Portugal: Revista censurada por uso de “linguagem ofensiva”

Graffiti with German chancellor Angela Merkel as a puppet master, holding the Portuguese Prime Minister and the Deputy Minister.

Graffiti com Angela Merkel a manipular o Primeiro-ministro Português e o Vice Primeiro-ministro. Foto by Gonçalo Silva, copyright ©Demotix (28/07/2013)

Revista científica publicada desde 1963 em Portugal, viu a sua ultima edição suspensa, depois de impressa, por alegadamente conter linguagem ofensiva.

 

A Análise Social é uma revista de Ciências Sociais gerida pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS) com 50 anos de existência. A sua última edição foi cancelada pelo diretor do ICS, José Luís Cardoso, já depois de ter sido impressa e por conter um ensaio visual com “linguagem ofensiva”

José Luís Cardoso justifica a sua decisão argumentado que os graffiti contêm linguagem de “mau gosto, sendo uma ofensa a instituições e pessoas que não podia ser tolerado”.

O responsável pela revista cessante, o antropólogo João de Pina Cabral, discorda com esta decisão e aponta a mesma como “um gesto de censura”.  Por outro lado José Luís Cardoso refuta a “acusação de um ato de censura” e sustenta a sua posição como sendo um ato destinado “a garantir uma imagem de dignidade” e o mesmo “não representa qualquer aspeto de privação de liberdade”.

O ensaio intitulado “A luta voltou ao muro”, de autoria do sociólogo Ricardo Campos reflete a frustração popular que se vive atualmente em Portugal contra as políticas de austeridade. O autor procura também mostrar a escrita não autorizada nos muros, em forma de graffiti, que nos últimos anos assume mensagens políticas. O trabalho mostra uma série de fotografias feitas a murais pintados pelas ruas de Lisboa.

As reações à noticia sentiram-se de variadas formas por parte dos leitores:

Adriano Freitas · Facebook

Concordo com a total liberdade, mas detesto a ofensa, e, parece-me ingénuo alguém falar em manifestações espontâneas, essas trazem sempre agarradas os interessados do costume, estão sempre contra, isso pode ser visto à quarenta anos ligados ao taxo e sem compromissos, são sempre os da razão (…)

Alice Costa · Facebook

E de que é a culpa !!!! nossa que continuamos a votar sempre nos mesmos seja esquerda ou direita são sempre os mesmos, mas nos votamos !

Beatriz Padilla · Lisboa

Não há dúvidas que é mesmo CENSURA, e descarada. Desde quando um cientista social não pode analisar a realidade social, que é mesmo crua e dura neste momento. O medo continua a vencer, mesmo 40 anos depois. Onde está a liberdade de escolha do tema de investigação, e o de liberdade de expressão. Se o artigo estava na tipografia, é porque já tinha passado o processo de peer review, que é requisito científico. O resto é censura científica e a “linguagem ofensiva” é uma disculpa que usa a objectividade como escudo. O autor não é o criador das imagens, só as interpreta num contexto específico.

 Na blogosfera, “O Ressabiator” não tem dúvidas que se trata de “Censura”. 

No Twitter restam também poucas dúvidas que esta medida não vise coibir formas de expressão:

 

 João Mineiro, jovem sociólogo, escreve um artigo intitulado “A luta voltou ao muro, a censura voltou a academia” no seu blogue, onde faz referência à ténue liberdade de expressão das instituições de ensino que nunca alcançaram total independência em relação ao exercício do poder politico e económico.

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