Como a indústria dos videogames impacta a economia da África: uma entrevista com o especialista togolês Kofi Sika Latzoo

Jornalistas senegaleses participam de treinamento em realidade virtual no Gamecamp Summer 2016 em Dakar; foto por Kofi Sika Latzoo, usada sob permissão.

A economia criativa, sendo um setor altamente inovador que gera novos empregos, engloba vários campos hoje, incluindo música, arte, cinema e videogames. Este último, por si só, gera bilhões de dólares americanos no mercado africano.

Segundo o relatório Africa Gaming Market Size (2024–2029), produzido pela Mordor Intelligence, uma empresa de consultoria e pesquisa de mercado, o valor do mercado de games na África é estimado em mais de US$ 2,14 bilhões em 2024. Esse número pode chegar a US$ 3,72 bilhões até 2029.

Videogames têm um forte apelo entre a juventude africana. Dos 1,6 bilhão de habitantes do continente, mais de 400 milhões têm entre 15 e 35 anos. Jogar videogames não é apenas um passatempo; pode também ser uma profissão de verdade: os e-sports, que incluem suas próprias regras, torneios, prêmios em dinheiro e competições internacionais, tais como os Jogos Olímpicos de E-sports, que serão realizados na Arábia Saudita em 2025. Para explorar a importância dessa indústria, a Global Voices conversou com Kofi Sika Latzoo, um especialista togolês que atua no Senegal.

Kofi Sika Latzoo; foto usada sob permissão.

Kofi possui certificação do British Council em empreendedorismo criativo, credenciais em Gamificação e Impacto Social, e recebeu um prêmio da Microsoft por competência educacional inovadora. Pioneiro da digitalização de arte e das indústrias criativas na África, ele fundou a Gamecampcities Agency em 2012, uma agência que promove videogames e e-sports. Ensina gestão de e-sports há sete anos na Kedge Business School, nos campus de Bordeaux e Paris, e na Bem Africa, em Dakar e Abidjan.

Jean Sovon (JS): Quais são os países africanos que mais agregam valor dentro da indústria dos videogames?

Kofi Sika Latzoo (KSL): En premier lieu, l'Afrique du Sud, qui est l'un des premiers pays africains à ériger des studios de développement de jeux vidéo: Free Live, l'un des plus anciens studios de développement de jeux vidéo sur le continent. C'est aussi l'un des rares pays à développer une fédération e-sport et le premier à faire partie des grandes instances de gouvernance de l'e-sport mondial. D’autres pays comme la Tunisie, l'Égypte, le Maroc, le Zimbabwe, le Ghana, et le Sénégal, qui est l'un des rares marchés francophones sont très dynamiques. Le Sénégal est aussi l'un des rares pays à avoir un cadre légal depuis 2020 pour la structuration de l'e-sport: le jeu vidéo compétitif et le développement de jeu vidéo. Le Togo aussi est en train de se structurer avec une fédération fraîchement naissante. De nombreux pays africains vont participer aux Jeux Olympiques e-sport en Arabie Saoudite: le Sénégal, le Maroc, le Togo, l'Égypte, la Tunisie, l'Afrique du Sud, la Zambie, le Zimbabwe, la Côte d'Ivoire, le Cap Vert, l’île Maurice, et le Kenya.

Kofi Sika Latzoo (KSL): A África do Sul está na liderança, sendo um dos primeiros países africanos a estabelecer seus próprios estúdios de desenvolvimento de videogames, como o Free Live, um dos estúdios mais antigos do continente. Também foi um dos poucos países a firmar uma federação de e-sports e o primeiro a integrar os principais órgãos globais de gestão de e-sports. Outros países como Tunísia, Egito, Marrocos, Zimbábue, Gana e Senegal (um dos raros mercados francófonos) também são bastante dinâmicos. O Senegal também é um dos poucos países a ter uma legislação para a estruturação dos e-sports, desde 2020, a qual inclui o cenário competitivo de games e o desenvolvimento de videogames. E o Togo também está se organizando, com uma federação recém-criada. Vários países africanos irão participar nos Jogos Olímpicos de E-sports na Arábia Saudita, incluindo Senegal, Marrocos, Togo, Egito, Tunísia, África do Sul, Zâmbia, Zimbábue, Costa do Marfim, Cabo Verde, Maurício e Quênia.

JS: Existe benefício financeiro para os jogadores ou eles são apenas consumidores?

