Marrocos: Berberes também podem ser loiros

Os maiores veículos de comunicação e blogueiros entraram em frenesi há alguns dias, quando uma fotografia desfocada tirada por uma turista espanhola na região da montanha Rif [en] no Marrocos mostrou uma pequena menina loira muito parecida com Madeleine McCann [en] a menina britânica desaparecida, sendo carregada nas costas de uma marroquina.

Como descobriram mais tarde, a fotografia não era de Madeleine McCann [en], mas de uma garota marroquina de dois anos chamada Bouchra Benaissa, cujo cabelo loiro e olhos claros não são algo incomum na região. Enquanto muitos sites ficaram admirados com as similaridades entre as duas crianças, os blogueiros marroquinos não se surpreenderam em nada.

Naim [fr] do Au début était le blog … diz:

Décidément, les stéréotypes ethniques ont la vie dure. Il a suffi d'une photo floue prise par une touriste espagnole, tout près de Tetouan, d'une fillette marocaine pour que la machine médiatique, espagnole et puis internationale, se met en marche: Madeline McCann, petite anglaise de 4 ans disparue au Portugal depuis le 2 mai dernier, serait enlevée par un couple de Marocains. Pourquoi ce malentendu? La réponse est simple: la fillette marocaine photographiée sur le dos de sa maman était blonde comme Madeleine. Le mystère vite éclairci, la Maddie marocaine s'appelle en fait Bouchra Benaissa. Ses parents, Ahmed et Hafida, d'une extrême gentillesse, se sont même prêtés aux longues questions des gendarmes, et surtout à l'harcèlement des dizaines de journalistes internationaux, Anglais et Espagnols en tête, qui voulaient élucider ce “mystère”.

Estereótipos étnicos definitivamente duram. Só foi preciso uma foto borrada tirada por uma turista espanhola de uma criança marroquina perto de Tetouan [en], para que a máquina da mídia espanhola, e em seguida mundial, entrar em ação. Madeleine McCann, a menina inglesa de quatro anos que desapareceu Portugal no dia 2 de maio, pode ter sido raptada por um casal marroquino. Por que esse mal entendido? A resposta é simples. A jovem garota marroquina fotografada nas costas da mãe tinha a pele clara como Madeleine. O mistério foi rapidamente resolvido: a “Maddie Marroquina” é de fato chamada de Bouchra Benaissa. Seus pais, Ahmed e Hafida, extremamente afáveis, até se deixaram passar pelo longo questionamento policial, e pelo assédio de dezenas de grandes veículos de imprensa, de jornalistas ingleses e espanhois que quiseram solucionar esse “mistério”.

Mesmo antes das notícias de que a foto não era de Maddie, o blogueiro Abdelilah Boukili tinha lá suas dúvidas:

Personally, I don’t think it can be Madeleine. The woman seems from the countryside. In Morocco people, especially those living in the countryside know each other. For her having a child speaking English can raise the curiosity of people in her area. She can have as an answer that the child is from a relation who lives in Europe as a substantial number of Moroccan immigrants originate from the north of Morocco. If that girl was really Madeleine, the women wouldn't show her in public. She can be easily spotted as Madeleine's case is still fresh in mind and among the search priority of the security services in Morocco. In general, the local authorities’ job is to know about any foreigner living in any areas. It has a network that regularly reports about anything special taking place in any area of the country. If the girl was Madeleine she couldn’t have gone unnoticed as it is too early for her to speak the local language fluently without reverting to English. As a consequence she can be the talk of the area where she is.

Pessoalmente, eu não acho que pode ser Madeleine. A mulher parece vir do campo. No Marrocos, as pessoas que vivem especialmente naquelas áreas se conhecem. Para ela, ter uma criança falando inglês atrairia a curiosidade das pessoas na área. Ela teria de responder que a criança era de algum parente morando na Europa, como um número substancial de imigrantes originários do norte do Marrocos fazem. Se a garota fosse mesmo Madeleine, essa mulher não estaria a mostrando em público. Ela seria facilmente descoberta, já que o caso Madeleine ainda está fresco na mente das pessoas e entre as prioridades de busca do serviço de segurança do Marrocos. Em geral, o trabalho das autoridades locais é o de saber se há qualquer estrangeiro vivendo em qualquer canto. Elas têm uma rede que regularmente relata qualquer fato especial acontecendo em qualquer canto do país. Se a garota fosse Madeleine, ela não teria passado despercebida já que seria muito cedo para ela ter aprendido a língua local fluentemente sem reverter ao inglês. Como consequência, ela seria o assunto das conversas na área onde ela está.

