Na manhã de domingo, 4 de agosto, Edni López, trabalhadora humanitária da organização venezuelana Fundación S4V, poetisa e professora na Universidad Central de Venezuela, estava no principal aeroporto venezuelano antes de embarcar de férias para a Argentina. De acordo com parentes de López, agentes de segurança do aeroporto a impediram de embarcar devido ao suposto vencimento do seu passaporte.
Segundo usuários das redes sociais venezuelanas (utilizando a hashtag #DóndeEstáEdni) e ONGs especializadas em direitos humanos como o Provea (Programa Venezuelano de Educação-Ação em Direitos Humanos), ninguém sabe, desde então, quais foram as acusações ou onde López foi detida. O desaparecimento da humanitária, por sua vez, motivou um alerta da Anistia Internacional.
Conheça Edni López, em suas próprias palavras:
¿No conoces a @EdniLopez?
Edni López es poeta, defensora y trabajadora humanitaria. Este año fue parte de las #100protagonistas en Venezuela, un grupo de mujeres destacadas.
Hoy ha estado detenida desde las 10am, cuando fue capturada. pic.twitter.com/RURlQqQsEn— Luis Carlos 🏴☠️ One Piece (@LuisCarlos) August 5, 2024
Não conhece @EdniLopez?
Edni López é poetisa, defensora e trabalhadora humanitária. Esse ano, ela fez parte da lista das #100protagonistas na Venezuela, um grupo de mulheres inspiradoras e influentes.
Ela está detida desde às 10h da manhã de hoje, quando foi retida.
Yendri Velásquez, ativista e fundador do Observatorio Venezoelano de Violencias LGBTQI+ (Observatório Venezuelano Contra a Violência LGBTQ+), foi detido de maneira similar, em 3 de agosto, no mesmo aeroporto (Aeroporto Internacional de Maiquetía, em Caracas), por autoridades de segurança, quando estava a caminho de uma seção da Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação das Nações Unidas (ONU) em Genebra, na Suíça. Velásquez foi liberado no mesmo dia.
Em 2 de agosto, Kennedy Tejada, advogado defensor de direitos humanos, foi detido pela Guarda Nacional enquanto averiguava a situação de manifestantes detidos no protesto em Carabobo, no norte da Venezuela. Tejada é advogado do Foro Penal, uma ONG que visa garantir o direito de defesa e oferece assessoria jurídica em casos de detenções políticas. Segundo o advogado Julio Henríquez: “não há qualquer mandado de prisão contra Kennedy Tejada, […] nem contra a maioria dos 988 presos no contexto pós-eleitoral.”
Kennedy es mi alumno. Es abogado defensor y activista de DDHH. Es querido y respetado en su comunidad. Es gente decente, de bien. #LiberenAKennedy https://t.co/P7kLJfSehn pic.twitter.com/jvAKkUNSKK
— Antonio Canova (@antoniocanovag) August 4, 2024
Kennedy é meu aluno. Ele é advogado de defesa e ativista de direitos humanos. Ele é amado e respeitado pela comunidade. É um homem bom e decente. #LibertemKennedy
O Provea e outras organizações denunciam que as centenas de pessoas que foram detidas não têm permissão para escolher um advogado privado ou de ONGs. Os familiares não têm permissão para ver os detidos. O Provea também adverte que estão ocorrendo audiências coletivas na Venezuela, nas quais não há possibilidade de julgamentos individuais para os crimes imputados.
Acompanhamento dos casos
Os casos de López, Tejada e Kennedy são apenas três entre as mais de 1.000 vítimas de violações de direitos humanos (prisões arbitrárias, desaparecimentos forçados e assassinatos) documentados pelo Foro Penal após as disputadas eleições presidenciais na Venezuela em 28 de julho. O relatório factual pode ser verificado na conta do Foro Penal no X (antigo twitter) e é atualizado diariamente pela manhã no horário da Venezuela.
