Grafiteiros brasileiros e jovens sírios pintam muros juntos em campo de refugiados no Líbano

Uma escola pintada no campo dos refugiados sírios em Vale do Beca, Líbano. Foto da pagina do Facebook de Rimon Guimarães.

O campo de refugiados sírio em Vale do Beca, Líbano, onde vivem quase 1 milhão de refugiados, tem agora um toque de cor graças a um projeto que viu crianças sírias ajudadas por uma dupla de grafiteiros brasileiros chamada Cosmic Boys que decoraram uma escola com arte tecnicolor.

O evento chamado “Painting On Camps Walls” era parte de uma iniciativa maior chamada Cosmic Future, que quer usar a arte como uma ferramenta terapêutica com jovens sírios. Também estão envolvidos o Conexus Project, um coletivo de arte nômade; a Al Caravan, que organiza oficinas educativas, de entretenimento e culturais para crianças e adultos sírios deslocados; o Cosmic Boys, formado por Rimon Guimarães e Zéh Palito; a curadora Sheila Zago; e o documentarista francês Agathe Champsaur.

Eles lançaram uma campanha de angariação de fundos para o trabalho e estão compartilhando atualizações sobre o seu progresso no Facebook e no Youtube.

Suas motivações são abordadas abaixo:

In a moment of strong flux of immigration due international conflicts, people look for chances to survive, places to live – to wait or to start a brand new life. Many end living in non ideal conditions between refugee camps and settlements, where education is not easily accessed and children and teenagers often quit studying.

[…]

We believe that art can bring them some relief, perspective and skills to make their waiting less painful – as well as to give them a voice to express what they are experiencing, along with international visibility. Therefore, we aim to engage with children and teenager refugees living in these spaces, trying to turn their low life expectations into hope for a bright Cosmic Future!

Num momento de grande fluxo de imigração devido a conflitos internacionais, as pessoas procuram oportunidades para sobreviver, lugares para viver – esperar ou começar uma nova vida. Muitos acabam vivendo em condições não ideais entre campos de refugiados e assentamentos, onde a educação é de difícil acesso e crianças e adolescentes muitas vezes deixam de estudar.
[…]
Acreditamos que a arte pode trazer-lhes algum alívio, perspectiva e habilidades para fazer sua espera menos dolorosa, bem como dar-lhes uma voz para expressar o que estão experimentando, como também visibilidade internacional. Portanto, pretendemos nos envolver com crianças e adolescentes refugiados que vivem nesses espaços, tentando transformar suas expectativas de vida baixa em esperança de um brilhante Futuro Cósmico!

Zéh Palito (frente), Rimon Guimarães (centro) e Khaldoun Al Batal (fundo). Foto do Facebook do Conexus Project

Al Caravan

A Al Caravan faz arte, bem como outros esforços educacionais para os refugiados sírios desde 2013. A ideia da organização veio à luz um ano antes, quando a força aérea do regime sírio lançou bombas no estado de Idlib, no noroeste da Síria, durante o dia, forçando a fuga dos moradores da região, que tiveram de deixar temporariamente suas casas.

Khaldoun Al Batal, co-fundador da Al Caravan, contou à Global Voices a história completa:

We were two friends, myself and Kasem Hammad, who sensed the potential of a mobile location to restore the people goods while they are away from homes, ideally caravans which were quite distributed in that area for agriculture mini-projects. So we ask one manufacturer to fabricate a special “Magic Caravan” for the kids activities. Our joint was broken when my friend killed in a Syrian forces raid, but I insisted to continue the project.

In January 2013, Al Caravan dedicated itself to roam the remote areas for displaced families’ children basic learning, education, and entertainment activities. It's not a replacement for the school, but a kind of reinforcement of the civil society. The team grown to 15 activists serving around 1,500 boys and girls in three Syrian provinces countrysides, Idlib, Aleppo and Latakia. Nowadays, Al Caravan is acting in several areas in Syria and some refugees camps in Turkey, Lebanon and even Germany.

