Mapeando o encolhimento das florestas na região de Terai no Nepal

Parsa's Gadimai Partnership Forest in 2008 and in 2021 on Google Earth Pro. The vegetation colour is different because the images were taken in different seasons.

DESMATAMENTO VISTO DO ESPAÇO: A Floresta de Parceria Gadimai em Parsa, em 2008 e 2021 pelo Google Earth Pro. A cor da vegetação é diferente porque as imagens foram tiradas em estações diferentes. Imagem pelo Nepali Times. Usada sob permissão.

Artigo por Ramu Sapkota em colaboração com Enviromental Reporting Collective foi originalmente publicado pelo Nepali Times. Uma versão editada e resumida foi republicada abaixo como parte do acordo de compartilhamento de conteúdo com a Global Voices.

A Floresta de Parceria Gadimai se estende por 4.150 hectares no distrito de Parsa, na divisa com a reserva natural adjacente do Parque Nacional de Chitwan.

Metade da floresta Gadimai na região do Terai (ou Tarai) é composta por espécies de madeira de lei como Sal, Sisau e Khaya, que contêm um alto valor comercial. O desmatamento ilegal por madeireiros na fronteira indiana está reduzindo a selva.

Uma investigação no local realizada mais cedo no ano confirmou o que foi visto nas imagens de satélite do Google Earth Pro. Vimos mais de 30 tocos de árvore dentro da floresta com marcas na vegetação rasteira mostrando por onde as toras foram arrastadas para longe das até então árvores saudáveis.

Comparando imagens de satélite da floresta em 2008 e em 2021 mostra significante perda de área florestal bem como a redução da cobertura das copas das árvores nos últimos 13 anos (imagem acima). Shahrum Gaddi, presidente do Comitê de Gerenciamento da Floresta Gadimai, explicou sobre a destruição:

Our staff have not been able to adequately monitor the forest because of the presence of smugglers in the Sonbarsha and Koilabhar Bindabasini regions. We have seen a rise in illegal logging since the pandemic.

Nosso pessoal não tem conseguido monitorar adequadamente a presença de contrabandistas nas regiões de Sonbarsha e Koilabhar Bindabasini. Temos visto um aumento na retirada ilegal de madeira desde a pandêmia.

O relatório anual da Divisão de Parsa do Escritório Florestal cita o contrabando de madeira para a Índia vinda de Gadimai e duas outras comunidades florestais no distrito.

Florestas comunitárias são consideradas o maior sucesso de conservação do Nepal e aclamadas internacionalmente. Foram o maior motivo para a cobertura florestal do Nepal, que no presente é de 46%, tenha dobrado em 25 anos. As comunidades têm manejado as florestas relativamente melhor nas montanhas, mas em Tarai o sucesso foi menor por causa da abundância da madeira de lei cara e da proximidade com a Índia.

A cobertura florestal foi ainda mais prejudicada graças a uma emenda de lei de Conservação de Parques Nacionais e Vida Selvagem de 1973 no Parlamento em setembro de 2024.

Imagens do Global Land Analysis e Google Earth Pro mostram desmatamento de 13.512 hectares no Projeto de Desenvolvimento da Floresta Sagarnath nos distritos de Mahottari, Sarlahi e Rautahat

Esse projeto começou em 1978 e envolveu a plantação de mudas de sal, sisau e eucalipto de crescimento rápido para aumentar a produção de lenha, mas muito das árvores de sal e khayar foram retiradas de dentro destas florestas.

Cobertura Florestal do Nepal em 1992

Usado sob permissão.

Rajnikanth Jha, residente de Sarlahi e membro central da Federação dos Usuários Florestas Comunitárias do Nepal (FECOFUN) culpa o conluio entre funcionários do Projeto de Desenvolvimento da Floresta Sagarnath, agências do governo, políticos e a “máfia da floresta”.

Em março de 2024, Menoj Tamang, presidente do Comitê de Usuários de Florestas Comunitárias de Brahmapur foi preso acusado de contrabando ilegal de toras de sal. O Escritório da Divisão Florestal (DFO) também acusou os membros do comitê Tek Bahadur Basnet, Aashish Tamang e Heralu Pemba Tamang.

