Brasil: Enchente na Região Serrana do Rio de Janeiro devasta cidades

A região serrana do Rio de Janeiro enfrenta o que tem sido considerado o maior desastre natural do país. Desde 1967, em Caraguatatuba (SP), não se tinha um número tão alto de vítimas. Outros estados também sofrem com as enchentes, como São Paulo e Minas Gerais. No entanto, no estado do Rio de Janeiro, as cidades de Petrópolis, Teresópolis, Friburgo, Areal, São José do Vale do Rio Preto e Sumidouro já somam mais de 500 vítimas fatais e um número ainda incontável de desalojados. Esta tragédia, que dá somente seus primeiros passos no socorro das vítimas, ainda não nos permite avaliar os estragos causados pela enchente e todo o trabalho que ainda será necessário realizar, mas já coloca em questão  a urgência da prevenção de catástrofes climáticas no país.

Bom Jardim – Foto do usuário @bdugin disponilizada pelo twitpic

As enchentes no país durante o verão não são uma novidade. Em 2008 o Global Voices cobriu os impactos de desastre semelhante no estado de Santa Catarina e escreveu sobre as redes de solidariedade formadas por blogueiros. O ecologista Breno Alves explica em seu blog Discutindo Ecologia, as particularidades climáticas da região que estão por trás do fenômeno. Segundo ele,

A zona de convergência do Atlântico sul traz muita umidade (da região amazônica) para a região sudeste nesta época do ano. Só que na região serrana, a umidade já é por natureza mais alta. Assim, o sinergismo entre estes dois acontecimentos, gera tamanha pluviosidade.

Vila Amélia, Bom Pastor – Foto disponibilizada pelo usuário @bdugin pelo Twitpic

Breno Alves também acrescenta em seu blog que “todo ano este mesmo fenômeno acontece”. Um artigo do Global Voices datado de maio de 2009 fala sobre as enchentes no estado da Bahia e em junho de 2010 os estados nordestinos de Alagoas e Pernambuco também foram drasticamente afetados. O que a blogosfera tem se perguntado é, se o fenômeno é conhecido e acontece todo ano, onde estão as políticas de prevenção de desastres? O blog Ambiente Regional comenta que há um ano atrás foi lançada a proposta de criação de uma lei de responsabilidade urbanística e ambiental, motivada pelas tragédias de Angra dos Reis e Niterói, – em que a encosta caiu matando um grande número de pessoas – , mas que por enquanto permanece em debate na blogosfera. Ele comenta também sobre uma política nacional para as montanhas:

Desde 1992 os ecossistemas de montanha são mundialmente reconhecidos como áreas especialmente sensíveis aos impactos da mudança do clima. A Agenda 21, organizada pela ONU e assinada por 192 chefes de Estado, dedica seu capítulo XIII ao tema, identificando os habitantes das montanhas como extremamente vulneráveis ao aquecimento global. O Brasil ainda não estabeleceu sua política nacional para as montanhas, mas suas diretrizes já foram construídas no seminário realizado em dezembro de 2009, que reuniu especialistas no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Mesmo assim, a legislação existente, se aplicada, protegeria as áreas frágeis e de risco, evitando boa parte dos sofrimentos humanos.

A urbanista Raquel Rolnik quando questionada se existe alguma solução para previnir catástofres como essa, diz em seu blog:

Tem solução, sim. Evidentemente algumas medidas são paliativas. Há formas de intervenção para melhorar a estabilidade dos terrenos, drenar melhor a água, conter encostas, ou seja, melhorar a condição de segurança e a gestão do lugar para que, mesmo numa situação de risco, se possam evitar mortes.

Mas a questão de fundo é que ninguém vai morar numa área de risco porque quer ou porque é burro. As pessoas vão morar numa área de risco porque não têm nenhuma opção para a renda que possuem. Estamos falando de trabalhadores cujo rendimento não possibilita a compra ou aluguel de uma moradia num local adequado. E isso se repete em todas as cidades e regiões metropolitanas.

