Salifou Lindou Fouanta, nascido em Foumban, Camarões, cresceu profundamente imerso em sua cultura sob a orientação de seu pai, servidor público. Em sua infância, sua jornada artística começou com argila e cores, iniciando uma paixão criativa para a vida toda. Quando adolescente, a curiosidade de Lindou o levou a colecionar revistas de arte ocidentais, explorar objetos tradicionais, e visitar museus e lojas de artesanato. Acompanhando seu pai, ele estudou máscaras e estatuetas, aprendendo sua história com o curador do Museu de Arte de Foumban.
Nascido em 1965 em uma grande família muçulmana, a educação de Lindou foi enriquecida pela vibração cultural de Foumbam e Bafoussam. Apesar dos recursos limitados, ele começou a desenhar retratos aos 13 anos usando lápis e aquarela. Aos 18, em Douala, ele trabalhava em uma gráfica e, sem condições de comprar tinta convencional, usava terra vermelha de sua cidade natal misturada com aglutinantes.
“A espontaneidade de Salifou Lindou em trazer personagens à vida através das linhas faz dele um destaque”, diz Michaëla Hadji-Minaglou, gerente de galeria e curadora chefe na AFIKARIS em Paris. “Enquanto tendências recentes focam no realismo, a narrativa figurativa de Lindou captura a energia da cena em vez de buscar o realismo perfeito”.
O senso de humor de Lindou é evidente em suas séries políticas, onde poses e expressões exageradas criam representações paródicas. Essa mistura de sátira e reflexão equilibra comentário sócio-político com memória pessoal. As texturas de seu trabalho, derivadas de pigmentos locais, conectam sua arte com a terra vermelha de seu lar natal.
O currículo internacional de Lindou cresceu com exposições na 1-54 London Art Fair (2020), Art Paris, Investec Cape Town e 1-54 New York. Seu trabalho foi exposto no Museu Nacional de Yaoundé, e no Institut des Cultures de l'Islam. Representando o Camarões na Bienal de Veneza em 2022, ele recentemente teve sua primeira exposição individual na Europa no Museu Ettore Fico em Turim, na Itália (2024).
A arte de Lindou reflete uma sensibilidade rara, abordando complexidades contemporâneas através de uma lente estética refinada. Seu trabalho reage aos eventos atuais e oferece uma meditação sofisticada sobre poder, identidade e a condição humana. A narrativa multifacetada de Lindou convida o público a apreciar a estética e as realidades sociais urgentes representadas.
A Global Voices entrevistou Salifou Lindou sobre seu trabalho e influências artísticas. Trechos da entrevista estão abaixo:
Omid Memarian (OM): Você nasceu na artisticamente rica cidade de Foumbam e morou em Douala desde 1992. Como essas cidades moldaram seu interesse em arte?
Salifou Lindou (SL): Foumban has always been a vibrant cultural center. My royal heritage, with a grandmother who was a princess and a relative from the royal palace, gave me unique access to the art and culture of the Bamoun people. This early exposure included meeting the Sultan, King Njimolû Seidou, and visiting his private apartments, which made the museum and its artifacts easily accessible to me. At 14, I was motivated to paint portraits of my grandparents, the King of Njoya, and even the Sultan himself, which deeply rooted my passion for art. This early engagement with Bamoun ancestral artifacts profoundly influenced my artistic development.
When I moved to Douala in the early '90s, I found a small yet inspiring art community, despite the lack of galleries. Artists held joint exhibitions at the Centre Culturel Français, which was encouraging. I connected with seasoned artists like Koko Kommegne, whose advice on art and life was invaluable. Douala’s cosmopolitan nature and access to Western art magazines, like L'œil and Beaux Arts Magazine, allowed me to blend my traditional influences with global art practices — this openness to new ideas enriched my artistic vision.
Salifou Lindou (SL): Foubam sempre foi um centro cultural vibrante. Minha herança real, com uma avó que era princesa e um parente no palácio real, me deram acesso único à arte e cultura do povo Bamoun. Essa exposição precoce incluiu conhecer o sultão, rei Njimolû Seidou, e visitar seus aposentos privados, o que fez o museu e seus artefatos facilmente acessíveis para mim. Aos 14, fui encorajado a pintar retratos pelos meus avós, pelo rei de Njoya, e até pelo próprio sultão, o que incentivou profundamente minha paixão pela arte. Esse envolvimento precoce com artefatos ancestrais Bamoun influenciou profundamente meu desenvolvimento artístico.
