Capacidades sem limites: conheça os paralímpicos da Geórgia

Foto da nadadora Lika Chachibaia por Maurice Wolf.

A versão que segue é de uma publicação em parceria escrita por Ana Lomtadze e com fotos de Maurice Wolf que apareceu pela primeira vez no site Chai-Khana.org.

Na Geórgia, pessoas com deficiência, que em georgiano se traduz literalmente como “pessoas com capacidades limitadas”, enfrentam uma crescente e difícil batalha diária contra o estigma e atitudes negativas. No entanto, a Geórgia orgulha-se do seu próspero momento paralímpico e por estar formando atletas capazes de ganhar premiações significativas, como Irma Khetsuriani e Nina Tibilashvili, que conquistaram medalhas de ouro e bronze, respectivamente, no Campeonato Mundial de Esgrima em Cadeira de Rodas na Itália em 2017.

Foi um início lento. O Comitê Georgiano Paralímpico foi fundado em 2003, e o país enviou seus primeiros atletas para competir nos Jogos Paralímpicos de 2008, em Pequim. Em 2013, o Centro de Desenvolvimento Paradesportivo foi aberto em Tbilisi e, dois anos mais tarde, expandiu-se com uma nova instalação de treinamento e de fisioterapia. Atualmente recebe 194 atletas de todo o país, dos quais 18 são mulheres, e conduzem treinamentos em 16 modalidades diferentes.

Este projeto fotográfico retrata alguns dos para-atletas da Geórgia, dando destaque a este grupo diversificado de homens e mulheres. Alguns deles já são atletas experientes; outros, iniciantes, alguns ganharam medalhas, outros não. Com interesses que vão de criminologia até música popular, suas histórias são histórias de superação, foco inabalável e o sonho de competir nas Olimpíadas de Tóquio em 2020.

Giorgi Basilashvili, 24, jogador de futebol

I have been playing football for years. That’s where I lost my eyesight, on a football pitch, at 13, while playing with my friends. The ball hit me in the face. I always had poor vision but I actually turned blind after that incident.

I joined the Blind Football Association in 2014. Since then I have traveled to many different countries. For me, the most memorable trip was to Romania in April 2017, to the European Championship qualifying tournaments. Our team got a silver medal and I was awarded the best goalscorer title.

Apart from football, I am passionate about folk music. I studied folk music and religious chants at university. After graduation my friends and I founded a band called “The Relic”, whose singers, except one, are all blind. We’re now preparing for a concert in Greece.

Eu jogo futebol há anos. Num campo de futebol, aos 13 anos de idade, enquanto jogava com meus amigos, a bola bateu no meu rosto e foi então que perdi minha visão. Sempre tive deficiência visual, mas foi após este incidente que fiquei cego.

Entrei para a Associação de Futebol para Cegos em 2014. Desde então, viajei para muitos países diferentes. A viagem mais memorável que fiz foi para a Romênia em Abril de 2017, para os torneios de qualificação do Campeonato Europeu. Nosso time ganhou a medalha de prata e fui premiado com o prêmio de artilheiro.

Além de futebol, sou apaixonado por música popular. Estudei música popular e cantos religiosos na universidade. Depois que me formei, meus amigos e eu fundamos uma banda chamada The Relic, cujos cantores, com exceção de um, são todos cegos. Nós agora estamos nos preparando para uma apresentação na Grécia.

Nina Tibilashvili, 20, esgrimista

I was born with a missing leg and have been using prosthetics for most of my life. I have been engaged in fencing since 2015. Three months after I started, I participated in my first fencing competition. I normally compete with up to 23-year-olds or sometimes even with older fencers.

I got my first bronze medal in 2016 at a competition in the United Arab Emirates. The same year I won two bronze medals and one silver one in The Netherlands. In early 2017, I got two bronze medals, one at Italy’s World Cup and another one in Hungary. I am currently preparing for a tournament in the Netherlands, which will be held from May 10-14.

I am passionate about everything that has to do with art. I am currently studying architecture at the Art Academy in Tbilisi.

Eu nasci sem uma perna e tenho usado próteses durante a maior parte da minha vida. Estou envolvida com a esgrima desde 2015. Três meses depois que comecei, participei da minha primeira competição. Normalmente compito com esgrimistas de até 23 anos de idade, às vezes, mais velhos.

Ganhei minha primeira medalha de bronze em 2016 em uma competição nos Emirados Árabes Unidos. No mesmo ano, ganhei duas medalhas de bronze e uma de prata na Holanda. No início de 2017, ganhei duas medalhas de bronze, uma na Copa do Mundo da Itália e outra na Hungria. Estou me preparando para um torneio na Holanda, que será disputado de 10 a 14 de Maio.

Sou apaixonada por tudo que envolva arte. Atualmente estudo Arquitetura na Academia de Arte de Tbilisi.

Lika Chachibaia, 20, nadadora

I started swimming in 2015. In 2016, I participated in the Rio Olympic Games but did not secure any medals. Unfortunately, I am the only one competing for Georgia in the S8 SB7 category – for swimmers with an amputation of one arm or significant restrictions across hip, knee and ankle joints. I often have to compete against those who are much more experienced than me…I hope to participate in the 2020 Olympic Games and improve my standing.

