As eleições de Gana de 2020 em fotos. Imagem de Owula kpakpo do Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0 Deed).

Embora a tecnologia ofereça muitas vantagens, ela também apresenta desafios significativos. As redes sociais, por exemplo, conseguiram conectar pessoas no mundo todo e criaram espaços para compartilhar ideias e informações. No entanto, também se tornaram uma ferramenta poderosa para disseminar desinformação, especialmente durante as eleições.

Este é o ano eleitoral mais importante da história, com 72 países indo às urnas. De acordo com o Relatório de Riscos Globais de 2024, a desinformação representa uma séria ameaça aos processos democráticos em todo o mundo, especialmente durante as eleições. O relatório adverte que a desinformação sem controle pode minar a legitimidade dos governos recém-eleitos, alimentar a agitação política e potencialmente desestabilizar as instituições democráticas ao longo do tempo.

Gana não é uma exceção, pois os defensores da democracia notaram um aumento perigoso da desinformação antes da eleição de 7 de dezembro de 2024. De acordo com o International Freedom of Expression Exchange, os principais fatores desse problema incluem a propaganda de partidos políticos, a priorização da velocidade em detrimento da precisão pela mídia tradicional e os desafios regulatórios enfrentados pelo governo de Gana.

Um vídeo recente do YouTube destaca como alguns políticos de Gana estão aproveitando as redes sociais para desinformar e influenciar a opinião pública, até mesmo pagando influenciadores para promover seus objetivos. Por exemplo, em 2022, quando Gana passou por uma crise econômica na qual o cedi ganês se desvalorizou muito em relação ao dólar, vários influenciadores do Twitter foram supostamente pagos para publicar elogios enganosos sobre os esforços do governo no poder para fortalecer o cedi.

Em outro vídeo da VOA, o jornalista Bernard Avle explica como a tecnologia de IA foi usada para clonar sua voz e fala de introdução, que foi então usada para promover produtos para aumentar o desempenho sexual no Facebook sem seu consentimento.

Durante a eleição de 2020, as notícias falsas e a informação equivocada contribuíram para a desordem, com pelo menos oito mortes ligadas à violência política. Este ano, os especialistas em tecnologia e política estão preocupados com o fato de que as tecnologias de clonagem por IA podem piorar a situação. Conforme observado neste vídeo, a Citi FM já detectou um aumento na desinformação, os autores se aproveitam da marca e da credibilidade do meio de comunicação para divulgar informações falsas. A TV3 Ghana, uma das mais importantes empresas de mídia do país, foi vítima disso recentemente, conforme destacado no tweet abaixo:

🚨Kindly disregard this creative circulated on various social media platforms.

For the latest news, head to our official website: https://t.co/9cC9uTaGco#TV3GH pic.twitter.com/X1wETX6M3l

— #TV3GH (@tv3_ghana) June 7, 2024

Por gentileza, desconsidere esse material que circulou em várias plataformas de redes sociais.

Para obter as últimas notícias, acesse nosso site oficial: https://t.co/9cC9uTaGco#TV3GH pic.twitter.com/X1wETX6M3l

- #TV3GH (@tv3_ghana) 7 de junho de 2024

Reconhecendo a gravidade desse problema, um grupo de jovens ganenses organizou uma conferência intitulada Youth Against Disinformation (Jovens contra a desinformação). Em uma entrevista com a Global Voices, Malise Omoloye, 20 anos, jornalista, criador de conteúdo e um dos coanfitriões do evento, compartilhou suas percepções sobre a motivação por trás da conferência e os principais resultados.

(ZZ): Recentemente, você foi coanfitrião da conferência Youth Against Disinformation (Jovens contra a desinformação) em Gana. Poderia falar sobre o que é essa conferência e o que o motivou a organizá-la?

(MO): The Youth Against Disinformation conference is a platform focused on addressing the spread of misinformation and disinformation, particularly as it affects young people. This conference brings together youth across all industries, digital creators, and advocates for media literacy to empower them with skills to identify, counter, and prevent the spread of false information. The event provided a platform for open discussions and collaborative efforts among participants to build a more informed and media-literate generation.

What motivated me to co-host the event was my passion for Media Information Literacy and my commitment to empowering young people with the skills and tools necessary to navigate today’s complex media landscape. As a journalist and content creator, I recognize the immense influence that misinformation can have on public opinion and social dynamics. By educating and equipping the youth, we can foster a more discerning, critical approach to media consumption. Partnering with organizations like Penplusbytes, UNESCO Ghana, DW Akademie, and Youth Komnunity made this conference a powerful opportunity to make a meaningful impact.

(MO): A conferência Jovens contra a desinformação é uma plataforma voltada para a abordagem da disseminação de informações incorretas e desinformação, especialmente quando afetam os jovens. Essa conferência reúne jovens de todos os setores, criadores digitais e defensores da alfabetização midiática para capacitá-los com habilidades para identificar, combater e impedir a disseminação de informações falsas. O evento ofereceu uma plataforma para discussões abertas e esforços de colaboração entre os participantes para criar uma geração mais informada e alfabetizada em mídia.

O que me motivou a coorganizar o evento foi minha paixão pela alfabetização em informações mididáticas e meu compromisso em capacitar os jovens com as habilidades e ferramentas necessárias para navegar no complexo cenário da mídia atual. Como jornalista e criador de conteúdo, reconheço a imensa influência que a desinformação pode ter sobre a opinião pública e a dinâmica social. Ao educar e equipar os jovens, podemos promover uma abordagem mais criteriosa e crítica do consumo mididático. A parceria com organizações como Penplusbytes, UNESCO Ghana, DW Akademie e Youth Komnunity tornou essa conferência em uma grande oportunidade para causar um impacto significativo.

