
Defensores da liberdade de imprensa condenam o ataque contra o escritório do Jubi News na Papua. Captura de tela de vídeo do canal de YouTube Redaksi JubiTV. Uso permitido.
Um coquetel Molotov foi atirado na lateral do jornal papuano Jujur Bicara, popularmente conhecido como Jubi, um ato que foi rapidamente acusado por grupos de jornalismo e direitos humanos de ser um ataque à liberdade de imprensa na Indonésia.
A bomba destruiu dois carros antes que funcionários do Jubi conseguissem apagar o fogo. Esse não é o primeiro ataque ao Jubi. Em 2023, o editor do Jubi, Victor Mambor, fez uma queixa à polícia depois que uma bomba foi colocada perto da sua casa. Em uma postagem no X (antigo Twitter), ele escreveu sobre a série de ataques contra ele, que ele acredita estarem todos conectados ao seu trabalho como jornalista.
First, they broke the brakes on my car and almost drove me off the road on my way to work. Second, they vandalized my car and scrawled all over it. My windshield was damaged and had to be replaced. Third, they terrorized me by placing a homemade bomb next to my house. The bomb exploded but there was no damage or casualties. And few days ago, they threw Molotov cocktails at my office. Two cars were burnt and damaged. What will they do next?
Primeiro, eles danificaram os freios do meu carro e eu quase sofri um acidente a caminho do trabalho. Depois, vandalizaram e riscaram todo o meu carro. Meu para-brisas foi danificado e teve que ser substituído. Terceiro, eles me ameaçaram colocando uma bomba caseira do lado da minha casa. A bomba explodiu, mas não houve danos nem feridos. Alguns dias depois, atiraram coquetéis Molotov no meu escritório. Dois carros queimaram e ficaram danificados. O que vão fazer em seguida?
As autoridades foram criticadas por não investigarem propriamente os ataques anteriores.
O Jubi é conhecido por seu jornalismo crítico na Papua, uma ilha que luta por independência desde que o governo da Indonésia anexou a região em 1963. O governo indonésio foi acusado de perpetuar o racismo na Papua, oprimindo com violência o povo indígena de lá, e silenciando a cobertura de mídia que denuncia os abusos.
O Jubi publicou reportagens sobre vários tópicos controversos, incluindo o impacto de projetos de larga escala na população local e os abusos de direitos humanos contra as comunidades indígenas. Jornalistas e instituições estrangeiros também não conseguem entrar facilmente na Papua, o que faz o trabalho de jornais independentes como o Jubi importantes para promover o acesso a informação verídica.
Em outro post no X, Mambor publicou um vídeo do ataque:
It doesn’t matter what the explosive material is called. Gasoline, polymer, or whatever. What is clear is that there were two people who deliberately threw something that then exploded and burned two of our vehicles. The target is clear: the facilities we ( @News_jubi ) own and… pic.twitter.com/CAudx1ncq5
— Victor Mambor (@VictorcMambor) October 22, 2024
Não importa qual é o nome do material explosivo. Gasolina, polímero, ou qualquer outra coisa. O que está claro aqui é que duas pessoas deliberadamente jogaram alguma coisa que explodiu e queimou dois de nossos carros. O alvo é claro: o prédio que nós (@News_Jubi) temos e…
Grupos de jornalismo e da sociedade civil rapidamente condenaram o ataque ao Jubi. A União dos Trabalhadores da Mídia e Indústria Criativa para a Democracia descreveu o ataque como um “ato irresponsável” e acrescentou que “esse ato não vai desencorajar o trabalho jornalístico que está do lado da verdade”.
A Aliança de Jornalistas Independentes enfatizou que “é urgente garantir que a mídia pode operar sem medo de retaliação”.
Chanry Suripatty, coordenador da Associação Indonésia de Jornalistas Televisivos de Papua-Maluku, disse em um comunicado que o ataque ameaça a liberdade de imprensa e a democracia na Papua:
Attacks on the media cannot be taken lightly. This is not only a physical threat, but also a direct attack on press freedom, and democracy in the land of Papua.
We suspect this is a systematic effort to curb press freedom and democracy in the land of Papua. If press freedom continues to be intimidated, what is at stake is not only the right of journalists, but also the public's right to obtain information that is truthful, and balanced.
Ataques à mídia não podem ser subestimados. Isso não é apenas uma ameaça física, mas também um ataque direto à liberdade de imprensa, e à democracia na Papua. Nós suspeitamos que isso é um esforço sistemático para limitar a liberdade de imprensa e a democracia na Papua. Se a liberdade de imprensa continuar a ser intimidade, o que está em jogo não é apenas o direito dos jornalistas, mas também o direito do público de obter informação que é verdadeira, e equilibrada.
Bernard Baru, um padre católico agostiniano e ativista, destacou o impacto do ataque no trabalho da mídia local. Ele também apontou que o ataque aconteceu poucos dias antes da inauguração do novo governo da Indonésia liderado por Prabowo Subianto, um ex-militar acusado de cometer abusos de direitos humanos durante o regime Suharto.
Papuans rely on media like this to convey their voices to outsiders.
This is an attempt to scare journalists.
Papuanos dependem de jornais como esse para serem ouvidos pelas pessoas de fora. Isso é uma tentativa de assustar os jornalistas.
Gustaf Kawer, diretor da Associação dos Advogados de Direitos Humanos de Papua, apressou as autoridades a prenderem quem foi responsável pelo ataque:
If left unsolved, the public will wonder who is behind it. Are they outsiders or part of the authorities? I believe it is essential to clarify the perpetrators to prevent future incidents and ensure that the press can operate freely.
Se não resolvermos isso, o público vai se perguntar quem está por trás disso. São estrangeiros ou gente do governo? Eu acho que é essencial esclarecer quem são os criminosos para evitar futuros incidentes e garantir que a mídia possa trabalhar livremente.
A Rede de Apoio da Papua Ocidental Merdeka expressou solidariedade com o Jubi e outros jornalistas que continuam a reportar sobre a situação na Papua:
We stand with Jubi and Mambor and all the journalists braving the most dangerous situation for the press and democracy in West Papua. The Indonesian government maintains its ban on United Nations officials and journalists to enter and report inside West Papua.
These violent assaults are nothing but utmost desperation to sow fear and intimidation from those in power to expose the reality in West Papua, and silence and vilify any efforts to amplify the West Papuan’s call, Papua Merdeka! [Free Papua!]
Apoiamos o Jubi e Mambor e todos os jornalistas enfrentando corajosamente a situação mais perigosa para a imprensa e democracia na Papua Ocidental. O governo indonésio mantém seu bloqueio à entrada de jornalistas e funcionários das Nações Unidas para trabalhar dentro da Papua Ocidental. Esses ataques violentos não são mais que desespero em espalhar medo e intimidar aqueles com poder de expor a realidade na Papua Ocidental, e silenciar e difamar qualquer esforço de amplificar o grito da Papua Ocidental, Papua Merdeka! [Papua Livre].