Outra floresta comunitária em Lalbandi, Mahottari, que já esteve a apenas 2 quilômetros da casa de Jha agora retrocedeu seis quilômetros devido à extração ilegal de madeira. Ele diz que a cobertura florestal do Nepal pode ter dobrado, mas a parte leste de Tarai perdeu metade das áreas de florestas nacionais.

“Da estrada a floresta pode parecer abundante e exuberante, mas se entrarmos a fundo nela a maioria das árvores foi completamente destruída”, disse Jha.

Pesquisador florestal Nagendra Prasad Yadav estimou há 8 anos que as selvas de Tarai seriam destruídas em um ritmo de 0,96%, equivalente a 1.756 hectares por ano. Devido às evidências encontradas, esse ritmo com certeza aumentou. 

Somente em Parsa, uma estimativa indica que um valor maior do que 5 milhões de rupias nepalesas (mais de 37 mil dólares) em madeira ilegal foi contrabandeado por mês. O DFO captura contrabandistas de tempos em tempos e casos foram apresentados contra 66 madeireiros, mas é só a ponta do icebergue, e aqueles que foram pegos são em sua maioria os funcionários contratados.

A Diretoria da Floresta da Província Madhes diz que 931 casos de extração de madeira ilegal foram apresentados às cortes no último ano, e 523 resultaram em prisões, a maioria nos distritos de Bara, Parsa e Rautahat, que possuem mais cobertura florestal do que outros distritos do leste de Tarai.

Global Forest Watch estima que o Nepal perdeu 4.570 hectares de floresta densa “biologicamente importante” entre 2002 e 2023 devido a invasões e o contrabando.

“Existe uma proteção inadequada e uma quantidade insuficiente de patrulheiros e policiais para protegerem as florestas nacionais, comunitárias e de parceria”, disse o jornalista baseado em Parsa, Ram Mandal. O motivo é a falta de orçamento e a frequente atuação conjunta de políticos e seus parceiros criminosos.

Na Floresta Gadimai, Shahrum Gaddi diz que frequentemente recebe ameaças de morte após madeireiros ilegais serem pegos, e oficiais eleitos do governo local o pressionam para que eles sejam soltos.

Usado sob permissão.

“A polícia não faz nada enquanto a extração e o contrabando acontece debaixo de seus narizes, eles só aparecem após sermos atacados por contrabandistas e toda a madeira já atravessou a fronteira”, acrescenta Gaddi, que diz ja ter escrito para a Comissão de Investigação de Abuso de Autoridade (CIAA), Hello Sarkar, a DFOs, e ao Ministério das Florestas. Não houve resposta de nenhum deles.

Em 2021, traficantes de madeira feriram quatro membros da equipe florestal e roubaram suas armas durante um conflito em Pipara, no distrito de Bara, e foram presos logo após. Ex-presidente da FECOFUN, Bharati Pathak, afirma que contrabandistas iniciam incêndios florestais, roubam troncos e caçam ilegalmente a vida selvagem fingindo apagarem os incêndios. Pathak diz:

There is an established but under-the-radar network involved in illegal activities that must have smuggled millions of cubic feet of timber from the forests by now.

Existe uma rede de atividades ilegais estabelecida porém ignorada que já deve ter contrabandeado milhões de pés cúbicos de madeira das florestas até agora.

Essa rede leva os troncos até serrarias perto da fronteira indiana durante a noite, e depois transportam tábuas até Bihar. Gangues de traficantes também usam bicicletas, carrinhos de mão, tratores, vans e caminhões cheios de areia para contrabandear lenha, até mesmo modificando veículos para acomodarem as tábuas. As vezes os troncos também são transportados rio abaixo pela correnteza até a Índia.

Rajnikanth Jha da FECOFUN acrescenta: “Infraestrutura, expansão de assentamentos e o tráfico de madeira estão destruindo nossas árvores. Se isso continuar não haverá mais árvores fora dos parques nacionais de Tarai”.

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