View this post on Instagram

A post shared by Malise Cullen (@malisecullen)

Na última quinta-feira, tive o privilégio de ser coanfitrião da conferência Jovens contra a desinformação, organizada por @penplusbytes, @unescoghananatcom, DW Akademia e @youthkommunity com a incrível Esenam Amuzu. O destaque do evento foi a organização de um painel de discussão instigante sobre “A desinformação e sua influência na tomada de decisões e ações nas urnas” com os estimados convidados Amedorme Espoire, Dr. Imurana Mohammed e Jerry Sam. Agradecimentos especiais aos nossos palestrantes por compartilharem seus conhecimentos e percepções, e também aos participantes que estiveram presentes.

(ZZ): Quais foram os resultados dessa conferência?

(MO): One of the significant outcomes of the conference was the interactive breakout sessions that provided participants with hands-on training in fact-checking tools and essential cybersecurity practices. During this session, attendees were introduced to Dubawa, a prominent fact-checking platform in West Africa, which enables users to verify the authenticity of news, images, and information. Participants gained valuable skills to detect and counter misinformation in real time using the Dubawa bot.

In addition to fact-checking, the other session covered crucial aspects of cybersecurity and intelligence, emphasizing the importance of safe online practices and personal data protection. Participants learned strategies for safeguarding their digital presence, recognizing phishing attempts, and understanding the basics of cyber threats. This is particularly vital in an era where disinformation often spreads through digital platforms and where cyber threats can compromise both individual privacy and the reliability of shared information.

Um dos resultados significativos da conferência foram as sessões interativas que proporcionaram aos participantes um treinamento práticos sobre ferramentas de verificação de fatos e práticas essenciais de segurança cibernética. Durante essa sessão, os participantes foram apresentados ao Dubawa, uma plataforma de verificação de fatos proeminente na África Ocidental, que permite aos usuários verificar a autenticidade de notícias, imagens e informações. Os participantes adquiriram habilidades valiosas para detectar e combater a desinformação em tempo real usando o bot do Dubawa.

Além da verificação de fatos, a outra sessão abordou aspectos cruciais de segurança cibernética e inteligência, enfatizando a importância de práticas on-line seguras e proteção de dados pessoais. Os participantes aprenderam estratégias para proteger sua presença digital, reconhecer tentativas de phishing e compreender os fundamentos das ameaças cibernéticas. Isso é particularmente importante em uma época em que a desinformação se espalha com frequência por meio de plataformas digitais e onde as ameaças cibernéticas podem comprometer a privacidade individual e a confiabilidade das informações compartilhadas.

(ZZ): Você moderou um painel de discussão sobre desinformação e sua influência nas pesquisas. Pode nos contar sobre o que foi esse painel de discussão e quais foram suas principais conclusões?

(MO): Moderating the panel discussion on ‘Disinformation and its Influence on Decision-Making and Actions at the Polls’ provided an insightful look into how misinformation affects democratic processes, particularly during elections. This discussion explored the ways in which false information, spread through social media and other digital channels, can shape public perception, sway voter behavior, and ultimately influence election outcomes. Given the critical role that elections play in shaping policy and governance, the discussion highlighted the importance of countering disinformation to ensure informed and fair decision-making among voters.

A moderação do painel de discussão sobre “A desinformação e sua influência na tomada de decisões e ações nas urnas” proporcionou uma visão perspicaz de como a desinformação afeta os processos democráticos, especialmente durante as eleições. Essa discussão explorou as maneiras pelas quais as informações falsas, disseminadas pelas redes sociais e outros canais digitais, podem moldar a percepção do público, influenciar o comportamento dos eleitores e, por fim, influenciar os resultados das eleições. Dado o papel fundamental que as eleições desempenham na formação de políticas e governança, a discussão destacou a importância de combater a desinformação para garantir uma tomada de decisão informada e justa entre os eleitores.

Essa pesquisa sobre redes sociais e eleições em Gana destaca como os partidos políticos usam cada vez mais as redes sociais como um canal estratégico para alcançar e envolver os eleitores, principalmente pessoas entre 18 e 35 anos.

Com uma população superior a 34,65 milhões de habitantes, mais da metade dos ganenses se conecta pela internet. O WhatsApp é a plataforma mais usada, atingindo 10,1 milhões de usuários, e é muito utilizado tanto pelo partido governante quanto pela oposição para disseminar mensagens durante os períodos eleitorais. O Facebook, com 7,4 milhões de usuários, vem em seguida em popularidade, e o Congresso Democrático Nacional e o Novo Partido Patriótico compartilham conteúdos regularmente, algumas vezes incluem desinformação e ataques a seus rivais. Embora o X (antigo Twitter) tenha uma base de usuários menor, de 1,17 milhão em Gana, continua sendo uma plataforma importante para discussões sobre questões nacionais.

De acordo com o site de notícias MyJoyOnline, no dia 9 de novembro, uma coalizão de organizações da sociedade civil conhecida como Ghana Fact-Checking Coalition lançou uma grande iniciativa para combater a desinformação e a informação equivocada que ameaçam a integridade democrática do país. Essa iniciativa reúne mais de 100 veículos de mídia e cerca de 50 jornalistas de Gana, que ajudarão a verificar e distribuir relatórios de verificação de fatos para as comunidades em todo o país. Para atingir públicos diversos, os relatórios estarão disponíveis em aproximadamente 45 idiomas locais.

À medida que os ganenses se preparam para ir às urnas em 7 de dezembro, só o tempo dirá se essas iniciativas conseguiram conter a disseminação da desinformação e informação equivocada.