China: Prostituição, Realidade, Hipocrisia e Vidas Humanas

À medida que em páginas de jornalismo online, plataformas de televisão online, anúncios, propagandas e praticamente todos os aspectos da vida contemporânea dos chineses aumentam constantemente a presença e quantidade de imagens sexualizadas de mulheres (por exemplo, a imagem  sexualizada que se vê abaixo foi retirada da secção de mulheres da revista QQ), uma recente operação repressiva contra prostituição e pornografia está a afectar várias das maiores cidades da China.

Durante o recente Campeonato Mundial 2010 na África do Sul, apareciam diariamente nos meios de comunicação, novas imagens  de mulheres semi-nuas em poses sugestivas com descrições como “carne perfumada”  e  “queridinhas sensuais do futebol“, representando as mulheres como fonte de excitação sexual.

A verdadeira sexualidade humana

Certamente, o corpo feminino, a sexualidade feminina e a sexualidade em geral, ainda bem não são vistos com negatividade. A representação do erotismo ou a sexualidade fazem parte da natureza humana e vêm de longe, e a China não é com certeza o primeiro país ou a primeira sociedade a lidar com a questão da sexualidade (nem é a primeira vez que este assunto vem ao de cima na longa história da China).

Na verdade, cada sociedade já existente, seja na Europa ou na América, precisou lidar inevitavelmente com a natureza da sexualidade dentro da sua cultura e entre indíviduos. As questões, especialmente à luz do fenómeno contemporâneo da comunicação em massa, lidam simplesmente com velhos temas à luz de uma nova perspectiva.

A profissão mais antiga

A prostituição é designada como a “profissão mais velha do mundo”, mas fora de alguns países ou de algumas jurisdições permanece um dos maiores tabus e uma das formas mais degradantes para se ganhar a vida.

Enquanto que o debate sobre a moralidade da prostituição é interminável e, em última análise pessoal e subjectivo, há uma constante procura por prostitutas que nunca termina. As mulheres (e, num grau mais baixo, os homens) têm, são e sempre estarão a ser procuradas como fontes de gratificação sexual e objectos de excitação para satisfação de fantasias e desejos.

E é aqui que entram questões urgentes relacionadas com a sexualidade, identidade, propriedade, cultura e sociedade.

Sexo, Sexualidade, Economia e Propriedade

Quem possui a sexualidade e o corpo de uma mulher? Idealmente poderíamos dizer ninguém, contudo no mundo real a resposta é outra: qualquer um que reinvindique a sua posse com o maior poder de defesa da reivindicação – geralmente às custas e negação da própria mulher.

Seja a família, um namorado, marido, agência de modelos/publicidade, a indústria da música/filmes, religião, um proxeneta ou o próprio governo, alguém ou alguma coisa está constantemente a reclamar propriedade e/ou o controle de alguma mulher, do seu corpo, da sua sexualidade, reprodução, mente, relações e escolhas – e é quase sempre alguém ou alguma coisa com mais poder do que o que ela tem individualmente.

Economicamente, o corpo feminino e a sexualidade feminina são bens valiosos. Independentemente de se gostar ou não da redução da existência feminina a um bem económico, este processo é real e constante em todas as sociedades pelo planeta fora, quer seja em forma de camelos, vacas, ovelhas ou cavalos em algumas regiões, sociedades e culturas ou contratos em troca de dólares, euros, iénes ou yuan ou outros.

A beleza feminina e a sexualidade são usadas para a venda de absolutamente tudo e qualquer coisa, desde o detergente da loiça aos automóveis, desodorizantes, cerveja ou mesmo a própria vida familiar. As mulheres que têm padrões de beleza e  sexualidade adequadas são procuradas para, sob várias formas, utilizarem e explorarem diferentes produtos comerciais através e graças às suas imagens.

Uma forma diferente de apelo e imagem sexual será usada mais vezes para se venderem automóveis, cerveja e desporto em comparação com produtos do lar, mas irá igualmente englobar uma utilização de apelo físico e sexual em vários níveis. As próprias mulheres são encorajadas a se auto-sexualizarem e a se deixarem ofuscar pelas aparências, quase canibalisticamente, por meios de transformação cada vez mais sexualizadas, por formas fisicamente atraentes para o consumo de outras pessoas, corporações e indústrias.

