
Cópia do mapa-múndi de Muhammad Al-Idrisi, de 1456, por ‘Alî ibn Hasan al-Hûfî al-Qâsimî. O mapa original data de 1154. O sul está na parte superior do mapa. Imagem via Wikimedia Commons. Domínio Público.
O termo “Oriente Médio e Norte da África” (MENA, na terminologia internacional), tem sido usado há muito tempo para descrever uma região vasta e diversificada, que se estende do Marrocos, no oeste, ao Irã, no leste. Porém, o termo vem sendo criticado por seu eurocentrismo e, nos últimos anos, temos visto um impulso crescente para substituir MENA por acrônimos como SWANA (Sudoeste Asiático e Norte da África) ou WANA (Ásia Ocidental e Norte da África).
Como parte de nossa missão de ampliar vozes de todo o mundo e em reconhecimento à importância da linguagem, a Global Voices decidiu adotar o termo WANA em vez de MENA, como forma de desafiar essas terminologias ultrapassadas e coloniais.
A mudança reflete a crescente conscientização sobre legados coloniais e o desejo de desmantelá-los em todo o mundo. A descolonização da linguagem e da terminologia para descrever o mundo e seus povos faz parte do processo.
“Meio de onde, leste de quê?”
O termo “Oriente Médio“, cunhado no século 19, tem raízes no colonialismo europeu. Ele reflete uma visão eurocêntrica, que coloca a Europa no centro do mapa-múndi e rotula as regiões a leste de acordo com sua distância desse centro.
O uso de “Oriente Médio” perpetua essa mentalidade ocidental, pois continua a enquadrar a região sob tal perspectiva. O acréscimo de “Norte da África” para formar MENA pouco faz para resolver a questão, pois continua a vincular duas regiões, uma caracterizada pela própria geografia continental e a outra por seu relacionamento com a Europa, sob um único termo, que não reconhece suas identidades e experiências históricas distintas.
Um debate árabe?
Em árabe, o termo usado para descrever a região varia, e muitas vezes depende de contextos políticos. O mais comum é, na verdade, “الشرق الأوسط“, que se traduz diretamente no eurocêntrico “Oriente Médio”. Embora outros termos, como “غرب آسيا“, que significa “Ásia Ocidental”, sejam às vezes usados como uma opção de descolonização no discurso acadêmico e político, eles não são tão comuns quanto “Oriente Médio”. “Ásia Ocidental”, no entanto, aparece principalmente em relatórios das Nações Unidas, bem como em eventos esportivos ou campeonatos regionais.
Outros termos comuns são “الوطن العربي“, traduzido como “pátria árabe”, ou “العالم العربي“, que significa “mundo árabe”, frequentemente usados para enfatizar os laços linguísticos, culturais e históricos compartilhados pelos povos árabes nos 22 países que compõem a Liga Árabe. Porém, essa terminologia controversa exclui os países que não falam árabe na área mais ampla da WANA e, principalmente, os grupos não árabes que são parte intrínseca dos diversos povos da região, como curdos, berberes, armênios, assírios e outros. “Mundo islâmico” é outro termo usado com frequência para descrever uma região maior que, por sua vez, exclui os grupos não muçulmanos que vivem nessa área geográfica, e muitos grupos muçulmanos que vivem fora dela.
Embora ocorram debates em árabe sobre o uso da linguagem em relação à identidade, geografia e descolonização, seu impacto geral é menos influente do que os debates em inglês. O mesmo pode ser dito de outros idiomas importantes, como francês, espanhol e mandarim, que ainda usam predominantemente termos equivalentes a “Oriente Médio”, em vez de termos geograficamente mais precisos como “Ásia Ocidental”. No entanto, mesmo que limitados, os debates estão ocorrendo.
Porque SWANA ou WANA?
Um dos principais argumentos para adotar SWANA ou WANA é a precisão geográfica que os termos proporcionam. “Norte da África”, “Sudoeste Asiático” e “Ásia Ocidental” concentram-se na própria geografia da região, colocando-a em um contexto continental, e descentralizando os termos da perspectiva europeia.
O uso de WANA ganhou força entre acadêmicos e ativistas decoloniais, que buscam desafiar o eurocentrismo ou o orientalismo implícito em termos como MENA, mundo árabe, mundo islâmico e outros, usados para descrever essas áreas vastas e diversas.
A designação puramente geográfica de SWANA ou WANA pode identificar a diversidade dessas regiões, bem como a proximidade e as conexões entre suas partes.
Esses termos geográficos permitem uma compreensão mais matizada da identidade, que não é limitada por categorizações coloniais ou culturais. Ao adotar WANA para descrever a vasta área geográfica interconectada, podemos honrar melhor sua rica diversidade e as pessoas que a chamam de lar.