I have very diverse interests. My main passion is dancing; in 2015 I even participated in Georgia’s Got Talent as a dancer. But I am also interested in criminology, which I pursued for two years at the Tbilisi Teaching University. I left because I could not pay the tuition.

I truly believe that there is no such thing as ‘limited abilities’.

Comecei a nadar em 2015. Em 2016, participei dos Jogos Paralímpicos do Rio, mas não ganhei nenhuma medalha. Infelizmente, sou a única competidora pela Geórgia na categoria S8 SB7 (para nadadores com a amputação de um braço ou restrições significativas nas articulações do quadril, joelho e tornozelo). Muitas vezes tenho que competir contra adversários mais experientes do que eu… Espero participar dos Jogos Olímpicos de 2020 e melhorar a minha posição.

Tenho interesses variados. Minha principal paixão é dançar; em 2015, eu até participei do ‘Georgia’s Got Talent’ como dançarina. Mas também tenho interesse em criminologia, que cursei por dois anos na Universidade de Enisno de Tbilisi. Deixei o curso porque não pude mais pagar as mensalidades.

Eu realmente acredito que não há ‘capacidades limitadas’.

Giorgi Giorgadze, 36, halterofilista

I have always been into wrestling but picked up weight-lifting only in 2015. Since then I have acquired a new nickname – ‘The Weightlifter’.

Thus far I have participated in the Dubai World Cup, in March 2017, where I received a certificate. I did not get any medals at the championship. I am now looking forward to participating in the 2018 Paris Tournament. My main goal, though, is the 2020 Olympic Games.

I got injured at 21. I was cutting trees for firewood in a forest outside of Tbilisi when a tree fell on me. My spine was severely injured and I have not been able to walk ever since.

Sempre pratiquei luta livre, mas comecei no halterofilismo somente em 2015. Desde então, adquiri um novo apelido – ‘O Levantador de Peso’.

Até aqui, participei da Copa do Mundo de Dubai em março de 2017, onde recebi um certificado. Não consegui nenhuma medalha no campeonato. Aguardo ansioso por participar do Torneio de Paris em 2018, embora meu principal objetivo seja os Jogos Olímpicos em 2020.

Aos 21 anos de idade estava cortando árvores para obter lenha numa floresta fora de Tbilisi, quando uma árvore caiu sobre mim. Minha coluna ficou gravemente comprometida, e desde então, não pude mais andar.

Tea Bolkvadze, 42, arqueira

I started arching in October 2015. In November of the same year I took part in the Tbilisi Championships where I managed to get the third place. But I feel mostly proud of the 2017 Tbilisi championships where both olympians and paralympians participated – I managed to get second place. It was a real challenge to compete against such experienced archers — this really was a critical experience for me.

I am determined to qualify for the 2020 Olympic Games. Until then, I plan to participate in the 2017 Georgian Championships in Arching and then later to compete in the European Championship in Italy.

I lost the ability to walk in 2014, while accompanying my son on a school trip. While visiting one of the sites I was taking pictures on a terrace, which suddenly collapsed. I received a severe spine injury. I did physiotherapy for a year but had to start using a wheelchair.

In 2015, I learned about the Wings for Life World Run [a global running competition held for charity since 2014]. My physiotherapists helped me prepare for it and I won the run among female wheelchair users – I was able to cover 6,8 km in 30 minutes This achievement truly was a turning point in my life. It further motivated me to also participate in the 2016 edition – and that time I covered 7.3 kilometres.

I am a doctor. Before the injury I worked in the Emergency room in Gardabani, [a town 39 km south of the capital Tbilisi]. Now I work as a receptionist at the Tbilisi Parasport Development Centre.

Comecei no tiro com arco em outubro de 2015. Em novembro do mesmo ano participei do Campeonato de Tbilisi, onde consegui o terceiro lugar. Mas sinto mais orgulho dos campeonatos de Tbilisi de 2017 onde ambos, atletas olímpicos e paralímpicos participaram. Consegui o segundo lugar. Foi um grande desafio competir contra arqueiros tão experientes, esta foi realmente uma experiência marcante.

Estou determinada a me classificar para os Jogos Olímpicos de 2020. Até lá, planejo participar do Campeonato Georgiano de Tiro com Arco de 2017 e então, mais tarde, competir no Campeonato Europeu na Itália.

Perdi a capacidade de andar em 2014 ao acompanhar meu filho numa viagem da escola. Ao visitar uma das instalações, eu estava tirando fotos em um terraço, que de repente desabou. Fiquei com um grave ferimento na coluna. Fiz fisioterapia por um ano, mas tive que começar a usar cadeira de rodas.

Em 2015, conheci o “Wings for Life World Run” [uma competição de corrida global realizada por um instituto de caridade desde 2014]. Meus fisioterapeutas me ajudaram a me preparar e ganhei a corrida entre as mulheres que usavam cadeira de rodas. Eu estava pronta para completar 6,8 quilômetros em 30 minutos. Esta conquista foi realmente o que mudou a minha vida. Isto me motivou ainda mais a participar da edição de 2016, e então, eu completei 7,3 quilômetros.

Sou médica. Antes do acidente, eu trabalhava na sala de emergência em Gardabani, [uma cidade localizada 39 quilômetros ao sul da capital, Tbilisi]. Hoje, trabalho como recepcionista no Centro de Desenvolvimento Paradesportivo de Tbilisi.

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