Fazem-se  lucros enormes à conta e através das mulheres, dos seus corpos, imagem e sexualidade e é neste ponto que as questões ligadas à criminalização da prostituição se levantam: se é aceitável para os negócios e para a indústria (e eventualmente através da estrutura fiscal do governo também) explorar, usar e lucrar com a sexualidade feminina… porque é que é crime quando as mulheres o fazem individualmente? Se é crime uma mulher lucrar através da exploração e utilização do seu próprio corpo, porque é que as corporações que fazem vastas somas de dinheiro, directa ou indirectamente através da exploração da sexualidade feminina, incluindo até a utilização de meninas através de meios não-explícitos e ainda assim sexuais, não são consideradas criminosas?

Repressão, Criminalização e Controle

As sociedades são organizações intrinsecamente baseadas na aplicação de controle sobre indivíduos para ganhos colectivos. É basicamente impossível os indivíduos terem absoluta liberdade pessoal e individual dentro de uma sociedade ou ter uma sociedade feita de indivíduos com controle absoluto e sem controle central. Portanto, as sociedades lutam para regular o nível em que existe um ponto de equilíbrio flutuante entre liberdade e obrigação – demasiadas obrigações e o indivíduo sentir-se-á preso e oprimido, por outro lado, demasiada liberdade e a sociedade não conseguirá funcionar de forma coesa para a manutenção das suas funcionalidades necessárias.

Quando se fala em sexo e sexualidade, o assunto é o mesmo – demasiada liberdade sexual e o que acontece é a disseminação de doenças e de gravidez para aquelas que não querem levá-la a bom termo e serem mães. Já o oposto, repressão sexual em demasia (especialmente a um nível cultural em larga escala) provoca danos psicológicos e emocionais que podem conduzir a problemas físicos, de relacionamento e auto-abuso, bem como à incapacidade ou ao prazer de desfrutar de relações humanas e sexuais normais, ainda que dentro de normas de relacionamento socialmente aceitas.

Como tal, esta pressão cirúrgica da estimulação artificial da sexualização, excitação e desejo para efeitos de lucros económicos, por um lado, e de repressão social do comportamento sexual humano, por outro (geralmente encorajados ou até mesmo promovidos por agências religiosas e/ou governamentais), comprime a humanidade em cada membro da sociedade neste vício de extremos incompatíveis, que resulta em traumas psicológicos e emocionais que por si só circulam no mundo físico dentro das relações que as pessoas têm entre si e com os outros.

我首先认为应当尊重性工作者,她们用青春换取金钱,用辛苦的劳动换取报酬,这是无可厚非的,她们比她们的顾客,要高尚得多,即使大家都是不合法的。无疑,嫖客比女性性工作者多,并且大多是拿着不合法的钱来消费的,这个不合法跟她们的不合法不同,他们所做的,或许在整个世界范围内都是不合法的,而她们的行为和收入则不是。

Devo começar por dizer que acredito que as trabalhadoras do sexo devem ser respeitadas; elas trocam a sua juventude por dinheiro, fazem um trabalho duro para ganharem uma recompensa, não existem razões para críticas nisto. Em relação aos seus clientes elas deviam ser tidas em grande conta, mesmo que o que façam seja ilegal. Não existem dúvidas que os consumidores de prostituição ultrapassam em larga maioria o número de trabalhadoras sexuais e a grande maioria dos clientes usa dinheiro ganho ilegalmente, embora esta ilegalidade e a praticada pelas trabalhadoras do sexo não seja a mesma, uma vez que os clientes estão a realizar actividades ilegais, se calhar o mundo inteiro está a realizar actividades ilegais, mas o que as trabalhadoras do sexo fazem não é ilegal.

“Unequaled on Earth” (不可一世) Observando a repressão contra pornografia e outros  (关于扫黄以及其他…)

Embora não seja o objectivo deste artigo desculpar (ou condenar) profissionais do sexo, a opinião deste blogueiro se enquadra na discussão porque apesar da procura por profissionais do sexo criar-lhes ocupação (na qual muitas das vezes são forçadas a entrar – muitas e senão a maioria das profissionais do sexo não são total e voluntariamente empregues), são geralmente as mulheres que fazem o trabalho e não os clientes que exigem os seus serviços que são postos à lupa do escrutínio e da vergonha do ponto de vista legal e social.

