Em ato histórico, venezuelanos cooperam para expor fraude eleitoral de Maduro

 

Foto por Gabriela Mesones Rojo, em 30 de julho de 2024. Utilizada e editada sob permissão por Melissa Vida.

Desde 29 de julho, venezuelanos têm saído às ruas em protesto pelos resultados oficiais da tão aguardada eleição presidencial da Venezuela. Ao atual presidente, Nicolás Maduro, foi concedido um terceiro mandato com duração até 2031.

Em 30 de julho, a líder da oposição, María Corina Machado, convocou manifestantes para se unirem em uma assembleia popular pacífica para mostrar as atas eleitorais impressas que comprovariam a fraude eleitoral de Maduro.

Xiomara Pacheco, enfermeira de 52 anos e mãe de dois, esperava pelo discurso de Machado e González Urrutia na assembleia. À Global Voices, ela disse:

Está claro que no podemos confiar en los números compartidos por el CNE, porque está muy claro que Maduro simplemente ya no tiene ningún tipo de apoyo. ¿ Si no, por qué ocultarían las actas de votación? ¿ Si no, por qué el CNE violaría tantas leyes y tantos protocolos?

É óbvio que não podemos confiar nos números divulgados pelo CNE, porque está muito claro que Maduro simplesmente não tem mais nenhum tipo de apoio. Se tivesse, por que ocultariam as atas eleitorais? Por qual outro motivo o CNE violaria tantas leis e protocolos?

Assembleia popular, em 30 de julho de 2024. Foto por Gabriela Mesones Rojo, utilizada sob permissão.

Pacheco votou nessa eleição crucial com uma esperança em mente:

Mis dos hijos viven en el extranjero, también mis nietos, a los que ni siquiera he conocido porque nacieron fuera. Solo quiero que mi familia vuelva al país al que pertenecen.

Meus dois filhos vivem no exterior, assim como meus netos, a quem eu nem conheci porque nasceram em outro país. Eu só quero que a minha família volte ao país ao qual pertencem.

A oposição política venezuelana, liderada por María Corina Machado e o candidato à presidência Edmundo González Urrutia, assim como a Argentina, Chile, Peru, Uruguai, Costa Rica, Panamá, Guatemala e Brasil, contestaram imediatamente os resultados publicados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela. Eles alegam que há uma discrepância abismal entre os números da CNE e os dados coletados por pesquisas independentes e testemunhas eleitorais. Segundo os dados da oposição, Edmundo Gonzáles Urrutia havia recebido o dobro de votos de Maduro.

A coalizão opositora acusa a atual administração de recusar o acesso às atas em várias zonas eleitorais. Tanto a oposição quanto as testemunhas imparciais não têm acesso às evidências impressas que são requiridas por lei para contar e auditar os votos.

O dia da eleição também foi assolado por relatos de intimidação aos eleitores e até tentativas de queimar algumas urnas eleitorais pelas mãos da Guarda Nacional Bolivariana.

Cooperação para publicar as atas eleitorais

Cidadãos observadores de toda Venezuela compartilharam legalmente as atas eleitorais, uma vez que estiveram presentes nas 30.000 seções eleitorais por todo país. Eles são intitulados “comanditos”, entidade criada pela coalizão opositora Comando con Venezuela para promover transparência e verificação cidadã antes das eleições.

Eugenio Martínez, jornalista venezuelano especialista no sistema eleitoral, pediu aos cidadãos no X (antigo twitter) que compartilhassem fotos das atas eleitorais e que as comparassem com as oficiais. Centenas de observadores inundaram a rede social com as atas usando a hashtag #BuscaTuActa (“procure sua ata eleitoral”).

Podemos fazer um fio colaborativo sobre a verificação cidadã das atas eleitorais? Se você tirou uma foto do relatório da sua seção eleitoral, compare-a com o relatório que está sendo publicado no site de divulgação.

Muitas dessas atas também foram enviadas para o Comando con Venezuela. Em 31 de julho, a oposição dispunha de 80% das atas e as publicaram na internet.

De fato, enquanto o site da CNE segue indisponível em 31 de julho devido a um suposto ataque cibernético, a equipe de Machado criou um site em que todos que votaram na eleição possam ver as atas eleitorais e o total de atas disponíveis publicamente reunidas pelos comanditos.

Na noite de 30 de julho, Machado e González realizaram uma coletiva de imprensa onde apresentaram o site, comprovando a vitória de Gonzáles. Machado, política popular impedida de concorrer à presidência, declarou:

Venezuela tiene un nuevo presidente electo y es Edmundo González Urrutia. ¡Ganamos! Y todo el mundo lo sabe. (…)Y toda esta información coincide en que Edmundo obtuvo el 70% de los votos de esta elección. Y Maduro el 30% de los votos. Es la elección presidencial con la mayor diferencia de la historia.

A Venezuela tem um novo presidente eleito e é Edmundo González Urrutia. Ganhamos! E todo mundo sabe. […] E toda essa informação coincide com o fato que Edmundo obteve 70% dos votos desta eleição, e Maduro, 30% dos votos. É a eleição presidencial com a maior diferença na história.

Em um tuíte, o jornalista Eugenio Martínez explicou que:

La oposición acaba de hacer en 24 horas, algo que el CNE lleva años diciendo que no es posible técnicamente. Un site para consultar los resultados por mesa y ademas tener la imagen del acta de la mesa.

A oposição acaba de fazer em 24 horas algo que o CNE afirma há anos não ser tecnicamente possível: um site para a consulta dos resultados por mesa eleitoral e a imagem das atas da mesa.

É a primeira vez na história da Venezuela que um candidato da oposição conseguiu obter tantas atas eleitorais. Para muitos, isso representa um caso condenatório de fraude por parte de Maduro, incluindo observadores internacionais como o Centro Carter.

María Corina Machado na Assembleia Popular, em 30 de julho de 2024. Foto por Gabriela Mesones Rojo, utilizada sob permissão.

Manifestações improvisadas e escalada da repressão

Protestos eclodiram rapidamente na capital, Caracas, e outras regiões, principalmente em bairros populares e com alta concentração de trabalhadores, descritos como bastiões do movimento Chavista.

A população saiu às ruas em protesto repudiando Maduro e manifestantes mascarados rasgaram cartazes de campanha pendurados em postes e muros.

Um resumo do que aconteceu após as eleições na Venezuela.

A repressão sempre foi a ferramenta mais forte do governo, e denúncias de abuso policial e repressão estatal estão se espalhando pelas redes sociais. O governo de Maduro relatou mais de 700 prisões, enquanto ONGs de direitos humanos registraram 14 mortes nos dois primeiros dias de protesto.

Líderes da oposição também foram sequestrados. Cidadãos filmaram um carro interceptando e retirando à força o coordenador nacional do partido Voluntad Popular, Freddy Superlano, seu motorista e outros ativistas opositores. O partido alega que, de acordo com fontes ligadas ao poder, Freddy Superlano teria sido torturado para “confessar uma falsa conspiração”.

A repressão e as prisões aumentarão à medida que Maduro busca garantir o mandato sem mostrar qualquer evidência de sua suposta vitória.

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