Tradutor do Global Voices: Jean Saint-Dizier


No Global Voices em Francês, tradutores voluntários decidem traduzir porque amam notícias, porque são interessados pelo mundo em geral, porque eles adoram traduzir. Tomam essa oportunidade para “visitar” quantos países diferentes lhes for possível ao traduzir posts para o francês. Um voluntário de nossa comunidade francófona, porém, toma para si todo e qualquer post sobre o Brasil com ciúme (uma única exceção: Iraque!): conheça Jean, também conhecido “Juan” [fr], que traduz por amor ao Brasil.

Uma pergunta já tradicional: como você descobriu o Global Voices em Francês e escolheu se tornar um voluntário?

Jean Saint-Dizier: Provavelmente isso está relacionado à forma com que fui criado, meio hippie e meio utópica. Continuo convencido de que todo mundo é lindo e gentil. Então, nessa perspectiva, a Internet é uma ferramenta extraordinária para conectar pessoas. Dessa maneira, podem conhecer umas as outras e podem se tornar um pouco melhores? Eu amo as pessoas. Isso é tudo. É o motivo de que, quando encontrei o Global Voices em Francês enquanto surfava na Internet, pensei imediatamente: “Pronto. Encontrei minha casa”.

Por que o Brasil? Por que essa paixão por traduções do português para o francês?

JSD: Eu descobri o país por acaso, num dia de Natal, em 1984. Na França, eu era um jovem adulto totalmente desorientado, não tinha metas de vida, zero… E lá estava eu, a descobrir um país onde as pessoas eram como eu: relacionamentos humanos em primeiro lugar, gregários, multiculturais. A felicidade, apesar dos pesares, vinha primeiro… Claro, depois mudei um pouco essa primeira impressão, mas, naquela época, pensei de imediato: “Daqui eu não saio”. Você também deveria saber que foi lá que encontrei a pessoa que salvou minha vidas, em todos os sentidos, meu irmão, minha alma gêmea, com a beleza de saber que alguém como ele existia na Terra (mesmo que ele fosse fundamentalmente diferente de mim) e que ele era brasileiro, isso certamente me ajudou a sobreviver durante bocados difíceis da minha vida. Então fui em frente, quebrei todas as pontes e me tornei brasileiro. Meu maior arrependimento na vida sempre será de não ter solicitado cidadania brasileira nessa época.

O que você fez no Brasil?

JSD: Passei dois anos em Fortaleza, no Ceará, onde ensinei francês na Aliança Francesa; e então me mudei para a ilha de Itaparica, em Salvador, na Bahia, onde fiz uma tentativa de me tornar um empreendedor e abri uma pousada (um pequeno hotel-restaurante), mas fui um fracasso!

Três anos depois, retornei à Fortaleza, minha cidade, meu país, onde o sol nunca morre. Dez anos se passaram, e retornei à França. Nesse ínterim, conheci meu anjo da guarda, que é francesa – como eu; nós nunca escolhemos – e temos duas crianças lindas.

O Brasil é uma sorte para o mundo e quero compartilhar isso com todo mundo. É um laboratório vivo que deve ser levado a sério, e sou extremamente que está nesse caminho de ser levado seriamente. Graças ao ex-presidente Lula, com certeza, mas não só ele, graças a todos os outros, e a todos os brasileiros que fazem de seu país a “possibilidade de uma ilha” para mim, um refúgio seguro em caso de um desastre pessoal ou coletivo.

Você descobriu alguma coisa sobre o Brasil que antes desconhecia, enquanto traduzia para o Global Voices

JSD: Sim, eu descobri algo sobre o qual não fazia ideia (e eu culpo os brasileiros um pouco por isso): a vitalidade dos movimentos sociais, que se mostrou na Internet no momento da campanha eleitoral de 2010. Como exemplo, a iniciativa lançada por Diego Casaes, Paula Góes e equipe, o Eleitor 2010, um site de monitoramento das eleições e dos candidatos.

Na sua segunda vida francesa, o que você faz?

JSD: Eu mesclei minha paixão por linguística e línguas com minhas paixão por pessoas, e hoje sou professor de francês para estrangeiros. Atualmente trabalho como treinador no sul da França, com imigrantes qe devem justificar um domínio mínimo de francês para serem aptos “a tentar” residência na França. Faço de tudo para treiná-los bem para o teste, para que possam ser deixados em paz pelo menos nessa questão. E pensar que o conceito de fronteira para mim é totalmente virtual…

Existe algum lugar no Brasil seja particularmente querido para você?

JSD: A praia do Mucuripe, em Fortaleza, porque foi lá onde tudo começou para mim. Embaixo de uma favela, localizada entre o Iate Clube e prédios burgueses, o Mercado dos Peixes e os estaleiros, onde são construídos e mantidos saveiros e jangadas. Ainda fico arrepiado sempre que me recordo de lá.

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