酒后驾车、公共场所撒野、吸毒、乱伦、嫖娼等种种恶习,在娱乐圈不少的明星眼中似乎都算不上什么大事。所谓饱暖思淫欲,不差钱的明星们,既有嫖的本钱,更有嫖的闲心。

Beber e conduzir, má educação em público, consumir drogas, a imoralidade e visitar prostitutas são, aos olhos de muitas estrelas do círculo de entretenimento, vícios de pouca importância. Os ricos, chamados de  celebridades, apreciam passar o tempo visitando prostitutas.

007 26 cidades encaram a pornografia como um inventário de círculos de entretenimento e recrutamento de prostitutas por parte de estrelas masculinas, (26市集体扫黄 盘点娱乐圈"招妓嫖娼"的男星)

“扫黄”整体还远未进入“深入区”。为什么?因为查黄却不涉黑、涉腐(而这是绝不可能的,因为黄不可能没黑保护和参与,而对黑来讲,警方若说不知道那是渎职,警方知道了没办,那是庇护。所以怎么看,都说明很大的问题)。从目前披露的“扫黄”成绩看,类似北京整顿高级夜总会“天上人间”、重庆突查“希尔顿酒店”仍是个别例子。

O caminho para a erradicação da pornografia é longo até que se possa dizer, acabou. Porquê? Porque ainda não se examinam os gangues, a corrupção profunda (e nem dá para fazê-lo porque a pornografia e a prostituição não podem existir sem a protecção e participação do crime organizado e, no que toca ao crime, a polícia não está a fazer o trabalho que lhe compete e mesmo que pudessem, nada poderiam fazer porque os gangues estão sob protecção. Como resultado, é tudo um grande problema). Ao analisar o anúncio público actual da conquista referente à “limpeza da pornografia”,  a limpeza que Pequim fez  ao clube nocturno “paraíso dos cavalheiros”, frequentado pela classe alta e aos “Bares Hilton” trata-se aparentemente de simples casos individuais.

185519734 sobre à última ação de limpeza de conteúdo pornográfico (关于最近的扫黄)

O ciclo vicioso

E assim vemos a ilustração da demanda cíclica por mulheres como objectos sexuais tanto por parte de clientes privados procurando a satisfação de desejos pessoais, bem como da indústria privada que utiliza a sexualização das mulheres para atrair interesses e vender os seus produtos, o envolvimento de gangues criminosos no recrutamento e coerção  de mulheres e meninas para as fileiras das trabalhadoras do sexo, e tanto pelos lucros que se fazem à custa destes esforços legais e ilegais – mas quem suporta a culpa aos olhos da sociedade e da lei?

A China está a passar pela hiper modernização da sua cultura e sociedade e por um grande fluxo de imagens e ideias fora das suas normas tradicionais de sexo. Pornografia japonesa, coreana e também americana circulam pela rede. Seguindo os passos dos meios de comunicação europeus, americanos e sul-americanos, a mídia de massa chinesa continua a aumentar a saturação de mulheres sexualizadas com ligação a qualquer circunstância imaginável. Existe a ideia de que as mulheres chinesas precisam estar a par sexualmente tanto em termos de actividade como de porporções físicas. Acrescente-se a insegurança da mulher chinesa em relação a esta ideia, que se vai entranhado lentamente nas mentalidades.

A hipocrisia na culpabilização das vítimas

Embora a prostituição não seja provavelmente a melhor forma de emprego e enquanto a demanda por trabalhadoras do sexo for perpetuada por clientes endinheirados, alimentada obliquamente pela super saturação de imagens sexualizadas difundidas pelos meios de comunicação, protegida pelo crime organizado, pelas falhas das autoridades e do governo, e já que todas as instituições lucram graças a mulheres e meninas que fazem efectivamente o trabalho, parece bastante injusto e até mesmo hipócrita culpar e dirigir a violência para as pessoas que menos têm a ver com assuntos maiores.

O sexo e o desejo são parte da realidade. Tentar controlar e suprimir a capacidade das pessoas de expressar e  experienciar os seus próprios sentimentos naturais por um lado enquanto se hiper estimula e glamoriza artificialmente o consumo conspícuo da sexualidade por outro lado, traz à tona contradições incompatíveis aos membros da sociedade e às pessoas apanhadas no meio de forças poderosas no trabalho, que não deveriam arcar com a culpa e a dor.

