As vozes dos iranianos ganham as ruas: imagens dos protestos

Manifestantes derrubam viatura em rua de Teerã. [Imagem de um cinegrafista amador compartilhada pelo Voz da América]

O século XX testemunhou diversas revoltas e sacrifícios dos iranianos, que lutam por várias causas, desde a nacionalização da indústria petrolífera ao sufrágio feminino, e também pela destituição da monarquia. Entretanto, a cada capítulo, essas revoltas heroicas tem sido reprimidas, absorvidas ou manipuladas para atender a determinados discursos ou narrativas. Um exemplo disso é a incrível diversidade de frentes seculares, radicais e feministas envolvidas na Revolução Iraniana de 1979, eclipsada pela sua imagem duradoura de uma tomada de poder pelos mulás reacionários.

Há várias questões por trás da onda de protestos atualmente tomando conta do Irã, que são classificadas de forma simplista pelos ditos “especialistas sobre o Irã” como, por exemplo, as ações e o ímpeto do povo sendo usados em prol de interesses e fins políticos específicos. Podemos incluir a frustração crescente com a corrupção e a intervenção da Guarda Armada Revolucionária Iraniana, braço das Forças Armadas iranianas formado após a revolução de 79, na economia. Também é importante entender que o conflito interno político vivido pelo regime e as longas pressões e contradições que fizeram as coisas chegarem a esse ponto. 

Contudo, a realidade no Irã se apresenta na sua forma mais visceral, sem que precisemos de explicações dos falastrões da mídia. O povo protesta por liberdade, oportunidade e democracia: ideais universais e indiscutíveis por si só.

A fim de dar voz ao povo iraniano, eu busquei destacar algumas imagens, slogans e ações contundentes como uma perspectiva dos últimos acontecimentos no Irã. Fica a critério dos leitores tirarem suas próprias conclusões.

Por que o povo está protestando

Estes dois tópicos de discussão no Reddit são bem interessantes e podem ser acompanhados aqui e aqui.

No vídeo a seguir, uma jovem descreve a situação na Universidade de Teerã enquanto a Guarda Revolucionária e forças de segurança chegam ao campus, registrando também que muitos estudantes foram agredidos, presos ou retirados do local. Mesmo com o excesso de força dos agentes de segurança, ela comenta que “…os estudantes continuam protestando e não deixarão de gritar palavras de ordem”.

No próximo vídeo, feito em Teerã (assista abaixo), os manifestantes gritam “morte aos ditadores” em meio ao gás lacrimogênio.

No vídeo seguinte, um homem na cidade de Behshar grava imagens enquanto faz comentários sobre o tratamento dos cidadãos iranianos por parte da polícia. Ele fala sobre a prisão e o abuso brutais contra o que parece ser um manifestante desarmado. “Vejam o que eles fazem com as pessoas nessa sociedade. Vejam. Vejam. Eles deram choque nele sem motivo.” Ao longo do vídeo, as pessoas começam a gritar “libertem-no”, enquanto outros caminham em direção à polícia. O vídeo acaba com o homem dizendo “agora as pessoas precisam se defender”.

Em Kashan, os manifestantes gritavam “Independência, Liberdade e uma República Iraniana”, uma versão do refrão da revolução de 79 “Independência, Liberdade e uma República Iraniana”.

Abaixo, uma multidão se reúne em Shiraz chamando seus conterrâneos para que se juntem ao protesto.

Cabe comentar que apesar de alguns acharem que os protestos no Irã são parte de um movimento pela reforma encabeçada pelo presidente “moderado” Hassan Rouhani, os protestos atuais parecem transcender conflitos sectários. Neste vídeo na província de Hamadan, podemos ouvir manifestantes gritando “clérigos, tenham vergonha e libertem nossa sociedade”, seguidos de “morte a Rouhani!”, revelando desdém pelo clérigo e a república islâmica como um todo.

Confrontos

Neste vídeo, um homem é ouvido dizendo “este é o protesto de 50 mil pessoas em Ahvaz”.

O vídeo abaixo mostra um homem atirando pedras nas forças de segurança em Ahvaz gritando “morte a Khamanei!”. Essas palavras podem representar uma sentença de morte no Irã.

O vídeo abaixo feito em Mashad mostra incêndios e a população gritando, no que parece ser um confronto com as forças de segurança.

No Lorestão, manifestantes aparecem arrastando um corpo ensanguentado pela multidão gritando “irei matar quem matou meu irmão” e “morte a Khamanei!”.

Em uma gravação aparentemente feita na cidade de Bandar Abbas, manifestantes ateiam fogo a um cartaz com a imagem do Líder Supremo Khamanei, um ato de ira e rebeldia que vale mais do que ovos ou do que o desejo pela reforma política.

Neste vídeo em Mashhad, uma viatura parece ter sido virada e incendiada por manifestantes.

Em Zanjan, manifestantes cercam os agentes de segurança em fuga e arremessam vários objetos.

Em Kermanshah, um grupo de agentes de segurança é visto fugindo da multidão enfurecida.

Em Rasht, manifestantes realizam um protesto sentado diante de agentes de segurança, que avançam em motocicletas ao som de “vamos morrer, vamos morrer, vamos retomar o Irã”.

Uma parcela da sociedade iraniana aparece neste vídeo, feito em um táxi, provavelmente em Teerã. Pelo lado do passageiro, podemos ver agentes de segurança agredindo manifestantes, e uma passageira comenta que as pessoas estão insatisfeitas e questiona por que os agentes estão atacando. Aparentemente incomodado com o tom dela, o motorista diz para ela que não dê atenção e que se cale ou irá colocá-la para fora do carro. Sempre ousada, a passageira exige que ele a deixe sair. Quando ela sai, o taxista comenta que não quer que seu carro seja depredado. Podemos ver mais confrontos pelo pára-brisa do táxi.

Esse confronto deixa claro que muitas pessoas não estão mais dispostas a assistirem a tanta injustiça sem tomarem uma atitude. Temos que prestar atenção aos protestos e tomar a frente em prol dessas pessoas: bravos rebeldes em um país que está pronto para mudar.

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