Guifi.net, a rede sem fios “faz-tu-mesmo” que é fenómeno de sucesso em Espanha

A qualquer momento em Espanha milhares e milhares de pessoas navegam pela Internet. Mas são cada vez mais aquelas que optam por usar um tipo de Internet paralela que permite evitar os custos elevados dos fornecedores de serviços de Internet comerciais e também fazer a ponte com lugares que antes não tinham acesso. 

guifi.net é uma rede aberta e neutra que pertence aos seus utilizadores. Através desta rede, uma comunidade de voluntários em crescimento pode ligar os seus computadores de forma a criar uma espécie de intranet ao mesmo tempo que partilha a própria ligação à Internet. Esta rede sem fins lucrativos é gratuita, tirando os custos do equipamento da rede, e qualquer pessoa pode juntar-se e usá-la como quiser. 

Actualmente a guifi.net tem mais de 23.000 nós activos [es], sendo que a maioria deles concentra-se na Catalunha, pela costa mediterrânica da Espanha, e os restantes um pouco por toda a Península Ibérica, apesar de muitos estarem tão longe quanto a Argentina, China, Índia, Nigéria, Estados Unidos e Iémen. 

Logotipo da guifi.net. O texto em catalão diz: "Corta os fios que te prendem. Uma rede livre para todos é possível."

Logotipo da guifi.net. O texto em catalão diz: “Corta os fios que te prendem. Uma rede livre para todos é possível.”

Descrita como a maior rede mesh do mundo deste tipo, a guifi.net começou no início dos anos 2000 como uma forma de trazer Internet de banda-larga às zonas rurais da Catalunha, onde os fornecedores de serviços de Internet (ISPs) comerciais não tinham ligações à disposição. Tudo começou quando o co-fundador Ramon Roca, um funcionário da Oracle na altura, não queria ter de fazer uma longa viagem de regresso a Barcelona só para ter acesso à Internet.

Roca, e outras pessoas com ideias semelhantes que sustentam o esforço da comunidade, travaram amizade com as autoridades locais que lhes deram permissão para colocarem equipamentos de rede em pontos estratégicos, tais como torres de igrejas, e assim o alcance da guifi.net foi-se expandindo.

Apesar de já ter passado uma década desde que a rede sem fios “faz-tu-mesmo” guifi.net foi criada como uma forma de levar a Internet a sítios onde não existiam fornecedores de serviços comerciais, a situação não melhorou muito, como explicou [es] Roca numa entrevista em 2010 ao site de notícias Eroski Consumer:

No comparto en absoluto la idea de “ofertas variadas”. Es lo que algunos quieren hacer creer a la ciudadanía para disuadir a nuevos competidores, pero la realidad es que hay poca oferta, de mala calidad y casi obsoleta.

Não partilho de todo a ideia das “ofertas variadas”. É aquilo em que alguns querem que os cidadãos acreditem de forma a dissuadir novos competidores, mas a realidade é que há muito pouca oferta, de má qualidade e quase obsoleta.

Ainda são necessárias alternativas em Espanha, um país que tem taxas de penetração mais baixas do que a média europeia. De acordo com dados da Eurostat, 68 porcento das casas tinham acesso à Internet em Espanha em 2012, um número que está bastante abaixo da média na União Europeia – 76 porcento – ao mesmo nível de países como a República Checa, Croácia e Itália. Espanha também tem algumas das ligações de banda larga mais caras da Europa, segundo um estudo elaborado pelo observatório das telecomunicações Ofcom.

A guifi.net ajuda os utilizadores a dividirem o alto custo da Internet de banda larga ao permitir que um grupo de famílias, por exemplo, faça um contrato com um ISP, estabeleça uma rede virtual privada (VPN), e partilhe a ligação através da guifi.net.

Os governos locais também estão a alinhar-se de forma a tirarem partido [es] da rede. Pequenos municípios como Avinyonet del Penedès [en], uma vila com pouco mais de 1.500 habitantes no sudeste da Catalunha, e Cabanes [es], uma vila com cerca de 2.900 habitantes ao largo da costa norte de Valencia, usam a guifi.net para levar acesso à Internet a residentes que normalmente não o teriam e apoiam a rede com a instalação de super nós que retransmitem o sinal sem fios. 

O esforço da comunidade tem sido tão bem sucedido que já foi possível acrescentar cabos de fibra óptica à rede, para além da infraestrutura sem-fios. Em 2010 a guifi.net assinou um acordo [es] com o governo regional da Catalunha para levar acesso à Internet a áreas rurais através de ligações de fibra óptica, começando na pequena cidade de Gurb.

A última localização a ligar-se à rede de fibra óptica foi o Hospital Geral de Vic [ca] no verão de 2013, no âmbito do esforço para ligar toda a área de Osona à Internet. “As grandes empresas não estão interessadas em fazê-lo e as pequenas não conseguem. Fazê-lo entre todos […] é a melhor e única forma”, disse Roca ao website El9Nou.cat.

No início de 2013, o banco espanhol Bankia doou três quilómetros [ca] de ligação de fibra óptica – que pertencera ao banco de poupanças Caja Laeitana, absorvido pelo conglomerado bancário – em Mataró na Catalunha à guifi.net.

Faz tudo parte do plano, disse Roca à openSUSE.org [en] em 2012, de construir uma “Internet para todos. O que significa ter uma rede alternativa como bem-comum à volta do mundo, independentemente de se chamar guifi.net ou não”.

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