Quando me mudei para Douala no começo dos anos 1990, encontrei uma pequena, mas inspiradora, comunidade artística, apesar da falta de galerias. Os artistas faziam exposições conjuntas no Centre Culturel Français, o que era encorajador. Eu me conectei com artistas da época como Koko Kommegne, cujos conselhos sobre arte e vida foram inestimáveis. A natureza cosmopolita de Douala e acesso a revistas de arte ocidentais, como L'oeil e Beaux Arts Magazine, me permitiu misturar minhas influências tradicionais com práticas artísticas globais – essa abertura para novas ideias enriqueceu minha visão artística.
OM: Na falta de escolas de arte nacionais em Camarões você se beneficiou da “diplomacia cultural” francesa e alemã nos anos 1990. Como a educação artística evoluiu em Camarões deste então?
SL: The French and German cultural institutions, such as the Goethe Institute and the Institut Français, were crucial in promoting art through workshops and public exhibitions. They facilitated cultural exchanges that introduced us to international art practices. Today, Cameroon has more art schools nationwide, offering university-level education and opportunities for young artists. Many of these artists are now part of the international art scene, exhibiting abroad and working with galleries. However, local galleries still lack the promotional mechanisms seen in the West.
SL: As instituições culturais francesas e alemãs, como o Goethe Institute e o Institut Français foram cruciais para promover a arte por meio de oficinas e exposições públicas. Elas facilitaram trocas culturais que nos apresentaram as práticas artísticas internacionais. Hoje, Camarões tem mais escolas de arte, oferecendo cursos de graduação e oportunidades para jovens artistas. Muitos desses artistas são agora parte do cenário de arte internacional, expondo no exterior e trabalhando com galerias. No entanto, as galerias locais ainda não têm os mecanismos de divulgação que existem no ocidente.
OM: Como suas interações com artistas globais impactaram seu trabalho e perspectiva?
SL: Traveling and meeting artists worldwide has been profoundly enriching. Engaging with different cultures and artistic practices has broadened my perspective. Participating in Biennial symposia and other international events allowed me to bring my local experiences into a global context. This exposure to diverse artistic disciplines and academic approaches deepened my understanding of art. I’ve learned to translate traditional techniques into contemporary contexts and integrate local and global influences into my work.
SL: Viajar e conhecer artistas do mundo todo tem sido muito enriquecedor. Envolver-me com culturas diferentes e práticas artísticas ampliou minhas perspectivas. Participar de bienais e outros eventos internacionais me permitiu trazer minhas experiências locais para um contexto global. Essa exposição a disciplinas artísticas diversas e perspectivas acadêmicas aprofundou meu conhecimento de arte. Eu aprendi a traduzir técnicas tradicionais para contextos contemporâneos e integrar influências locais e globais em meu trabalho.
OM: Criar arte que transpassa diferentes culturas é essencial para você. Que temas ou histórias universais você explora em seu trabalho?
SL: I focus on political and social issues that are relevant globally. For instance, my work on the NOSO (North-Southwest) war addresses themes of displacement and conflict, reflecting worldwide matters. The exodus and uprooting caused by such conflicts are universal experiences, transcending local contexts. I strive to depict these issues with a local flavor, making them relatable to audiences everywhere. My political art, often created with pastels, critiques corruption and human rights abuses. Politics and social issues are universal, which helps my work resonate with a global audience.
SL: Eu foco em temas políticos e sociais que são globalmente relevantes. Por exemplo, meu trabalho sobre a guerra NOSO (norte-sudoeste) fala sobre temas de deslocamento e conflito, refletindo problemas globais. O êxodo e o deslocamento causados por esses conflitos são experiências universais, transcendendo contextos locais. Eu procuro retratar esses problemas com as cores locais, fazendo com que o público de qualquer lugar se identifique. Minha arte política, com frequência criada com pastel, critica a corrupção e o abuso de direitos humanos. Problemas políticos e sociais são universais, o que ajuda o meu trabalho a fazer sentido para um público global.
‘Politiciens #33,’ de Salifou Lindou, 2021. Pastel sobre papel 56 7/10 × 59 1/10 in | 144 × 150 cm, cortesia de AFIKARIS Gallery.
OM: Como o status da arte contemporânea em Camarões mudou nos últimos 35 anos, desde que você começou sua carreira profissional?
SL: Contemporary art in Cameroon still struggles to gain proper recognition and support. Despite some progress, such as establishing art schools and increased international exposure for young artists, local support remains insufficient. No major galleries or museums are dedicated to promoting and nurturing artists long-term. There is a need for more significant investment in the arts to foster creativity and support artistic projects.