KSL : Il y a trois niveaux: amateurs, semi-professionnels et les professionnels et il faut être au second niveau pour bénéficier des retombées financières. Les amateurs se font connaître des différents tournois dans leurs pays. Ils passent ensuite à la seconde étape et deviennent des joueurs semi-professionnels. Ils commencent par avoir des jeux de prédilection. Il faut savoir qu'il y a 15 disciplines d'e-sport. A partir de ce moment-là, ils cherchent une marque qui va les sponsoriser et leur permettre de grandir. De là, ils peuvent voyager pour aller à des compétitions régionales ou à l'international.

En Afrique, plus de 90% des joueurs sont semi-pro. C'est très rare de voir un joueur pro, car cela veut dire que déjà vous n'avez pas un seul sponsor, mais plusieurs sponsors et vous êtes sous contrat. Tout autour de vous est contrôlé et vous faites des rapports réguliers à vos sponsors. Il n’existe que moins de 20 équipes professionnelles dans le monde, et 80% d'entre-elles qui arrivent à atteindre des évaluations de 10 à 30 millions de dollars [américains] , sont aux États-Unis. Il y en a une seule en Espagne, en France, en Angleterre et quelques-unes au Brésil.

Sur le continent, la majorité des équipes professionnelles et semi-professionnelles se trouve en Afrique du Sud avec des équipes comme Goliath Gaming. Il y en a aussi au Maroc, en Tunisie. On commence à avoir des équipes en Zambie avec la Team Gematrix qui arrive à avoir des tournois même jusqu'à Las Vegas. Il y a également une très bonne équipe au Sénégal, XamXamLions que j'ai créée moi-même en 2016 qui a déjà à son actif deux qualifications olympiques avec des joueurs sur contrat.

KSL: Existem níveis amadores, semiprofissionais e profissionais, e você precisa chegar ao segundo nível para ter um benefício financeiro. Os amadores ganham reconhecimento por meio de vários torneios em seus países. A partir daí, passam para a próxima etapa, tornando-se jogadores semiprofissionais, que é quando normalmente eles começam a se especializar em seus jogos favoritos. Lembre-se de que há 15 modalidades de e-sports, portanto, nessa etapa, os jogadores começam a buscar patrocinadores para ajudá-los a crescer, possibilitando que viajem para competições regionais ou internacionais.

Na África, mais de 90% dos jogadores são semiprofissionais. É muito raro ver um jogador profissional, já que isso requer não só um, mas vários patrocinadores, assim como estar sob contrato. Tudo ao seu redor é gerido bem de perto, e você precisa notificar seus patrocinadores com frequência. Há menos de 20 times profissionais no mundo inteiro, e 80% dos times avaliados entre US$ 10 e 30 milhões são dos Estados Unidos. Espanha, França e Inglaterra têm um único time cada, e o Brasil tem alguns poucos times.

No continente, a maior parte dos times profissionais e semiprofissionais atuam na África do Sul, com times como o Goliath Gaming. Há times também no Marrocos e na Tunísia. A Zâmbia também está começando a crescer, com o Team Gematrix já participando de torneios lá em Las Vegas. O Senegal também ostenta um time forte, o XamXamLions, que eu fundei em 2016 e que já conquistou duas qualificações olímpicas com jogadores sob contrato.

JS: Qual a contribuição da economia dos videogames para o desenvolvimento do continente africano?

KSL : Le jeu vidéo est un marché de 800 milliards de dollars [américains] d'offres en Afrique. Mais pour avoir une vision globale de l'approche, le jeu vidéo, en termes d'industrie mondiale, c'est 300 milliards de dollars américains annuels de marché. Et l'e-sport, c'est un milliard de dollars de marché.

L'engouement pour la discipline est en train de se généraliser au niveau global et l'Afrique ne doit pas être en reste pour la simple raison que l'Afrique détient la plus jeune population. C'est le continent qui a la capacité de tout consommer et de tout créer. Les pays en tête sont l'Afrique du Sud et le Maroc. Au Maroc, l'opérateur Télécom Invi crée depuis 2012 des hackathons pour détecter des talents de développeurs de jeux ; embauche ces talents pour créer des jeux vidéo mobiles qui vont être lancés pendant la période du Ramadan. Invi détient déjà trois ligues e-sport au Maroc: une ligue professionnelle, une ligue universitaire et une ligue pour enfants. Il y a là une stratégie qui a été pensée et des investissements.

