A modelo sul-africana, Chidimma Vanessa Owen Adetshina, avançou na classificação do concurso de beleza Miss Sul-Africana e agora está entre os 13 primeiros lugares. A conquista, porém, veio acompanhada de uma onda de repercussões negativas questionando a nacionalidade da modelo e sua elegibilidade para o concurso.
Um usuário no X (antigo Twitter) disse:
She might have dual IDs, but that doesn't make her South African. She's still 100% Nigerian.
— P_MAX (@DDT_PM) July 17, 2024
Ela pode ter duas identidades, mas isso não faz dela sul-africana. Ela ainda é 100% nigeriana.
Outro usuário acrescentou:
That’s not a SA model, we don’t know that imposter pic.twitter.com/j1ttXG0Qru
— 🎙Tebogo Koma🎙 (@TheGeopol) July 21, 2024
Ela não é uma modelo sul-africana, nós não conhecemos essa impostora.
Houve inclusive pedidos para que ela se retirasse do concurso e até assinaturas em uma petição.
She has 3 days to pull out of Miss SA or there won’t be Miss South Africa next week, court papers are ready pic.twitter.com/qKf51nR4fZ
— Gobetse 🇿🇦 (@TheRealGobetse) July 29, 2024
Ela tem 3 dias para sair do Miss Sul-Africana, ou não haverá concurso na próxima semana. Os documentos do tribunal estão prontos.
Conforme destacado pelo jornal Times Live, o debate nas redes sociais subiu de tom essa semana. O motivo foi o surgimento de um vídeo no qual Adetshina aparece celebrando seu sucesso na competição ao lado de um grupo de familiares, alguns deles usando trajes tradicionais nigerianos. O vídeo, mostrado no tuíte abaixo, impulsionou o argumento de que ela não era “sul-africana” o suficiente para competir pelo título.
Dear @Official_MissSA, the pan africanists have been telling us that having a South African ID makes you one. Well, what about patriotism, what about celebrating it's people and culture. Based on this video I don't see a proud SAn, I see a proud Nigerian. What a disgrace. pic.twitter.com/GxgLheFyMq
— Julius Oaganga (@afroghanga) July 29, 2024
Querido @Official_MissSA, os pan africanistas têm dito para nós que ter uma identidade sul-africana te faz sul-africano. Bem, e o patriotismo? E a celebração do seu povo e sua cultura? Baseado nesse vídeo eu não vejo uma orgulhosa sul-africana, eu vejo uma orgulhosa nigeriana. Que desgraça.
Alguns políticos proeminentes se envolveram na discussão. O líder do partido ActionSA Party, Herman Mashaba disse no X: “Essa jovem está comprometendo a si mesma se identificando com pessoas que estão na África do Sul , provavelmente, de forma ilegal. Péssima ideia”.
O líder dos Combatentes pela Liberdade Econômica, Julius Malema, abordou o assunto durante uma entrevista para o podcast do partido, dizendo, “sua cidadania é determinada por onde você nasceu, logo, se ela nasceu aqui, ela é sul-africana. Não importa. Ela não é seus pais, ela é ela mesma. Então, porque dizer que ela é da Nigéria ou Moçambique? Ela nasceu aqui”.
Gayton McKenzie, o ministro sul-africano dos esportes, arte e cultura, expressou preocupação sobre a participação de Adetshina no concurso e afirmou que iria investigar o assunto.
De acordo com o jornal Sowetan Live, Adetshina nasceu em Soweto. Filha de mãe sul-africana, com raízes moçambicanas, e pai nigeriano. A modelo e estudante de advocacia de 23 anos foi criada em Soweto e, mais tarde se mudou para Cape Town. Adetshina afirma ter passado toda a sua vida na África do Sul.
A modelo contou ao Sowetan Live durante uma entrevista que “primeiro eu ignorei os comentários, mas, conforme avancei na competição, as críticas começaram a crescer. Eu pensei comigo mesma: estou representando um país, mas não sinto amor vindo das pessoas que estou representando. Eu até me perguntei: vale a pena?”
Além disso, ela acrescentou, “pra ser sincera, eu acho que isso é só racismo entre pessoas pretas porque eu não sou a única nessa competição que tem um sobrenome que não é sul-africano. Eu acho que a atenção está em mim por causa da cor da minha pele, que eu sinto ser uma desvantagem… e isso é algo que eu precisei superar enquanto crescia”.
Conforme o jornal News Live, a organização do concurso Miss Sul-Africana confirmou que Adetshina cumpre com todos os requisitos para participar da competição. Os requerimentos de entrada, conforme especificados pela TRT Afrika, incluem: ser cidadã sul-africana, com identidade ou passaporte sul-africanos válidos. Além disso, se a aplicante possui cidadania dupla, detalhes de ambas as nacionalidades devem ser fornecidos.
Enquanto isso, outra participante do concurso, Sherry Wang (que está competindo pela terceira vez) também recebeu comentários negativos. A reação, porém, não é tão contundente quanto a despertada por Adetshina.
South African Model, Sherry Wang's entry video for Miss South Africa 2024.
She won the Fan Vote which placed her among the Top 25 contestants.
This is her third entry into Miss South Africa. pic.twitter.com/FGvwhv6lU9
— Africa Facts Zone (@AfricaFactsZone) July 21, 2024
Vídeo de entrada da modelo sul-africana, Sherry Wang, para o concurso Miss Sul-Africana 2024.
Ela venceu o Voto dos Fãs, o que a colocou entre as 25 primeiras.
Essa é a terceira vez que ela participa do concurso Miss Sul-Africana.
Um vídeo de TRT Afrika no TikTok chama atenção para o fato de que Vanessa Do Céu Carreira ganhou o concurso de Miss Sul-Africana em 2001, mesmo tendo parentes portugueses e herança angolana.
Algumas pessoas acreditam que o ataque contra Adetshina é xenofóbico. Os imigrantes têm enfrentado uma onda crescente de discriminação e violência na África do Sul, desde 1994, com expressão mais recente vista na formação do grupo Operation Dudula.
Como destacado pelo vídeo no TikTok, existe um medo entre os cidadãos sul-africanos de que os estrangeiros (na maioria imigrantes de outras partes da África) estejam chegando ao país para roubarem seus empregos e cometerem crimes – o que não se confirma ao olharmos para os dados ou fatos. Ainda, de acordo com o vídeo no TikTok, esse problema é perpetuado por politicos que tiram vantagens dos imigrantes os usando como bodes expiatórios para problemas enfrentados por muitos sul-africanos. Eles culpam os imigrantes para evitar assumir a responsabilidade por suas próprias falhas, e assim, redirecionam a fúria da população para os mais vulneráveis – que são, frequentemente, os imigrantes tentando ganhar a vida no país.