Brasil: Blogs aquecem o debate global sobre o etanol

O etanol de repente se transformou em uma palavra popular entre os blogueiros brasileiros, especialmente pela atenção externa que atrai. De fato, ‘álcool’ é a palavra utilizada no Brasil para nomear o bio-combústivel derivado da cana-de-açúcar desde os anos 70, quando foi iniciado o Proálcool, mas blogs certamente sofrem influências do debate global. Com a viagem do presidente Lula para participar de uma conferência internacional sobre bio-combústiveis patrocinada pela União Européia na semana passada, alguns blogs estão rastreando a cobertura da mídia global sobre o tema ‘ethanol’, e reagindo a ela.

Uma reportagem do jornal espanhol “El Mundo” diz nesta sexta-feira que a União Européia não quer “álcool sujo” do Brasil. O termo é uma referência à desconfiança do bloco dos 27 em relação às práticas de cultivo de açúcar brasileiras, vistas por líderes europeus como potencialmente danosas ao ambiente. (…) A desconfiança em relação ao álcool brasileiro foi manifestada também pelo italiano “La Repubblica”, que recordou a recente libertação de 1.106 trabalhadores forçados de uma fazenda de cana-de-açúcar no Pará. Segundo o jornal, Lula – descrito como o líder “que faz o papel de apóstolo dos biocombustíveis”– “não disse [em Bruxelas] que as duas notícias estão interligadas”. (Folha Online) ** “Deputado europeu acusa Lula de levar Brasil à insustentabilidade”. O deputado europeu David Hammerstein, do Partido Verde, afirmou nesta quinta-feira que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “está levando o Brasil por uma estrada de insustentabilidade” com os biocombustíveis e que a União Européia não deve financiar a “destruição ambiental brasileira”. “A UE deve dar prioridade à alimentação e não ao transporte”, afirmou Hammerstein em um comunicado. A fala do deputado foi divulgada ao mesmo tempo em que Lula tratava de convencer os líderes europeus de que o aumento na produção de biocombustíveis no Brasil não representa nenhum risco ambiental ou social.”
Répilcas ao Alcoolismo
A Nova Corja

Pois é. O Lula veio todo com aquele papo de que “o etanol é a saída para o Brasil, é a o combustível do futuro”… É, Lula. É. Mas, primeiro, você tem que ter quem compre. E, do Brasil, a Europa não quer comprar. Porque? Ora, simples, porque eles têm que, pelo menos, parecer ecocertos. Então, o que eles vão fazer? Não comprar etanol brasileiro porque nossos meios de cultivo 1)envolvem trabalho escravo e 2)destróem o meio ambiente. Sinceramente? Certos eles. Não sou crítico do governo Lula mais do que sou crítico do FHC, mas, de fato, nessa o Lula pisou na bola. O que ele esperava? Fechar os olhos para devastarem(mais) a Amazônia e plantar cana, esperando que desse certo? Deixar fazerem o que sempre fazem, não só com a cana, com os trabalhadores?
Agora o Lula sentouBlog do/a Lus/z


A cobertura da mídia no tema
nos conta do acalorado debate sobre a possibilidade do etanol ser uma solução viável para a crescente demanda global por energia limpa, e a posição de destaque do Brasil neste debate é facilmente explicada pelas projeções que colocam o país como responsável por 70% das exportações globais de etanol em 2013. Lula tem trabalhando duro para vender a solução brasileira tanto para líderes de países desenvolvidos como em desenvolvimento, afirmando que o modelo econômico dos bio-combustíveis, se corretamente desenhado em termos ambientais, favorece o surgimento de um novo equilíbrio entre países ricos e pobres.

Estranho como possa parecer, Lula não está sendo apoiado desta vez por seus aliados de costume dentre os líderes globais de esquerda, e estas vozes estão denunciando de forma contundente os possíveis danos que a revolução dos bio-combustíveis pode causar à produção mundial de alimentos. Enquanto isso, blogueiros locais estão denunciando falhas nos aspectos ambientais da argumentação que o presidente apresentou na conferência em Bruxelas.

Diante de uma platéia que reuniu ministros, estudiosos, empresários e organizações não governamentais, o presidente negou as maiores preocupações levantadas em relação ao aumento da produção de biocombustíveis no Brasil. “A experiência brasileira mostra ser incorreta a oposição entre uma agricultura voltada para a produção de alimentos e outra para a produção de energia. A fome no meu país diminuiu no mesmo período em que aumentou o uso dos biocombustíveis. O plantio de cana-de-açúcar não comprometeu ou deslocou a produção de alimentos”, afirmou. “Todos sabemos que não há escassez de alimentos no mundo, mas escassez de renda capaz de garantir o acesso das populações mais pobres ao que comer. Não estamos aqui escolhendo entre comida e energia.” Contra as críticas de que a expansão da produção de cana-de-açúcar poderia ameaçar a floresta amazônica, Lula disse que “o cultivo da cana no Brasil ocupa menos de 10% da área cultivada do país, ou seja, menos de 0,4% do território nacional”.
“Essa área, é bom que se diga, fica muito distante da Amazônia.”
Lula tenta afastar remores europeus sobre biocombustívelDireitodoEstado.com