Bouchra Benaissa and family

Laila Lalami [en] compartilhou sua manchete predileta:

It comes from Le Matin, of all places: The Spanish discover the existence of blondes in Morocco.

Ela vem do Le Matin, dentre todos: Espanhóis descobrem a existência de loiros no Marrocos.

Chergaoui [fr] também fez gozação da ignorância dos espanhóis:

La fausse piste marocaine dans l’affaire Maddie… a permis aux Espagnols de découvrir qu’il y a des Marocains aux cheveux blonds et aux yeux clairs, comme le soulignent mercredi plusieurs journaux espagnols.

A pista falsa marroquina na saga Maddie… fez com que fosse possível para os espanhóis descobrirem que existem marroquinos de cabelos e olhos claros, como vários jornais espanhóis destacaram nessa quarta-feira.

Mas a melhor manchete do dia veio de Ghasbouba, cuja postagem no blogue teve como título “BWM: Blond While Moroccan” (LEM: Louro Enquanto Marroquino). Na entrada, ele diz:

It is really a shame and a pity that little Bouchra and her family are harassed by media and authorities just because she “might” have looked like another European person. Her family was called by the authorities. Her parents had to prove she was their daughter. I find this really strange, for lack a better word.
I wonder if the same acts of harassment would happen if “another Maddy-like blond little girl” is ‘seen’ in any places in Rural Alzas, Basque, Arizona, or Wales.

É uma verdadeira vergonha, e uma pena, que a pequena Bouchra e sua família sejam perseguidas pela imprensa e autoridades só porque ela “pode” ser parecida com outra pessoa da Europa. Sua família foi chamada pelas autoridades. Seus pais precisaram provar que se tratava da filha deles. Eu acho isso tudo muito estranho, falta um mundo melhor. Eu me pergunto se o mesmo assédio aconteceria se “outra garota loira parecida com Maddy” for ‘vista’ em qualquer outra área rural de Alzas, País Basco, Arizona, ou País de Gales.

Fonte da foto: Gulf Times

(texto original de Jillian York)

 

O artigo acima é uma tradução de um artigo original publicado no Global Voices Online. Esta tradução foi feita por um dos voluntários da equipe de tradução do Global Voices em Português, com o objetivo de divulgar diferentes vozes, diferentes pontos de vista. Se você quiser ser um voluntário traduzindo textos para o GV em Português, clique aqui. Se quiser participar traduzindo textos para outras línguas, clique aqui.

2 comentários

  • A matéria é muito relevante, não apenas ao ajudar a desfazer o terrível (e ridículo) mal entendido, como também para reiterar àqueles que não o sabiam que estereótipos étnicos frequentemente são equivocados…

    Abraços do Verde.

  • Alexandre Sousa

    Falou a voz da ignorancia. Se há uma chance da menina desaparecida ser encontrada, todos os meios devem ser usados para tal. Por que essa falta de simpatia pela familia que perdeu uma filha? Por que essa familia é branca? E num racismo anti-branco estão mais preocupados com algum inconveniente que a familia marroquina sofreu do que com a perda daquela familia inglesa. Esse comentario acima é muito infeliz e anti-branco. Uma criança siria achada morta é mais importante do que uma criança branca morta. Quando é que os europeus vão perceber que o resto do mundo é anti-branco.

Junte-se à conversa

Colaboradores, favor realizar Entrar »

Por uma boa conversa...

  • Por favor, trate as outras pessoas com respeito. Trate como deseja ser tratado. Comentários que contenham mensagens de ódio, linguagem inadequada ou ataques pessoais não serão aprovados. Seja razoável.