Onde estão agora os líderes da Revolução dos Guarda-chuvas de Hong Kong de 2014?

Benny Tai (centro) e ativistas posam para fotos em Admiralty em 28 de outubro de 2014. Foto: Tom Grundy/HKFP.

Esta reportagem foi publicada no Hong Kong Free Press no dia 29 de setembro de 2024. A versão editada a seguir foi publicada como parte de um acordo de parceria de conteúdo.

28 de setembro de 2024, marca o 10° aniversário de início da Revolução dos Guarda-chuvas de Hong Kong, que viu manifestantes ocuparem as principais vias em distritos importantes para clamar pelo direito de eleger os seus próprios representantes.

A campanha de 79 dias de desobediência civil foi lançada em resposta a uma determinação de Pequim que permitiria aos habitantes de Hong Kong votarem para seu chefe do executivo, mas apenas entre candidatos aprovados pelo governo central.

A ocupação das ruas principais foi amplamente pacífica e líderes do movimento receberam penas relativamente leves pelas infrações de 2014. Suas demandas políticas não foram atendidas. Enormes protestos que varreram a cidade quase cinco anos atrás, causando danos generalizados, prisões em massa e ferimentos, resultaram em mais de 10.000 detenções, com centenas de indivíduos sendo encarcerados.

Leia mais nos arquivos: Cobertura especial sobre a Revolução dos Guarda-chuvas da Global Voices

Em 2020, uma Lei de Segurança Nacional (NSL) imposta por Pequim entrou em vigor, determinando penas até de prisão perpétua e, efetivamente, colocando fim às manifestações públicas de divergências na cidade.

A Revolução dos Guarda-chuvas começou no dia 28 de setembro de 2014, quando a polícia lançou gás lacrimogênio nos manifestantes que haviam se reunido na rua Harcourt em Admiralty. Foi a primeira vez que o agente químico havia sido usado contra os habitantes de Hong Kong desde os tumultos esquerdistas em 1967. No segundo dia, manifestantes já haviam ocupado locais importantes da cidade, onde ficariam por semanas. A Revolução dos Guarda-chuvas acabou naquele dezembro,  depois que empresas de transporte público afetadas pelo fechamento das vias conseguiram uma medida liminar.

Vários líderes dos protestos emergiram durante a campanha de desobediência civil, alguns se tornaram famosos dentro e fora da cidade. Dos 12 ativistas acusados em dois julgamentos de grande visibilidade nos anos seguintes às manifestações, dois passaram os últimos anos presos.

Outros deixaram Hong Kong e foram para lugares como Taiwan e Estados Unidos, e alguns parecem ter se retirado da política completamente.

O HKFP analisa o envolvimento deles em um dos maiores movimentos pró-democracia de Hong Kong, onde eles estão hoje e o que pensam sobre as mudanças na cidade.

Joshua Wong

Joshua Wong, que estava na escola secundária na época e era um líder do grupo estudantil Escolarismo, liderou um boicote às aulas no período que precedeu os protestos. Ele foi preso no dia 24 de setembro de 2014, depois que ele e outros tumultuaram a Praça Cívica em frente à sede do governo.

Ativista Joshua Wong durante a Revolução dos Guarda-chuvas em 2014. Foto: Tom Grundy/HKFP.

Condenação e sentença: Wong foi considerado culpado de fazer parte de uma reunião ilegal na Praça Cívica em julho de 2016 e recebeu uma pena de 80 horas de serviço comunitário. Ele foi considerado inocente quanto a incitar outros a fazerem parte de uma reunião ilegal. O governo então contestou a sentença na Corte de Apelação, com um representante do Departamento de Justiça (DOJ) argumentando pela prisão imediata dos ativistas. O DOJ venceu e Wong foi condenado a uma pena de seis meses de prisão em agosto de 2017, mas foi anulada em fevereiro de 2018, quando a Corte de Apelação Final restabeleceu as sentenças alternativas originais.

Onde ele está agora? Wong está detido desde novembro de 2020, quando lhe foi negado o direito à fiança antes da sentença por uma acusação relacionada a um protesto em 2019. Em março de 2021, ele foi acusado de conspirar para cometer subversão baseado na lei de segurança nacional imposta por Pequim em junho de 2020. Desde então, ele tem cumprido tempo de prisão por outras infrações relacionadas a protestos, e aguarda a sentença depois de se declarar culpado da acusação de subversão como parte do maior caso de segurança nacional da cidade.

Nathan Law

Um estudante universitário em 2014, Nathan Law também era membro da Federação de Estudante de Hong Kong. Ele foi preso durante o tumulto na Praça Cívica.