Éramos dois amigos, eu e Kasem Hammad, que sentiam o potencial de um local móvel para restaurar os bens das pessoas enquanto estavam longe de suas casas, idealmente caravanas que estivessem bem distribuídas naquela área para miniprojetos agrícolas. Nós pedimos que um fabricante desenvolvesse um “Magic Caravan” especial para as atividades das crianças. Nossa colaboração foi interrompida quando meu amigo morreu num ataque de forças sírias, mas eu insisti em continuar com o projeto.

Em janeiro de 2013, a Al Caravan dedicou-se a percorrer áreas remotas para promover aprendizagem básica, educação e atividades de entretenimento para crianças de famílias refugiadas vivendo em áreas remotas. Não é uma substituição para a escola, mas um tipo de reforço da sociedade civil. A equipe cresceu para 15 ativistas servindo cerca de 1.500 meninos e meninas do interior de três províncias sírias: Idlib, Aleppo e Latakia. Hoje em dia, a Al Caravan atua em várias áreas na Síria e em alguns campos de refugiados na Turquia, no Líbano e até na Alemanha.

Apesar de ter um orçamento limitado, a Al Caravan reuniu uma equipe de cerca de 100 voluntários dentro e fora da Síria, combinada com ativistas do campo educacional, para oferecer sua experiência e trabalho para crianças sírias e usar as mídias sociais para se comunicar com o mundo exterior.

Os objetivos do projeto são criar uma geração que aprecie as artes como uma parte essencial da construção da personalidade das crianças longe da violência, assim como prestar apoio psicológico.

O trabalho de cerca de 3.000 crianças participantes dessas pinturas foi exibido em Paris e em Montreal, com planos para treinar 25 meninos e meninas para apresentar um show sobre os direitos das crianças da ONU com canções solistas e folclóricas.

Em um post recente no Facebook, Zéh falou sobre sua visita a Damasco, Síria, para pintar mais paredes de esperança:

Síria Dia 4 | Em meio à guerra começamos a pintar nosso mural no centro da capital do país. Um dia muito importante na minha vida pela importância que este mural carrega e por toda a situação que este país enfrenta. Sem querer ser pretensioso, mas talvez também seja um dia muito importante para este momento em que vive o país. O estopim que deu início à guerra no país em 2011 foi um graffiti feito por adolescentes. Hoje, 2017, estamos aqui pintando um mural com o objetivo de espalhar amor e esperança através da arte.
Se conseguirmos cumprir nossa missão de pintar esse mural sem nenhum problema esse mural será o maior mural de pintura do país. Algo que nos incentiva muito e nos dá energia para continuar pintando em meio a todos os riscos que corremos e toda a dificuldade que enfrentamos para estar aqui. Detalhe: chegamos no país de carro blindado e pintamos com segurança armada.

Os sírios no geral são pessoas bem receptivas, muito amigáveis, sempre nos tratando da melhor maneira possível. Nas ruas muitos militares armados, revistas de carros e pessoas em todas avenidas e vários pontos estratégicos da cidade. Barulhos de bomba, aviões, tiros durante o dia que se intensificam à noite. Acho que agora conseguimos “abstrair” os barulhos da guerra que acontece a 6 km da onde estamos. A tensão está em todos lugares mas a alegria também. Algo difícil de explicar.
A cidade velha é magnífica cheia de histórias, o mercado, a arquitetura, a comida tudo muito único. O povo lindo e amoroso apesar de todos os pesares.
Hoje o secretário da cultura do país fez um discurso público lindo dizendo que nós carregamos “armas”…nossos pincéis trazendo esperança.
#cosmicboys #conexusproject #peace
❤️❤️❤️❤️❤️❤️

Uma escola pintada em Vale do Beca. Foto da pagina do Conexus Project no Facebook

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