Moldávia declara estado de emergência no setor energético

Foto por Roman Petrov via Unsplash. Uso livre sob a Licença Unsplash

A partir de 16 de dezembro de 2024, Moldávia declarou estado de emergência no setor energético. O motivo principal para a emergência é que ninguém na Maldóvia sabe se a Gazprom, empresa de energia estatal russa, continuará fornecendo combustível russo para a região transnístria da Moldávia após 1º de janeiro de 2025. Portanto, Chisinau e Tiraspol estão se preparando para o pior caso. NewsMaker responde perguntas-chave sobre a crise de energia neste artigo, que foi traduzido, editado e republicado com a permissão de NewsMaker.

Moldávia pode acabar sem combustível?

O suprimento de combustível à margem direita da Moldávia não está sob o risco de ser cortado. O problema do suprimento de combustível preocupa apenas a Transnístria.

Desde o fim de 2022, Chisinau vem comprando combustível para a margem direita do Dniestre no mercado internacional. Na sexta-feira, 13 de dezembro, a empresa Moldovagaz anunciou que havia comprado todo o combustível necessário para a margem direita até o fim de março do ano seguinte.

O suprimento de combustível para a Transnístria após 1º de janeiro de 2025 se encontra sob ameaça. Atualmente, todo combustível russo fornecido pela Gazprom, 5,7 milhões de metros cúbicos por dia, é direcionado à região, onde é usado tanto para consumo interno quanto para abastecer a usina elétrica Moldavskaya GRES, que gera eletricidade para ambas as margens do rio Dniestre. A Transnístria não paga pelo combustível consumido.

Por que a Gazprom pode parar de fornecer combustível?

O contrato para o transporte de combustível russo pelo território ucraniano termina em 1º de janeiro de 2025. Apesar da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, o transporte de combustível e o contrato assinado em 2019 continuaram. Kiev afirmou repetidamente que não planeja estender o acordo de trânsito com a Gazprom.

Além da Moldávia, a Eslováquia, Hungria e Áustria também recebem combustível através da Ucrânia.

Anteriormente, autoridades moldávias e especialistas supuseram que o transporte de combustível continuaria caso empresas europeias, não sendo a Gazprom ou suas afiliadas, pagassem pelo transporte através da Ucrânia.

Porém, parece que o transporte através da Ucrânia não será estendido.

Existe uma rota alternativa para a entrega de combustível russo à Transnístria: da Rússia até a Turquia pela tubulação TurkStream, e então até a Bulgária, Romênia e parcialmente pela região ucraniana de Odessa. Para entregas através desta rota, a Gazprom teria que reservar o uso da tubulação.

O prazo final para a realização da reserva para janeiro de 2025 pela Gazprom foi em 16 de dezembro. Conforme reportado por Interfax em 18 de dezembro, a Gazprom não realizou a reserva. 

O que a Gazprom diz? A empresa quer continuar com o abastecimento?

A Gazprom não comentou sobre o futuro do abastecimento de combustível para a Moldávia. A posição da Gazprom só pode ser inferida por declarações feitas pelo ex-Ministro da Energia Victor Parlicov, que recentemente se encontrou com o chefe da Gazprom Alexey Miller. De acordo com ele, a Gazprom liga o suprimento futuro de combustível à dívida da margem direita do Dniestre pelo combustível. Ambos os lados possuem números substancialmente diferentes para o tamanho da dívida: a Rússia cita um valor superior a 700 milhões de dólares, enquanto Chisinau afirma estar pronta para pagar um pouco acima de 8 milhões de dólares baseado em uma auditoria independente.

Quais as chances do abastecimento de combustível para a Transnístria ser cortado?

Ninguém sabe. Mesmo que a Gazprom saiba é improvável que se torne publico em breve. Autoridades da Transnístria não descartaram que o problema de abastecimento de combustível poderá ser resolvido na véspera de ano novo. Elas também declararam emergência econômica.

O que acontece se a Transnístria for deixada sem o combustível russo?

Surgiram problemas em ambas as margens do Dniestre. A margem esquerda ficará sem gasolina, o combustível principal para o aquecimento, enquanto a margem direita enfrentará sérios problemas de eletricidade.