Eason Chung, Yvonne Leung, Nathan Law, Lester Shum e Alex Chow (a partir da esquerda) discursam em Admiralty no dia 20 de outubro de 2014. Foto: Tom Grundy/HKFP.

Condenação e sentença: Law foi considerado culpado de incitar outros a participarem de uma reunião ilegal em 2016 durante os eventos na Praça Cívica e recebeu uma pena de 120 horas de serviço comunitário. Após um apelo do governo, ele recebeu uma pena de oito meses de prisão, embora tenha sido anulada pela Corte de Apelação Final.

Onde ele está agora? Law anunciou em julho de 2020, dias depois de Pequim impor sua lei de segurança nacional, que ele se mudou para o Reino Unido. Ano passado, a polícia de segurança nacional da cidade emitiu mandatos de prisão para Law e 12 outras figuras pró-democracia no exterior por alegadas violações da lei de segurança, oferecendo recompensas de HK$ 1 milhão (US$ 128.680) por cada cabeça. Ele continuou envolvido em ativismo, embora em agosto o Conselho de Democracia de Hong Kong (HKDC) — um grupo de advogados com base em Washington DC, do qual ele foi cofundador — tenha cortado relações com Law. Meios de comunicação reportaram que o rompimento estava relacionado a alegações de assédio sexual feitas contra Law, o que ele negou.

Alex Chow

Alex Chow era um estudante da Universidade de Hong Kong e secretário-geral da Federação de Estudantes de Hong Kong durante a Revolução dos Guarda-chuvas. Assim como Wong e Law, ele foi preso durante a manifestação na Praça Cívica. Ele disse ao HKFP que passou as semanas anteriores aos protestos dormindo do lado de fora do Conselho Legislativo e se encontrando com legisladores pró-democracia, ativistas e outros grupos da sociedade civil.

Alex Chow. Foto de arquivo: HKFP.

Condenação e sentença: Chow foi considerado culpado de participar de uma reunião ilegal e recebeu uma pena de três semanas na prisão suspensa por um ano. Após um recurso do governo, a Corte de Apelação o condenou a uma pena de sete meses de prisão, que mais tarde foi anulada pelo tribunal superior da cidade, determinando que a pena original que havia sido suspensa seria suficiente.

Onde ele está agora? Ele, agora com 34 anos, vive nos EUA, onde pesquisa sobre a sociedade civil de Hong Kong para sua tese de doutorado em Geografia, e possui um assento no Conselho de Democracia de Hong Kong.

Chow disse ao HKFP no início desse mês que era “devastador” o fato de não ter havido nenhum grande protesto em Hong Kong desde a efetivação das leis de segurança nacional. Em 2014, ainda havia espaço para se debater a possibilidade de uma reforma democrática sob a abordagem Um País, Dois Sistemas do governo de Hong Kong. Agora, Chow disse, esse espaço desapareceu.

Chow acrescentou que não tinha planos de retornar à cidade, visto que acredita não ser seguro para ele.

Benny Tai

Benny Tai, então professor de direito na Universidade de Hong Kong, liderou a campanha Ocupe o Centro com Amor e Paz, que defendia uma desobediência civil não violenta civil. Sendo um conhecido ativista pró-democracia, era um dos rostos mais reconhecíveis do movimento de 79 dias.

Benny Tai. Foto do arquivo: Jennifer Creery/HKFP.

Condenação e sentença: Tai foi acusado de conspiração para cometer perturbação pública, “incitação para cometer perturbação da ordem pública” e “incitação para incitar a perturbação da ordem pública” e julgado junto com outros oito — conhecidos como os Nove de Occupy — por conta do envolvimento deles na Revolução dos Guarda-chuvas. Em abril de 2019, Tai foi considerado culpado das duas primeiras acusações e sentenciado a um ano e quatro meses de prisão.

Onde ele está agora? Tai foi uma das 47 figuras pró-democracia acusadas de conspiração para cometer subversão no maior caso de segurança nacional da cidade. Ele está detido desde que foi levado sob custódia da polícia no dia 28 de fevereiro de 2021, antes de uma extensa audiência de fiança no início de março daquele ano. Ele se declarou culpado da acusação e foi descrito pela promotoria como o “cérebro” da conspiração para subverter o poder do estado. Assim como todos os 45 condenados no caso, Tai encara a pena de prisão perpétua.

Chan Kin-man

Chan Kin-man, na época professor de sociologia na Universidade Chinesa de Hong Kong, liderou a campanha Occupy Central com Tai e Chu Yiu-ming.

