Legisladores russos debatem lei contra tatuagens nas costas de mulheres

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Em breve, o Parlamento russo debaterá sua próxima intervenção na vida dos cidadãos: obrigar os estúdios de tatuagem a alertar as mulheres que ter tatuagens nas costas pode ser perigoso para receber a anestesia peridural na ocasião do parto. A legislação, discutida a 10 de outubro, está classificada como regulamento de defesa do consumidor. Contudo, muitos russos – senão a maioria – parecem interpretá-la como a mais recente lei, entre outras tantas, que visam coibir comportamentos alegadamente imorais. As reações foram ainda mais efusivas, uma vez que muitas agências de notícias russas enganosamente descrevem a iniciativa como uma tentativa de extinguir, de uma vez por todas, tatuagens na parte inferior das costas das mulheres.

No cenário virtual, em fóruns e mídias sociais aparentemente dominados por elementos do sexo masculino, a discussão sobre tatuagens na parte inferior das costas de mulheres envolve muito mais a estética do que a saúde: “Um belo traseiro sem qualquer tipo de pintura é muito mais bonito”, escreve Aleks3, no quadro de mensagens Vott.ru, ao postar fotos de costas de mulheres, sendo uma com tatuagem e outra au naturel. “Sinta a diferença”, escreve ele aos leitores.

Outro rapaz charmoso, que usa no Vott.ru o nome de “Fosnet” e que evidentemente apoia a tentativa de abolir as tatuagens nas costas de mulheres, declara: “Uma tatuagem na parte inferior das costas já é sinal de alguma deficiência mental. O parto dificilmente é algo a acrescentar”.

A língua-russa RT compartilhou a cobertura da história da tatuagem no Vkontakte, a mais popular rede social russa onde os usuários deixaram mais de 200 comentários. Novamente, a maioria das respostas são de homens cuja maior preocupação se relaciona com o nível de promiscuidade sexual que uma tatuagem nas costas de uma mulher pressupõe. “Eu acho que estas tatuagens são encontradas em prostitutas e vadias as quais, tendo em conta o seu estilo de vida, em princípio deveriam ser proibidas de terem filhos, pois elas só gerarão o mesmo tipo de gente”, escreve Alexey Maslov, antes de incluir a frase: “Talvez eu esteja enganado”.

Tatiana Seminchenko, uma jovem mulher vivendo em Krasnodar, teve a audácia de fazer à Maslov a seguinte pergunta: “Por que é que você pensa assim?” Ele respondeu que tatuagens em mulheres pertencem ao “plano global” da Europa de “incesto e casamento entre pessoas de mesmo sexo”.

O machismo e a homofobia não são novidade, nem na Rússia nem em qualquer outra parte, mas é difícil ignorar o modo como o novo esforço da Duma de proteger as mulheres de tatuagens está em sintonia com as atuais tendências reacionárias do país. À medida que o conflito no leste da Ucrânia fervilha em torno de um árduo cessar fogo, os legisladores russos podem considerar voltar às políticas do pré-guerra de indignação moral. Antes de Moscou lutar contra os “fascistas” em Kyiv, passaram muitos anos protegendo os russos de pais adotivos estrangeiros e malvados e de duvidosos desviados sexuais. A legislação contra “as tatuagens na parte inferior das costas em mulheres”, baseada excessivamente em observações médicas, tem o potencial de agradar a uma boa parte das pessoas, que já temem o “plano global” ocidental.

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