KSL: O mercado de games oferece uma oportunidade de US$ 1,3 bilhão na África. Numa perspectiva mais ampla, a indústria global dos videogames representa um mercado anual de US$ 300 bilhões, e apenas os e-sports representam um mercado de um bilhão de dólares.

O entusiasmo por essa modalidade está se espalhando pelo mundo, e a África precisa acompanhar, sobretudo por ser o lugar com a população mais jovem do mundo. É um continente com o potencial de consumir e criar em grande escala. África do Sul e Marrocos estão na vanguarda.

No Marrocos, a operadora de telecomunicações tem organizado hackathons desde 2012 para observar desenvolvedores talentosos de jogos e contratá-los para a criar jogos para celular, que são lançados durante o Ramadã. A Inwi já hospeda três ligas de e-sports no Marrocos: uma liga profissional, uma universitária e outra infantil. Isso é reflexo de uma estratégia bem planejada e um investimento substancial.

JS: Qual a relação entre os esportes e os e-sports? E onde é que o Togo, seu país de origem, se coloca nessa área?

KSL : Pas mal de figures sportives ont un intérêt pour la discipline et s'impliquent. Un très bon exemple est le cas de David Beckham, qui est propriétaire d'un club e-sport qui s'appelle Guild, alors qu'il détient aussi un club de football à Miami, où joue Lionel Messi.

Je pense qu'il y a une forte relation entre le sport et l’e-sport. On a même tendance à voir les deux fusionner, comme l'événement qu'on appelle les Jeux du Futur ou Games of Futures, qui est l'événement phygital qui implique des disciplines digitales comme des disciplines sportives et physiques. Le Bénin était présent à ces jeux du futur avec son équipe de basketball, et celle d’e-basketball ( le basketball en mode jeu vidéo).

Parlant du Togo, c’est une nation qui a un potentiel avéré, disposant plus de 32 salles de jeu dans la capitale Lomé, et une première participation à des championnats du monde organisés par Alibaba en 2016 sur les disciplines Hearthstone ( jeu de cartes en ligne). Le pays a aussi obtenu la médaille d'or aux derniers Jeux africains qui ont inclus de l'e-sport au Ghana. De plus, le président de l'association e-sport France est un franco-togolais.  Je suis moi-même, Togolais basé au Sénégal, professeur d'e-sport certifié avec plus de 100 événements produits dans le domaine du jeu vidéo et du jeu vidéo compétitif en Afrique. Le président de la fédération du Togo est un ancien formé par l'agence Gamecampcities. Nous avons donc tous les ingrédients possibles pour avoir une nation e-sport forte. Le Togo est aussi membre de la confédération africaine d’esports (CASE) dont le siège est basé au Sénégal. La CASE compte aujourd’hui 30 pays et a comme partenaire le géant informatique HP.

KSL: Já há algumas figuras esportivas demonstrando interesse na modalidade e se envolvendo com os e-sports. Um bom exemplo é David Beckham, dono de um clube de e-sports chamado Guild e também proprietário de um clube de futebol em Miami, no qual joga Lionel Messi.

Acho que há uma relação próxima entre os esportes tradicionais e os e-sports. Até estamos começando a ver fusão dos dois, como, por exemplo, no evento chamado Games of the Future, um evento físico-digital que mistura  modalidades digitais e físicas e com o atletismo. Neste Games of the Future, o Benin foi representado por seu time de basquete e por seu time de e-basquete (o basquete na forma videogame).

Com respeito ao Togo, é uma nação com potencial já comprovado. A capital, Lomé, conta com mais de 32 centros de jogo, e o país estreou no Campeonato Mundial organizado pela Alibaba em 2016 na modalidade Hearthstone (jogo de cartas online). O país também conquistou medalha de ouro nos últimos Jogos Africanos, realizados em Gana, os quais incluíam os e-sports. Além do mais, o presidente da associação francesa de e‑sports é franco-togolês. Eu mesmo sou togolês, vivo no Senegal, sou um instrutor certificado de e-sports e produzi mais de 100 eventos sobre videogames e o cenário competitivo de games pela África. O presidente da federação do Togo já foi estagiário da agência Gamecampcities. Temos todos os elementos necessários para construir uma nação forte nos e-sports. Togo também é membro da Confederação Africana de E-sports (CASE), cuja sede é no Senegal. A CASE conta hoje com 30 países-membros e tem a gigante tecnológica HP como parceira.

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