O blog Discutindo Ecologia critica:

Com certeza, os governantes irão eleger o vilão do problema: as mudanças climáticas. Climatologistas, meteorologistas e “especialistas” irão falar que os fenômenos meteorológicos são intensificados pelas mudanças climáticas. Sim, mas isso é um problema secular no Rio de Janeiro! Até hoje, não foi encontrada correlação significativa entre quantidade de chuva e descaso do poder público, agora, entre mortes que poderiam ser evitadas e descaso do poder público, sim.

A twitosfera também protesta contra o descaso do poder público:

diegoroston o ano passado foi a mesma coisa !! vão esperar acontecer outra tragédia de novo!!! tomara que naum, prestem atenção autoridades #chuvasrj

TonGalego “O Brasil ñ é Bangladesh, ñ tem desculpa. Imagine se tivesse terremoto, vulcão, furacões…” Consultora da ONU, sobre as #chuvasrj

A blogueira Cris Dias divulga em seu blog, apelo feito por Ana Erthal, moradora da região serrana:

Aqui, em Barra Alegre não tivemos vítimas. (…) Estamos ilhados, sem saída, por enquanto. Mas ainda temos remédios e mantimentos. E não conseguimos parar de pensar em tudo isso. (…) Os amigos ligam a todo instante de todos os lugares do Brasil. O que eu digo é sempre o mesmo: o que está na tv não é nada. A catátrofe é muito maior. Se puder, doe sangue, alimentos e água nesses pontos que a tv indica. Ajudará muito. Cobre do poder público, dos políticos, espalhe as mensagens. Faça o que puder. Tem muita gente precisando.

Friburgo – Foto do usuário @bdugin disponibilizada pelo twitpic

Solidariedade

A mobilização da população é grande, não só auxiliando as autoridades no resgate de pessoas no local, mas também doando sangue, alimentos e divulgando informações. Um mapa com os postos de recolhimento de doações está em constante atualização. O Ministério da Saúde criou um cadastro de profissionais de saúde voluntários para o atendimento às vítimas das enchentes na Região Serrana que já conta com mais de 100 inscritos. Através das hashtags #chuvasrj#prayforbrazil, internautas se solidarizam com a catástrofe climática do estado do Rio de Janeiro. Veja abaixo uma pequena seleção delas:

UiliamRodrigues Separe roupas e cobertos que vc ñ usa, incremente com garrafas de água mineral e entregue nos postos de coleta. #chuvasrj #prayforbrazil

patrulhadalama CHUVAS NO RJ – @Hemorio bate novo recorde nesta sexta-feira com 1.330 doadores http://t.co/PJMcq66 #chuvasrj #doacoes

Reneflu Site Oficial da Prefeitura de #Friburgo com nomes das vítimas. Divulguem!!!! http://secompmnf.blogspot.com/#chuvasrj

gdotb O que doar e do que não doar -lista atualizada http://is.gd/SHPODX (fonte Cruz Vermelha) #rt #chuvasrj

Itaipava, Petrópolis – Foto do usuário @crazydood disponibilizada através do twitpic

O blog Patas e Patas pede ajuda também para os animais e lembra:

Todos sofreram grandes danos, todos perderam animais. A tragédia é semelhante para todos: muros arrastados, canis destruídos, animais mortos e feridos, alguns em estado bem grave. O acesso é difícil. A mídia só informa os problemas enfrentados pelos humanos.

Imagem publicada no blog: http://betaolemela.blogspot.com/2011/01/enchentes-de-janeiro-no-mundo.html

Além das incontáveis perdas e de toda a reconstrução necessária nas cidades atingidas, é preciso lembrar também do impacto que as enchentes terão nos preços e distribuição (ou falta) de legumes e verduras por todo o estado, já que a região serrana é a maior produtora agrícola do Rio de Janeiro.

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