Chan Kin-man discursando no segundo aniversário da Revolução dos Guarda-chuvas. Foto: Stanley Leung/HKFP.

Condenação e sentença: Chan enfrentou as mesmas três acusações que Tai, e também foi condenado nas duas primeiras, recebendo uma pena de 16 meses de prisão. Sendo o único dos três líderes da campanha a testemunhar pessoalmente durante o julgamento, Chan disse no tribunal que o trio do Ocuppy perdeu o controle depois que o movimento escalou para uma ocupação completa da rua.

Onde ele está agora? Chan se mudou para Taiwan em 2021 para assumir uma posição de professor visitante na Universidade Nacional de Chengchi em Taipei, onde ministrou cursos sobre movimentos sociais e a China. No mês passado, disse em um post no Facebook que seu período de atuação havia terminado, e que ele estava se juntando ao departamento de sociologia da Academia Sinica, uma escola de pesquisa em Taipei.

Chu Yiu-ming

Chu Yiu-ming era pastor com uma longa história de trabalho com grupos desfavorecidos. Sendo um ativista veterano, ajudou apoiadores pró-democracia na China a fugirem durante a repressão de Pequim em 1989, como parte da Operação Yellowbird.

Reverendo Chu Yiu-ming. Foto do arquivo: Jennifer Creery/HKFP.

Condenação e sentença: Chu enfrentou as mesmas três acusações que Tai e Chan, mas foi considerado culpado apenas de conspiração para cometer perturbação da ordem pública. O pastor, que tinha 75 anos na época, recebeu uma pena de 16 meses de prisão suspensa por dois anos. O juiz disse que estava impressionado com o comprometimento de Chu com a justiça social, acrescentando que optou pela leniência devido à sua idade, saúde e contribuições à sociedade ao longo de três décadas.

Onde ele está agora? O reverendo deixou Hong Kong e foi para Taiwan em dezembro de 2020, de acordo com relatos da mídia. Chu e Chan contribuíram para um livro de ensaios em agosto de 2024 para marcar os 10 anos desde o movimento. No início deste mês, a dupla organizou uma sessão de autógrafos em Taipei.

Raphael Wong

O ativista Raphael Wong foi vice-presidente do partido pró-democracia, a Liga dos Social Democratas (LSD), durante a Revolução dos Guarda-chuvas. Durante seu julgamento, foi dito que ele havia convocado os manifestantes para bloquear as ruas próximas à sede do governo no primeiro dia dos protestos.

Raphael Wong. Foto do arquivo: Holmes Chan/HKFP.

Condenação e sentença: Wong foi considerado culpado de incitação para cometer perturbação da ordem pública e incitação para incitar perturbação da ordem pública. Ele era o único membro dos Nove do Occupy que tinha antecedentes criminais, tendo sido preso anteriormente por infrações relacionadas a protestos, mas o juiz disse que não iria aplicar uma pena mais pesada devido a isso. Wong foi preso por oito meses.

Onde ele está agora? Wong ainda está em Hong Kong e ainda é membro da LSD, continuando a participar de protestos de menores organizados pelo grupo. Em maio, ele e outros ativistas da LSD foram presos do lado de fora do prédio do tribunal onde o veredito no caso dos 47 democratas estava sendo anunciado. Eles foram liberados sem acusações.

Wong disse ao HKFP, em setembro, que ele nunca poderia ter imaginado os desenvolvimentos políticos vistos em Hong Kong nos últimos anos — que os protestos e agitações em 2019 se desdobrariam daquela forma, ou que manifestações desse tipo se tonariam, essencialmente, ilegais. Ao refletir sobre a Revolução dos Guarda-chuvas, Wong disse que não foi nem um sucesso e nem um fracasso, mas que “tem o seu próprio significado”.

Shiu Ka-chun

Shiu Ka-chun era professor de Serviço Social na Universidade Batista de Hong Kong durante a Revolução dos Guarda-chuvas. De acordo com o julgamento do caso dos Nove do Occupy, ele estava entre os ativistas que convocaram os manifestantes a ocuparem as ruas próximas à sede do governo no primeiro dia da Revolução dos Guarda-chuvas.

Condenação e sentença: Shiu foi considerado culpado de incitar outros a cometer perturbação da ordem pública e “incitação para perturbação da ordem pública”. Ele foi preso por oito meses.

