. De acordo com o grupo de mídia independente ZUMBI, Urutau teria sido levado diretamente para a delegacia, ao invés de ser encaminhado ao hospital.

O indígena protestava exigindo a apresentação de uma ordem judicial que justificasse o despejo. Segundo informações do grupo Olhar Independente, a decisão judicial autorizando o despejo, apresentada pela polícia já era antiga e, portanto, não teria mais valor. Uma nota publicada no jornal Extra confirmou a situação, revelando ainda que um policial não-identificado teria dito que as ordens era para que “não se expusessem” porque a ação era “na ilegalidade”.

Aldeia Resiste e insiste

A movimentação sobre a ocupação iniciada no último sábado e a luta de Urutau foram acompanhadas no Facebook e no Twitter, com a hashtag #AldeiaResiste. Movimentos internacionais, como o espanhol Take the Square e Occupy Wall Street, também manifestaram apoio aos brasileiros.

O complexo de 14 mil metros quadrados que forma a Aldeia Maracanã foi doado ao Serviço de Proteção ao Índio, em 1910. De 1953 a 1977, os prédios serviram como sede do Museu do Índio, porém, desde a transferência do museu ficaram abandonados. Em 2006, indígenas de 20 etnias reocuparam novamente o local. 

Índios em um dos edifícios do complexo. Na parede, lê-se "Quer matar um povo? Então, roube-lhes a cultura". Foto: Facebook/Aldeia Maracanã

Índios em um dos edifícios do complexo. Na parede, lê-se “Quer matar um povo? Então, roube-lhes a cultura”. Foto: Facebook/Aldeia Maracanã

Em agosto de 2012, o governo do estado e a prefeitura do Rio de Janeiro anunciaram que o local seria demolido para realização de obras da Copa do Mundo, já que fica próximo ao Estádio Mário Filho, o Maracanã.  Uma petição pedindo o reconhecimento de posse da Aldeia para os índios foi criada no Avaaz, explicando:

Neste local, indígenas de várias etnias vêm difundindo sua cultura há seis anos e em escolas particulares e públicas,exercendo direito garantido pela lei. Defendemos a criação de um centro de referência da cultura indígena.

Na época, representantes indígenas que brigam pelo espaço da Aldeia, apareceram em um vídeo explicando o caso:

O espaço foi ocupado quatro vezes em 2013, a primeira delas em março. O decreto assinado pelo prefeito Eduardo Paes, em agosto, época da última ocupação, reconhece a presença da Aldeia Maracanã no local e determina o tombamento definitivo do prédio principal – o que significa que não pode mais ser derrubado para as obras. No final de setembro, “o juiz da 7ª Vara da Fazenda Pública Federal assinou despacho impedindo a demolição” e determinando que, sem um pronunciamento do governo, a área deveria passar para os ocupantes, os indígenas.

Sem mais respostas para a situação, no sábado, ativistas voltaram a ocupar o local. Depois de uma tentativa de expulsão no domingo, na manhã de segunda-feira, 150 policiais da tropa de choque, cumprindo ordens do governo estadual, cercaram o local e realizaram despejo forçado dos ocupantes. Das 30 pessoas que estavam no prédio, 25 foram detidas, mas já estão em liberdade.

No final da terça-feira, depois de serem proibidos de voltar à Aldeia, Urutau e representantes do grupo despejado da Aldeia Maracanã, se juntaram a estudantes para ocupar a reitoria da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ. Eles pediam uma reunião para discutir o projeto do Museu do Índio. O governador Sérgio Cabral e a construtora Odebrecht, responsável pelas obras, seguem sem se pronunciar sobre o assunto. 

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