Proibição de saias curtas nas escolas de Maputo cria indignação

Crianças a sair da escola, Maputo. Foto: Dércio Tsandzana

Crianças a sair da escola, Maputo. Foto: Dércio Tsandzana/GlobalVoices

A publicação de uma notícia, que dá conta de que o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano vai passar a proibir o uso de saias curtas (mini-saias) e a exigir o porte de saias compridas, nas escolas secundárias da cidade, está a levantar polémica entre a sociedade civil de Maputo.

Assim, moveu-se uma acção pública que foi anunciada através de um comunicado por organizações não-governamentais, nomeadamente o Fórum Mulher, a Rede de Defesa dos Direitos Sexuais e Reprodutivos, a Lambda e o Movimento Feminino de Moçambique para a realização de um protesto que culminou com a detenção de cinco mulheres:

Cinco mulheres foram detidas, na tarde de hoje, quando tentavam manifestar contra a obrigatoriedade do uso de saias compridas nas escolas secundárias da cidade de Maputo. A detenção ocorreu em frente à Escola Francisco Mayanga, que proíbe o uso de saias curtas há três anos. Em geral, lá estiveram mulheres, jovens e adolescentes, que hoje decidiram ir em frente à Escola Secundária Francisco Mayanga gritar ‘basta à violação dos direitos das mulheres nas instituições de ensino’.

De acordo com o documento, o próximo passo da campanha é o pedido de uma audiência com o Ministério da Educação. No Facebook as opiniões dividem-se, uns acusam tais organizações de serem imorais, outros falam da invasão da escolha e privacidade por parte do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano. Mendes Mutenda recorda uma acção, movida há anos atrás, pelo Fórum Mulher quase nos mesmos moldes:

Recordo que a Fórum Mulher, Forcom, e outras organizações, ditas da sociedade civil, apareceram a condenar veemente a publicidade da Laurentina Preta (cerveja). Hoje são as mesmas organizações a defender que as miúdas andem de saia ao palmo-da-mão. Haja coerência.

Numa outra publicação, Abilio Lazaro Mandlate disse:

Vamos ser sérios pah! Quando não há mais nada a fazer o melhor é ficar calado e não andar a criar assuntos onde eles não existem. Sinceramente… com tantos problemas que as mulheres enfrentam, andamos aí a brincar às mini-saias!

Naira João Guiamba Nhaca disse:

Não tou a favor das saias curtas, mas se for pra proibir nas escolas que proíbam também nas instituições de trabalho, pior no sector privado. As crianças sonham em trabalhar no banco e sabem que as trabalhadoras dos bancos vestem mini-saias praticamente as crianças sentem que é um ensaio do comportamento futuro.

Crespim, comunicador e estudante disse:

Marcha contra as Maxi-saias só vos olho!!! Quando agir fora da agenda nacional é lucrativo!!!

# É verdade que há muitos pontos a serem debatidos, muitas liberdades a serem conquistadas, mas atenção [porque] tudo tem limites!

Dois pontos: (…) Está mais do que na hora de pensarmos educação em Moçambique ou por outra, [educação] com um curriculum pensado por moçambicanos e espelhando realidades moçambicanas… O Ministério da Educação, que a todos nós representa como moçambicanos, assim decidiu (não às mini-saias nas escolas) como também decidiu que não mais temos de nos fazer presentes à sala de aulas com telemóveis (professores e alunos).

Cléo Morgan Mafu diz não entender a posição de certos grupos de feministas:

É verdade que as feministas estão a favor da minissaia nas escolas? Quem entende elas? Em tempos, fizeram muito ruído por causa de uma publicidade de uma marca de cerveja preta. (…)

Há quem defenda que o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano deve apresentar um estudo antes de impor tal decisão:

Nessa discussão sobre o uso obrigatório das maxi-saias nas escolas eu gostaria que o ministério da educação viesse a público explicar a base, o racional de tal decisão… Creio que deve haver algum estudo que sustente que saias cumpridas são a resposta ideal contra os assédios dos professores às meninas, contra as violações ou reduzem as gravidezes precoces…que os génios reclamem a paternidade da sua genialidade! Por favor!

Mauro Steinway disse:

Como um cidadão que paga impostos para ver educação a funcionar, e à luz do obvio fracasso que é a educação no País e os fracassados resultados que tivemos em Dezembro, o cidadão devia achar um insulto à sua inteligência e ao seu suor diário, que o Governo ao invés de trazer medidas claras e objectivas para melhorar o aproveitamento e assimilação de informação dos Estudantes, se ponha a discutir o tamanho das saias das raparigas.

O Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano tem introduzido medidas geradoras de polémica social, o ano lectivo – que iniciou no dia 8 de Fevereiro de 2016 – introduziu novas exigências a nível do ensino primário e secundário.

Decidiu-se, por exemplo, proibir o uso do telefone celular nas salas de aula, o que de certa forma suscitou grande debate entre os que defendem a restrição do uso do telemóvel pelos alunos e os que veem esta decisão como sendo exagerada e insensata.

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