我叫露露,今年20岁,说我有职业,确实没有一个正当职业,是失业大军中的一员,说我没职业,也还有事可做的,每天常去夜总会、洗浴中心、星级宾馆那些地方。一听你就会明白,这种职业是很难听的,就是做**,香港叫“鸡”,咱们这则尊称我为“小姐”。­

不埋怨爸妈,这是我自己的选择­

我长的挺漂亮的,虽然比不上影星模特,但走在大街上,男人们都会不由自主地看我几眼。你们看见我,也许会爱上我的,但你肯定不会娶我,因为我没工作,家庭又是个特困户,妈妈有病,爸爸下岗,靠零工养活全家。即使这样,我也非常感谢爸爸妈妈,是他们给了我一张漂亮脸蛋和一副好身材。如果我是个丑女,恐怕现在连饭都吃不上。真的,我从不埋怨爸妈,是我自己选择了这条路。­

前年我高中毕业,和同学们一样也复习,也报考,还真的考上了,虽说是二表的一般学校,但毕竟是大本。但一看通知书就傻眼了,学费加上其他各种费用一共一万多元,就是把爸妈的骨头砸碎卖了,也凑不够这笔钱。我痛哭了一场,偷偷地把录取通知书撕掉了。我对爸妈就说没考上,并问爸爸,能不能想法给我找个工作。爸爸说,我自己都下岗了,上哪给你找工作去?自己想办法谋生吧。

O meu nome é Lulu, faço 20 anos este ano. Posso dizer que tenho uma profissão quando na realidade não tenho uma profissão oficial. Faço parte do grande exército de desempregados para dizer que estou desempregada. Ainda há algo que posso fazer. Vou todos os dias a clubes nocturnos, a casas de celebridades da alta esfera, esse tipo de sítios. Já deves saber a que me refiro, esta profissão é realmente vergonhosa, ser uma **. Em Hong Kong chamam “garota”, aqui chamamos de “irmãzinha”.

Não me queixo dos meus pais, esta escolha é minha.

Sou muito bonita, talvez não como uma estrela de cinema ou uma manequim mas quando estou na rua, os homens não conseguem evitar olhar para mim. Se me visses, talvez te apaixonasses por mim embora não te casasses comigo, porque não tenho emprego e a minha família não vive a melhor das circunstâncias. A minha mãe está doente e o meu pai desempregado, ele depende do trabalhos em meio-período para sustentar a família. Ainda assim, sou muito grata aos meus pais porque deram-me um rosto bonito e um corpo jeitoso. Se fosse feia viveria aterrorizada pela ideia de não ser capaz de arranjar comida. Nunca culpo os meus pais, a escolha é minha.

O ano anterior à minha graduação da escola secundária, estudei com os meus colegas, fiz os exames e passei apesar de ter frequentado uma escola normal de segunda categoria, mas afinal tive uma base sólida. Mas quando vi a carta de aceitação fiquei siderada. As taxas de admissão adicionadas a outras taxas davam um total de 10.000. Se vendesse os ossos em cinza dos meus pais ainda assim não teria o suficiente. Chorei de imenso, guardei segredo sobre a carta de admissão e rasguei-a. Disse à minha mãe e ao meu pai que não tinha passado e cheguei a pedir ao meu pai que me arranjasse um trabalho. Ele disse, “Como é que posso arranjar-te um trabalho, se estou desempregado?”. Por isso tive de encontrar uma maneira de achar um emprego.

Mr. Right A “irmãzinha” após a limpeza pornográfica (“小姐”进了扫黄局后 )

Vidas individuais, razões individuais

Cada uma tem as suas razões e há aquelas que puderam de facto escolher (já que muitas são forçadas não só pelas circustâncias mas por meios violentos e ameaças) mas os resultados são os mesmos. Reprimir as mulheres enquanto se permite que os gangues, indústrias corporativas, celebridades e empresários endinheirados se mantenham intocáveis e longe de quaisquer responsabilidades é um retrocesso e uma forma inútil de tentar lidar com o problema.

Castigar as prostitutas enquanto se deixam os clientes e traficantes à vontade é como querer parar as ondas do mar. Fazem-se pequenas observações quando se deveria lidar com a raiz do problema.

Num mundo ideal ninguém precisaria ou seria forçado a vender o seu corpo e a sua sexualidade para sobreviver, mas por enquanto vivemos a realidade que exige corpos e sexo, castigando as pessoas que são usadas para satisfazer essas exigências e deixando livres os que as criam e utilizam corpos alheios para sua própria satisfação e lucro. Deste modo as coisas permanecerão na mesma.

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