Onde ele está agora? Shiu foi eleito legislador na qualidade de representante do setor de assistência social em 2016. Mais tarde, fundou um grupo de apoio aos direitos dos presos focado em ajudar aqueles que foram detidos por causa dos protestos em 2019, mas foi desativado com a implementação da lei de segurança nacional de Pequim. Shiu ainda está em Hong Kong e continua a apoiar os direitos dos prisioneiros. Ele não quis comentar sobre a Revolução dos Guarda-chuvas.

Tommy Cheung Sau-yin

Quando os protestos de 2014 começaram, Tommy Cheung Sau-yin era estudante na Universidade Chinesa de Hong Kong, onde foi presidente da união dos estudantes. Também foi um dos líderes da Federação de Estudantes de Hong Kong.

Tommy Cheung. Foto: Holmes Chan/HKFP.

Condenação e sentença: Cheung foi considerado culpado de “incitação para cometer perturbação da ordem pública” e “incitação para perturbação da ordem pública”, e foi preso por oito meses.

Onde ele está agora? O ex-ativista estudantil foi eleito como vereador do distrito de Yuen Long em 2019, mas renunciou em outubro de 2021. Ano passado, jornalistas informaram que Cheung havia escrito um artigo em uma publicação patriótica, que dizia que ele era afiliado ao Centro de Estudantes da Lei Básica, vinculado à Fundação da Lei Básica de Hong Kong pró-Pequim.

Cheung também virou notícia por acumular dívidas e foi declarado falido pelo Tribunal Superior em Julho.

Eason Chung

Eason Chung era estudante na Universidade Chinesa de Hong Kong durante a Revolução dos Guarda-chuvas. Era também membro da Federação de Estudantes de Hong Kong.

Eason Chung. Foto: Holmes Chan/HKFP.

Condenação e sentença: Chung foi considerado culpado de “incitação para cometer perturbação da ordem pública” e “incitação para perturbação da ordem pública”. Foi preso por oito meses, mas a sentença foi suspensa por dois anos, com o juiz citando sua motivação por trás da infração, sua idade e “falta de experiência de vida”.

Onde ele está agora? Chung se mudou para Taiwan em 2021 e para o Reino Unido em 2022, de acordo com um ensaio que ele escreveu para o veículo de comunicação de Taiwan, The Reporter. Desde março, o ex-ativista estudantil tem compartilhado seus textos nas redes sociais com o nome de usuário “Yiuwa.is.writing”, onde explora tópicos como viagens e livros.

Lee Wing-tat

Lee Wing-tat, ex-legislador do Partido democrático, era coordenador de pesquisa durante a Revolução dos Guarda-chuvas.

Vice presidente do Partido Democrático Lee Wing-tat. Foto do arquivo: Jennifer Creery/HKFP,

Condenação e sentença: Lee foi considerado culpado de “incitação para cometer perturbação da ordem pública” e preso por oito meses. O juiz observou que Lee serviu a Hong Kong em “vários cargos públicos que ocupou por mais de 30 anos”.

Onde ele está agora? Lee se mudou para o Reino Unido em 2021, de acordo com Points Media, um veículo de notícias com base no Reino Unido que cobre Hong Kong. Tendo se aposentado alguns anos atrás, ele apoia campanhas de defesa fundadas por cidadãos de Hong Kong no Reino Unido, incluindo uma que convoca as pessoas a votarem em políticos que apoiaram a causa pró-democracia de Hong Kong durante as recentes eleições gerais do Reino Unido. Em meados de setembro, Lee participou da comemoração de aniversário do último governador britânico de Hong Kong, Chris Patten, que foi organizada pela ONG Hong Kong Watch.

Tanya Chan

Tanya Chan era legisladora pelo Partido Cívico quando a Revolução dos Guarda-chuvas começou. Ela também é advogada especialista em litígios.

Tanya Chan. Foto do arquivo: Holmes Chan/HKFP.

Condenação e sentença: Chan foi considerada culpada de “incitação para cometer perturbação da ordem pública” e “incitação para perturbação da ordem pública”. Sua sentença ocorreu cerca de um mês depois dos outros oito no julgamento dos Nove do Occupy porque ela teve que passar por uma cirurgia para remover um tumor cerebral. O juiz sentenciou Chan a uma pena de oito meses de prisão, suspensa por dois anos em virtude de sua condição de saúde.

Onde ela está agora? Chan anunciou em setembro de 2020 que se retiraria da política e deixaria o Partido Cívico. Meios de comunicação relataram que ela se mudou para Taiwan em 2021 e começou a cozinhar como um hobby. No último mês de abril, um restaurante em Taipei anunciou que ela estava fazendo um turno de um dia como chefe convidada.

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