Chisinau poderia fornecer combustível para a Transnístria, mas somente mediante a pagamento, de acordo com o governo. Entretanto, o preço interno do combustível na Transnístria é muitas vezes menor do que na margem esquerda, menos do que 1 leu moldávio (o,o5 dólares) por metro cúbico comparado a 16,74 leus moldávios (0,91 dólares) na margem direita.

A Transnístria vem, aparentemente, se preparando para a vida sem combustível. Autoridades locais estão trabalhando em um plano para empresas e infraestrutura municipal em caso de falta de combustível.

Para Chisinau, o problema principal é a eletricidade. Durante o inverno, a usina Moldavaskaya GRES é responsável por 70% da eletricidade consumida pela margem direita da Moldávia. O restante vem de usinas termoelétricas em Chisinau e Balti, fontes renováveis de energia, e importações da Romênia. Se o fornecimento de combustível cessar, Moldavskaya GRES não conseguirá gerar energia para a margem direita.

Ainda haverá eletricidade?

Conforme mencionado anteriormente, Moldavskaya GRES não conseguirá produzir energia para a margem direita do Dniestre. Em caso de emergência, autoridades da Transnístria planejam mudar Moldavskaya GRES para o uso de carvão, a região pode encarar um blecaute de 10 horas.

Além disso, as reservas de carvão na Transnístria são suficiente para apenas 50 dias, e a usina só pode operar com carvão vindo de Donbass. A dois anos, o líder transnístrio Vadim Krasnoselsky declarou, “Essa usina só pode operar com carvão local de Donetsk. O carvão importado antes de 2014 é o suficiente para dois meses e meio. é fisicamente impossível a entrega de mais agora”.

A Moldávia poderia comprar combustível e fornecê-lo para Moldavskaya GRES para a geração de energia, mas isso iria requerer fundos significativos. Relatos da mídia sugerem que Chisinau estima um custo de aproximadamente 240 milhões de euros.

Por que a Moldávia não pode simplesmente comprar combustível da România?

A Moldávia possui uma cota sobre a importação de eletricidade da România, o que pode não ser o suficiente. Além disso, teria que competir com a Ucrânia no mercado romaniano.

A Moldávia passou por uma situação similar em novembro de 2022, quando comprou eletricidade da România. Na época, a infraestrutura de energia da Ucrânia estava em uma condição muito melhor e a Moldávia podia usar a cota da Ucrânia para a entrega de eletricidade.

Após dois anos, a infraestrutura de energia da Ucrânia se deteriorou significativamente devido aos ataques em massa da Rússia, e o país vizinho agora importa eletricidade.

Tecnicamente, a Moldávia pode exceder a cota de importação. mas isso iria requerer pagar por um “fluxo descontrolado” a taxas muito altas.

Blecautes são possíveis?

Em uma crise como essa, a possibilidade irá aumentar. As autoridades adotaram recentemente uma Regulamentação para Situações de Emergência no Setor Energético. O documento descreve os consumidores prioritários de eletricidade em caso de blecautes em potencial.

Consumidores prioritários incluem:

  1. Hospitais republicanos, regionais, distritais e municipais, o Centro de Emergência Médica, o Centro de Transfusão de Sangue, a Agência Nacional de Saúde Publica, orfanatos e jardins de infância
  2. Postos de medição e bombas de gasolina, e sistemas de aquecimento central para setores residenciais
  3. Distribuidores de energia e serviços de utilidade publica
  4. Edifícios governamentais, o parlamento, a administração presidencial, o Ministério da Defesa, o Serviço de Inteligência e Segurança (SIB), o Ministério de Assuntos Internos, a Inspetoria de Emergência, o Serviço de Proteção do Estado, e o Serviço de Alfândega
  5. Aeroportos e outras infraestruturas de transporte

Consumidores domésticos se encontram na oitava posição no ranking de prioridade.

Na Transnístria, provedores de energia locais também desenvolveram um plano para blecautes em potencial.

Até o momento, o estado de emergência na Moldávia foi declarado por 60 dias. A Ucrânia, em resposta à crescente preocupação sobre o transporte de combustível, disse estar disposta a continuar o transporte de combustível, contanto que não venha da Rússia. 

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