SL: A arte contemporânea em Camarões ainda luta para ganhar reconhecimento e apoio decentes. Apesar de algum progresso, como a criação de escolas de arte e maior exposição internacional para jovens artistas, apoio local ainda é insuficiente. Nenhuma grande galeria ou museu é dedicado para divulgar e apoiar artistas no longo prazo. Precisamos de mais investimento significativo nas artes para estimular a criatividade e apoiar projetos artísticos.
OM: Seu trabalho com frequência mostra uma mistura de caos e harmonia, com linhas e curvas criando imagens envolventes. Como você desenvolveu esse estilo original, e o que significa para você?
SL: I view art as a reflection of life's contradictions. Just as life blends positives and negatives, my work embodies this duality. I incorporate elements of Yin and Yang, where opposites intersect and create emotional resonance. My “tangled lines” technique represents this conflict, creating a visual shock that adds depth and intensity. Whether working with pastels, canvas, or metal, I start with layers of color and reveal textures to evoke emotional responses. This approach allows me to explore human experience's complexity and convey strength and vulnerability.
SL: Eu vejo a arte como uma reflexão das contradições da vida. Assim como a vida mistura positivos e negativos, meu trabalho abraça essa dualidade. Eu incorporo elementos de Yin e Yang, onde os opostos se interseccionam e criam efeitos emocionais. Minha técnica das “linhas emaranhadas” representa esse conflito, criando um choque visual que traz profundidade e intensidade. Seja trabalhando com pastel, tela ou metal, eu começo com camadas de cor e uso texturas para gerar respostas emocionais. Esse método me permite explorar a complexidade da experiência humana e exprimir a força e a vulnerabilidade.
OM: Como obras como “Politiciens”, “L’exode et la famille” e “La Bergère” refletem suas visões dos ambientes sociais e políticos?
SL: My work is deeply connected to my surroundings’ social and political realities. For example, ‘Politicians’ uses exaggerated poses and expressions to critique political figures and corruption. ‘L’exode et la famille’ (family) and ‘La Bergère’ draw from both local traditions and Western artistic influences, blending cultural elements to address universal themes. Inspired by the purchase of a presidential plane and subsequent corruption, my piece ‘The Albatross’ uses a hybrid sculpture to express my indignation. This blend of local and global influences in my work helps me address pressing issues and engage with a broader audience.
SL: Meu trabalho está profundamente conectado às realidades políticas e sociais de meu entorno. Por exemplo, “Politiciens” usa poses e expressões exageradas para criticar figuras políticas e corrupção. “L’exode et la famille” e “La Bergère são influenciadas por tradições locais e ocidentais, misturando elementos culturais para abordar temas universais. Inspirado pela compra de um avião presidencial e corrupção, minha obra “Albatros” usa uma escultura híbrida para expressar minha indignação. Essa mistura de influências locais e globais em meu trabalho me ajuda a tratar de assuntos atuais e interagir com um público maior.
‘Tariq et Alamine à L'atelier,’ de Salifou Lindou , 2023. Pastel, tinta acrílica, caneta posca e colagem sobre tela 35 2/5 × 51 1/5 × 1 1/5 in | 90 × 130 × 3 cm, cortesia de AFIKARIS Gallery.
OM: Seu trabalho foi descrito como uma “coreografia de amor”, apesar de seu imaginário complexo. O que motiva essa paixão e energia?
SL: The term “choreography of love” is interesting, though I see my work as exploring the dual nature of human existence — strength and fragility. I aim to express the paradox of being, capturing individuals’ resilience and vulnerability. My characters often reflect this duality, showcasing physical strength and underlying fragility. This approach highlights the complexities of human experience and adds depth to my work. By combining political and existential themes with emotional intensity, I strive to create art that resonates deeply and reflects the realities of our world.
SL: O termo “coreografia do amor” é interessante, apesar de que vejo meu trabalho como uma exploração da natureza dual da existência humana – força e fragilidade. Eu tento expressar o paradoxo de ser, capturar a resiliência e vulnerabilidade dos indivíduos. Meus personagens com frequência refletem essa dualidade, mostrando força física e fragilidade oculta. Esse ponto de vista destaca as complexidades da experiência humana e adiciona profundidade ao meu trabalho. Ao combinar temas políticos e existenciais com intensidade emocional, eu tento criar arte que impacta profundamente e reflete as realidades de nosso mundo.