Segue o relatório de 8 de agosto:
#8Ag Balance de represión (postelectoral) actualizado a las 7:00am por @ForoPenal.
Detenciones y asesinatos verificados, ocurridos desde el 29 de julio hasta el 8 de agosto 7am:
-1.229 detenciones
Incluyendo:
105 adolescentes
5 indigenas
16 discapacitados
157 mujeres pic.twitter.com/mDwwnAUOPQ— Foro Penal (@ForoPenal) August 8, 2024
#8Ag balanço da repressão pós-eleitoral atualizado às 7h pelo @ForoPenal
Prisões e assassinatos verificados que ocorreram de 29 de julho a 8 de agosto, atualizado às 7h.
- 1.229 detenções.
Incluindo:
105 adolescentes
5 pessoas indígenas
16 pessoas com deficiência
157 mulheres
Além disso, a iniciativa MonitorVictimas, desenvolvida pelo portal de notícias RunRunes e pela ONG MiConvite, reúne histórias de vítimas de todas as partes do país, disponibilizadas nas mídias nacionais e internacionais. Nem todas as histórias têm uma hashtag que as acompanhe.
“Operação Tun Tun” ou ameaças aos opositores
A perseguição política tem terreno fértil na Venezuela pós-eleitoral. Em 3 de agosto, Nicolás Maduro, presidente cuja legitimidade é questionada, reconheceu a existência de mais de 2 mil prisioneiros em consequência das manifestações pós-eleitorais e afirmou que eles foram enviados à Tocorón e Tucuyito, penitenciárias localizadas no centro da Venezuela.
“Com a união das forças de segurança, dissolvemos o golpe fascista. Temos mais de 2 mil prisioneiros retidos e que serão enviados para Tocorón e Tocuyito. Castigo máximo, justiça! Dessa vez não haverá perdão, dessa vez não haverá perdão, dessa vez haverá Tocorón”, assegurou Maduro frente a apoiadores durante uma marcha oficial no sábado, 3 de agosto.
🔴 DIRECTO VENEZUELA | Nicolás Maduro : «Tenemos 2000 presos capturados y de allí van para Tocorón y Tocuyito, ésta vez no va haber perdón»https://t.co/BaAdvZw5jl pic.twitter.com/eEXtNAzKCC
— LA GACETA (@gaceta_es) August 4, 2024
VENEZUELA AO VIVO | Nicolás Maduro: “Temos 2 mil prisioneiros retidos e eles irão para Tocorón e Tocuyito, dessa vez não haverá perdão.”
No discurso, Maduro não fez qualquer menção a um processo justo. O confronto contra o fascismo tem sido parte da narrativa do governo de Maduro desde, pelo menos, 2020 e foi objeto de um projeto de lei apresentado em abril de 2024 na Assembleia Nacional (órgão legislativo máximo venezuelano): a Lei contra o Fascismo, Neofascismo e Expressões Similares. O projeto de lei pretende lidar com aqueles que “recorrem à violência como forma de ação política”.
Oficiais do governo atual também renovaram o apelo à “Operação Tun Tun” (Operação Toc, Toc), uma prática de perseguição e revistas arbitrárias por parte das agências de segurança do Estado contra dissidentes do governo venezuelano. A Missão Internacional Independente de Apuração de Fatos da ONU classificou a operação como uma violação de direitos humanos.
Segundo a ONU, “Tun Tun” (Toc, Toc) é o barulho de bater à porta.
Também em 3 de agosto, Douglas Rico, diretor do Corpo de Investigações Científicas Penais e Criminalísticas (Polícia Científica venezuelana), fez um apelo público à Operação: “A Operação Tun Tun está apenas começando: denuncie se você foi alvo de uma campanha de ódio física ou virtual por meio das redes sociais”, escreveu Rico no Instagram.
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O portal de notícias Efecto Cocyuo relatou as ações associadas à Operação Tun Tun pelas forças policias em diferentes estados venezuelanos, direcionada contra manifestantes da oposição.