Em uma excepcional demonstração de determinação, resiliência e talento, a sul-africana Kgothatso Montjane fez história em 14 de julho de 2024, ao se tornar campeã do Wimbledon na categoria de duplas femininas em cadeira de rodas ao lado de Yui Kamiji, do Japão.
South African Tennis Player, Kgothatso Montjane and Yui Kamiji have won the Wimbledon Ladies’ Wheelchair Doubles title.
This is their third Grand Slam title together. pic.twitter.com/FgkmZeSeNz
— Africa Facts Zone (@AfricaFactsZone) July 14, 2024
A tenista sul-africana Kgothatso Montjane e Yui Kamiji venceram o torneio de Wimbledon na categoria de duplas femininas em cadeira de rodas.
Esta é a terceira vez que a dupla é campeã em um Grand Slam.
Montjane, carinhosamente conhecida como “KG”, é natural de Seshego, Polokwane, na província de Limpopo, na África do Sul. Nascida com uma doença congênita que ocasionou a amputação de sua perna esquerda abaixo do joelho aos 12 anos, Montjane enfrentou desafios desde cedo. Em uma entrevista com a Federação Internacional de Tênis (ITF), ela descreve sua infância:
When I was a kid a lot of people would stare at me. I didn’t know what they were staring at and sometimes they refused to play with me and I didn’t understand why, but as I grew up I began to understand why they didn’t want to play with me — because I wasn’t fast enough. And I have come to understand why they were staring at me, simply because I was differently abled. It was quite a tough childhood to grow up with a disability.
Quando era criança, muitas pessoas me encaravam. Eu não sabia o que estavam olhando e, às vezes, se recusavam a brincar comigo sem eu saber o motivo. Mas conforme eu crescia, comecei a entender o porquê. Elas não queriam brincar comigo porque eu não era rápida o suficiente. E entendi que me encaravam simplesmente por ser uma pessoa com deficiência. Crescer com uma deficiência dificultou bastante a minha infância.
Sua mãe ainda frequentava a escola quando ela nasceu, então sua avó desempenhou um importante papel sem sua criação. “É óbvio que, por nascer com uma deficiência, tive dificuldades em frequentar uma escola normal. Então, meus pais decidiram me levar a uma escola especial, onde encontrei outras pessoas com deficiência. Era um lugar bastante acessível e foi um ótimo ambiente para se crescer”, relembra.
Segundo uma reportagem da Dunlop Sports, Montjane começou sua trajetória no tênis aos 19 anos, durante seu último ano no ensino médio, quando participou de uma clínica de tênis em cadeira de rodas em Pretória, na África do Sul. Sem contato prévio com o tênis, ela dominou rapidamente o básico, talvez devido à sua experiência com o tênis de mesa. Em 2011, teve a oportunidade de jogar tênis em tempo integral no circuito, o que a inspirou a se aperfeiçoar e a se esforçar para competir no nível das jogadoras que admirava.
Montjane se tornou jogadora profissional em 2005 e, desde então, tem sido uma figura proeminente no tênis em cadeira de rodas. Foi nomeada a esportista sul-africana com deficiência do ano três vezes, em 2005, 2011 e 2015.
Em 2018, fez história como a primeira mulher negra sul-africana a disputar o Wimbledon, um marco que destacou seu papel como pioneira no esporte. Ao longo dos anos, mostrou suas habilidades de forma consistente no meio internacional, alcançando as quartas e finais em três dos quatro torneios Grand Slam: o Australian Open, Roland Garros e o US Open. Carrega 29 títulos individuais e venceu torneios como o Belgian Open e o Swiss Open em cadeira de rodas. Está no top 10 do ranking da ITF, sendo sua posição mais alta a de número 5 no mundo, que alcançou em 2005.
Segundo a Dunlop Sports, Montjane é impulsionada por seu desejo de melhorar, se manter ativa e saudável. Ela adora competir e gosta de estabelecer e alcançar objetivos, sempre aspirando ao próximo desafio. Acredita que obter a melhor versão de si mesma não somente a beneficiará, mas também dará esperança a outras pessoas, especialmente as da sua comunidade.
Como destacado pela Tennis South Africa, o tênis em cadeira de rodas se estabeleceu na África do Sul em 2005 por um grupo de jogadores, incluindo Craig Fairall e Kevin Smith, visando formalizar e desenvolver o esporte como prática convencional.
A ITF considera a África do Sul como uma história de sucesso mundial pela eficiência na introdução e crescimento do esporte. Por consequência, todo ano a África do Sul é sede de diversos torneios internacionais e foi anfitriã de eventos de prestígio, como a Copa Mundial de Equipes de Tênis em Cadeira de Rodas em 2011 e, por muitos anos, da Super Série SA Open.
A Tennis South Africa também observou que o país implementou programas esportivos sustentáveis em todas as nove províncias para apresentar o tênis em cadeira de rodas a todos os indivíduos e comunidades com deficiências físicas. Esses programas fornecem oportunidades para que as pessoas com deficiência possam aprender e se superar no esporte, desenvolvendo os jogadores desde a sua introdução até quando representarem a África do Sul internacionalmente.
Além da semifinalista do Wimbledon Kgothatso Montjane, a África do Sul ostenta alguns dos melhores jogadores do mundo, incluindo o bicampeão de Grand Slams Lucas Sithole e Donald Ramphadi, o melhor jogador da divisão Quad no país, que está na quarta posição do ranking global.
Ramphadi ganhou seu primeiro título de Grand Slam no Roland Garros do ano passado, se tornando o primeiro homem sul-africano, tanto com e sem deficiência, a ganhar o título do French Open desde a vitória de Johan Kriek em 1981.
Além disso, no começo deste ano, em 14 de fevereiro, as equipes feminina e masculina com participação de Kgothatso Montjane, Mariska Venter, Alwande Sikhosana e Evans Maripa, foram campeãs em suas respectivas partidas individuais no evento de qualificação da África para a Copa do Mundo por Equipes BNP Paribas World em Abuja, na Nigéria.
A vitória recente de Montjane no Wimbledon é uma grande conquista para ela, que passou anos aprimorando sua técnica e competindo com os melhores do mundo. Seu desempenho nas finais foi nada menos que espetacular, demonstrando uma combinação de saques potentes, golpes precisos de fundo de quadra e uma perspicácia estratégica que deixou sua oponente com dificuldades para acompanhar. O triunfo não é somente uma vitória pessoal, mas também um momento significativo para o tênis em cadeira de rodas na África, inspirando inúmeras pessoas que enfrentam desafios semelhantes na África do Sul e em todo o continente.