“Não podemos desanimar”: os ativistas do Mother Nature continuam desafiadores após a sentença do tribunal cambojano

Mother Nature activists

Thun Ratha, ativista da Mother Nature, com cartaz que diz “A justiça está morta”. Foto e rodapé (CC BY-NC 4.0).

Dez ativistas do grupo ambientalista Mother Nature foram condenados a penas de seis a oito anos de prisão por supostamente conspirarem contra o Estado e insultarem o rei do Camboja, o que é proibido no país. Os defensores dos direitos humanos condenaram amplamente a decisão do tribunal, no país e no exterior, e lamentaram a redução do espaço civil no governo do primeiro-ministro Hunt Manet.

O Mother Nature é conhecido por organizar campanhas nas redes sociais e ações comunitárias lideradas por jovens para destacar questões ambientais. En 2015, liderou uma campanha que conseguiu impedir a construção de uma megabarragem no remoto vale de Areng, o que teria prejudicado o ecossistema e deslocado grupos indígenas. Também expôs operações de contrabando de areia nas áreas costeiras do país. Vários membros passaram cerca de 14 meses na prisão por  filmarem o fluxo de esgoto do palácio real até um rio em 2021. Foram apresentadas acusações criminais contra o grupo relacionadas a estes protestos.

Em 2023, foi concedido ao grupo o prêmio Right Livelihood da Suécia por seu ativismo.

Em junho de 2024, o grupo se recusou a entrar na sala do tribunal depois que as autoridades impediram que a mídia e os apoiadores acompanhassem a audiência. O julgamento continuou até que o veredicto de culpabilidade foi proferido contra dez membros do grupo em 2 de julho. Cinco dos acusados, que estavam protestando do lado de fora do tribunal na capital do país, Phnom Penh, foram violentamente detidos e levados em veículos da polícia depois que o veredicto foi anunciado. Eles foram enviados para diferentes instalações penitenciárias em todo o país, uma medida criticada por suas famílias porque aumentaria o custo e a dificuldade de visitar os ativistas condenados.

Um dos ativistas, Phuon Keoreaksmey, foi citado pela Radio Free Asia, site de notícias afiliado ao governo dos Estados Unidos:

So long as they still freely evict our people from their land; so long as they take our land to give it to the powerful; so long as they continue to destroy our forest; so long as they continue to jail us arbitrarily while we have not done anything wrong; this means that we cannot be dispirited.

Enquanto continuarem a expulsar nosso povo de suas terras; enquanto tomarem nossas terras para dá-las aos poderosos; enquanto continuarem a destruir nossa floresta; enquanto continuarem a nos prender arbitrariamente sem que tenhamos feito nada de errado; isso significa que não podemos desanimar.

Mais de 50 grupos da sociedade civil emitiram uma declaração conjunta classificando o veredicto como uma “vergonha nacional”.

Silencing environmental defenders and characterising their peaceful advocacy as a threat to the state is a mockery of justice.

This reliance on trumped-up charges to malign Mother Nature’s activities as attacks against the state reflects a failure to understand that jailing environmental and youth advocates only harms the country’s future. We should be honouring these activists, not imprisoning them.

Silenciar os defensores do meio ambiente e caracterizar sua defesa pacífica como uma ameaça ao Estado é um escárnio à justiça.

Essa dependência de acusações forjadas para difamar as atividades do Mother Nature como ataques contra o Estado reflete a incapacidade de entender que a prisão de defensores do meio ambiente e da juventude só prejudica o futuro do país. Deveríamos estar honrando esses ativistas, não os prendendo.

Diplomatas e grupos internacionais expressaram preocupação pela sentença e a deterioração dos direitos e liberdades no país, incluindo a perseguição contínua de críticos, sob o governo de Hun Manet desde que ele assumiu o poder em 2023. A Human Rights Watch disse que a sentença severa “envia uma mensagem assustadora aos jovens do Camboja de que o governo ficará do lado de interesses especiais em detrimento do meio ambiente sempre que tiver oportunidade”.

Mas em uma entrevista para a mídia local, o porta-voz do governo  rejeitou a acusação de que a liberdade de expressão está sendo restringida.

I want to stress that here in Cambodia many people express their opinions or offer criticisms. This can be seen in both conventional and social media. Those who offer constructive criticism or commentary on social issues do not face any legal action. Legal action is only taken against those who violate Cambodian law.

Quero enfatizar que aqui no Camboja muitas pessoas expressam suas opiniões ou fazem críticas. Isso pode ser visto tanto na mídia convencional quanto nas redes sociais. Aqueles que fazem críticas construtivas ou comentários sobre questões sociais não enfrentam nenhuma ação legal. As ações legais são tomadas apenas contra aqueles que violam a lei cambojana.

Na primeira semana de julho, quase 100.000 pessoas haviam assinado uma petição on-line pedindo a libertação dos ativistas.

No X (Twitter), o Mother Nature permaneceu desafiante e prometeu continuar buscando justiça social.

Quanto mais vocês nos reprimirem, mais resoluta será nossa luta para proteger a natureza do Camboja.
Quanto mais vocês tentarem abater nosso espírito, mais fortes seremos.
Ratha, Kunthea, Daravuth, Akeo e Leanghy: nós os amamos e respeitamos seus imensos sacrifícios.

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