Há, na repercussão que o álcool combustível suscitou na Europa, a incrível coincidência de se somar ao combate que Fidel Castro abriu contra os biocombustíveis. Entretanto, a preocupação dos países ricos é com a preservação do meio ambiente, e a de Fidel e dos seus seguidores bolivianos, equatorianos, nicaragüenses e venezuelanos, é defender as áreas de plantio de alimentos – que serão prejudicadas pela corrida usurária do “capitalismo selvagem” para conquistar mais lucros. A desconfiança dos latino-americanos é de que o etanol venha tirar comida dos pobres para alimentar a população automobilística dos opulentos…
Etanol é combatido pelos europeus e por Fidel
Blog do Miranda Sá

Mal assessorado, Lula gera constrangimento com declarações desencontradas quando repete frases de assessores da Casa Civil. Na Amazônia, já existem usinas de porte expressivo em Presidente Figueiredo (AM), Ulianópolis (PA), Arraias (TO), além de meia dúzia no Mato Grosso. De acordo com o último levantamento oficial da Conab, um órgão do Ministério da Agricultura, de maio deste ano, na safra passada houve mais de 19 milhões de toneladas de produção de cana-de-açucar na Amazônia Legal, entre Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Amazonas e Pará.
Cana de Açúcar na AmazôniaAltino Machado


Lula parece ter consciência
de que a liderança no setor dos bio-combustíveis alavanca a posição do Brasil no cenário internacional, e que o desenvolvimento pleno da revolução do etanol pode se transformar em ameaça aos países desprovidos de áreas de plantio disponíveis, como os países da UE e os EUA. O tema adiciona pressão também nos países posicionados em favor dos subsídios agrícolas nas negociações comerciais de Doha, e neste caso podemos até dizer que, desta vez, são os países desenvolvidos que estão correndo contra o relógio. Em outras palavras, a falta de acordo até agora na rodada de Doha pode ser um bom negócio.

Os dados revelados pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior) referentes às exportações do setor sucroalcooleiro foram bem recebidos pelos analistas do Credit Suisse. Apesar do fraco desempenho da comercialização do açúcar, o forte avanço em etanol já mostrou os efeitos da maior produção por parte das empresas. Segundo relatório do banco, o volume de exportações de etanol cresceu 61,4%, na comparação anual, atingindo 214 milhões de litros. O montante é reflexo do início da época de colheita da cana-de-açúcar, que, conseqüentemente, amplia a produção… Com base em uma perspectiva de longo prazo otimista para o setor de açúcar e álcool, a Itaú Corretora prevê a necessidade de contínuos avanços nas plantações de cana-de-açúcar. Para a instituição, o crescimento dos veículos flex deve requerer uma capacidade adicional de 200 milhões de toneladas em 2013. E as exportações de etanol devem utilizar outras 99 milhões de toneladas.
Com maior produção, exportação de álcool cresce 61% em junhoInfoMoney


A cultura de uso do álcool
como combustível para automóveis no Brasil originou-se como uma resposta do país à primeira crise do petróleo, em 1973. Foi uma solução local para um problema global. Agora o problema está de volta, e a solução local está sendo preparada para ser lançada em escala global. Neste processo, a blogosfera pode ser um bom lugar para encontrar pistas que nos ajudem a entender o porque de não existirem soluções mágicas para os grandes problemas globais. Neste sentido, creio ser interessante mencionar o comentário de um cidadão norte-americano que bloga no Brasil, e que parece ter descoberto o valor do papel das políticas de preço de combustíveis em formatar estratégias nacionais de longo prazo (cultura?).

Os EUA estão se preparando para utilizar bio-combustíveis porque o suprimento de petróleo barato está diminuindo e também porque os reservatórios existentes estão crescentemente concentrados nas mãos de regimes estrangeiros nada amigáveis aos seus interesses. Seria um erro pensar que esta mudança irá resultar em preços menores nos postos de combustíveis. De fato, o problema é que o preço dos combustíveis nos EUA são muito baixos. Sim, brasileiros trocam a gasolina que custa hoje em torno de $4,60 o galão em dólares americanos aqui em São Paulo, por etanol que é vendido na faixa $3,50 (o preço é ajustado pelo menor desempenho em quilômetros). Entretanto, este valor de $3,50 para o galão de etanol é não somente mais alto do que o preço corrente da gasolina nos EUA; é também um preço altíssimo para uma população que vive com um quinto da renda do norte-americano médio. Os brasileiros estão certamente liderando o processo de construção de sua auto-suficiência energética baseada na economia dos bio-combustíveis, mas isto se dá porque o preço relativo do combustível é alto o suficiente para inviabilizar o uso de veículos ‘devoradores’ de gasolina e também inibir hábitos de desperdício ao volante. A mesma coisa acontecerá nos EUA quando os preços baixos nas bombas de gasolina deixarem de ser mantidos pela absoluta ausência de uma política energética. Tão logo o preço esteja correto, norte-americanos (assim como os brasileiros) irão migrar na direção de melhores tecnologias e comportamentos.
Gasoline Prices, Ethanol and BrazilVisionShare

Do local para o global, e de volta para o local.

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