Berilo, primeira grande tempestade de 2024, tem Ilhas Caribenhas de Barlavento na mira

Imagem da ABI do furacão Berilo do satélite NOAA's GOES-16, 28 de junho de 2024 via Wikimedia Commons, Domínio Público.

Todo ano, do começo de junho até o fim de novembro, a região do Caribe fica em suspense enquanto a temporada de furacões do Atlântico se desenvolve. A região já sofreu com tempestades devastadoras, que parecem ter se tornado ainda mais frequentes e intensas, enquanto a crise climática continua a se fazer sentir. Esse ano, na sexta-feira, 28 de junho, um sistema de alerta hidrometeorológico precoce começou a se formar no sul do Atlântico; dois dias depois, Berilo havia se transformado no furacão de Categoria 4 mais rapidamente organizado de que se tem registro.

Uma vista absolutamente deslumbrante do olho do furacão Berilo.

Agora, Berilo está poderoso, uma tempestade de categoria 4.

A formação rápida que vem sendo chamada de “sem precedentes”, “anormal” e “absurda” é tão inusitada quanto à localização na qual Berilo se materializou; uma trajetória atípica que está fascinando os especialistas:

Muitos posts foram feitos sobre a raridade do furacão Berilo neste período do ano. Em vez de usar palavras para descrever essa raridade, vou deixar uma animação que mostra todas as trajetórias dos furacões de acordo com os períodos do ano.

Sistemas de tempestade raramente se formam tão baixo na bacia do Atlântico e quando isso acontece, com frequência eles desaparecem gradualmente.

Apenas um furacão já foi registrado em junho no leste do Caribe nos trópicos profundos, o primeiro furacão de 1933, ano que teve a temporada de furacões mais ativa já registrada por Energia Ciclônica Acumulada (ECA).

A República de Trinidade e Tobago, portanto, é considerada como localizada fora do cinturão de furacões e foi, em grande parte, poupada da destruição que outras nações da Comunidades do Caribe (CARICOM) enfrentaram devido às tempestades nos últimos anos.

Os meteorologistas do site Weather.com consideram o “fato de que Berilo não apenas se tornou uma tempestade tropical, mas, rapidamente se desenvolveu em um enorme furacão ao leste das Pequenas Antilhas” como um sinal de alerta para o resto da temporada de furacões esse ano.

A velocidade do vento está atingindo, em média, 215 quilômetros por hora, com rajadas ocasionais ainda maiores. Alertas de furacão foram emitidos para as ilhas de Barbados, Tobago, Granada, São Vicente, Granadinas e Santa Lúcia. Além disso há um alerta de tempestade tropical em vigor para Martinica, Dominica – ainda se recuperando do furacão Maria em 2017, e Trinidade.

Existe uma situação preocupante a caminho das Ilhas de Barlavento à medida que o grande furacão #Berilo se aproxima.

Há alertas de furacão em Barbados, Santa Lúcia, São Vicente, Granadinas, Grenada e ilha de Tobago.

Em 28 de junho, a primeira-ministra Mia Mottley alertou os cidadãos de Barbados que eles provavelmente irão ser impactados pela tempestade; quando ela fez esse anúncio Berilo ainda estava classificado como furacão de Categoria 1.

Ao meio dia, em 30 de junho, ministros do governo de Trinidade e Tobago em conjunto com representantes do Escritório Metereológico (Meteorological Office) e o Escritório de Preparação e Controle de Desastres (Office of Disaster Preparedness and Management – ODPM) realizaram uma conferência de imprensa para ajudar os cidadãos a se prepararem para o impacto da tempestade. No X (antigo Twitter) o ministro das Finanças, Colm Imbert, avisou que o país está trabalhando para acomodar o fluxo de embarcações em busca de porto seguro em suas águas:

Com a aproximação do perigoso furacão Berilo de Barbados, São Vicente, Grenada e Tobago, há um enorme influxo de barcos (perto de 100 até o momento, veja abaixo) vindos de Boca para Trindade à procura de abrigo da tempestade. O governo está se preparando para acomodá-los.

Às 14h00 do dia 30 de junho, o Centro Nacional de Furacões de Miami, Flórida, confirmou que um furacão “extremamente perigoso”, de Categoria 4, estava se aproximando das Ilhas Caribenhas de Barlavento com ” ventos e tempestades com potencial risco para a vida” durante o princípio de julho. A atualização também sugeria que “interessados nas Pequenas Antilhas, Ilha de São Domingos, Jamaica, Ilhas Cayman e o restante do noroeste do Caribe monitorem o progresso de Berilo”.

No momento dessa atualização o olho do furacão estava localizado a quase 10,9 graus de latitude norte e 55,6 graus de latitude oeste. Berilo deve permanecer forte enquanto se move oeste-noroeste através das Ilhas Barlavento na manhã de segunda-feira e através das regiões sudeste e central do Mar do Caribe de segunda à quarta.

A extensão da força dos ventos do furacão pode chegar até 45 quilômetros a partir do centro de Berilo. Já os ventos de nível de tempestade tropical podem se estender por até 185 quilômetros.

O pesquisador da meteorologia tropical, Brian McNoldy, da Universidade de Miami, atribuiu a rápida escalada de Berilo ao aumento das temperaturas do oceano. Segundo McNoldy as temperaturas alcançaram recordes para esse período do ano, e estão ainda mais quente do que as alcançadas, geralmente, durante o pico da estação de furacões que acontece em setembro.

Especialistas tem previsto que a temporada de furacões no Atlântico em 2024 será uma das piores já registradas, graças a combinação do fenômeno La Niña com o aquecimento das águas, os ventos alísios reduzidos no Atlântico e menor gradiente de vento.

Nas ilhas que ficam na rota da tempestade há longas filas nos supermercados com as pessoas em busca de suprimentos. A demanda foi ainda maior em Barbados, que realizou a final da Copa Mundial de Críquete T2o no sábado, 29 de junho, contando com milhares de visitantes. O aeroporto de Barbados permanecerá fechado das 19h00 de 30 de junho até novo aviso.

No Facebook, Donna Reece, uma trinitária que está visitando Barbados, postou fotos da calma antes da tempestade, com as águas tranquilas como vidro da ilha na costa oeste. No norte de Trinidade, onde são esperados ventos com força de tempestade tropical, o ar parece parado, quase sem ventos e o canto tenso e intermitente dos pássaros aparece que presente o mau tempo.

Enquanto circulam pelas redes sociais burburinhos sobre o fato de se estar fazendo “história de furacão” devido às anormalidades e intensidades previstas para essa estação, os internautas caribenhos se mostravam profundamente ansiosos:

notícias das ilhas virgens – nossas águas estão absurdamente quentes, não quero nem ver como vai ser o resto dessa temporada.

 

#Berilo nem alcançou Kingston ainda e os serviços já estão fora do ar… As câmeras não estão funcionando, nem os telefones de casa, nem a tv, nem a internet. Eu sabia que devia ter assinado #Starlink

Parece cedo para um furacão tão grande. A mudança climática é real.

Durante esse período tudo que o Caribe pode fazer é se preparar o máximo possível e esperar.

Boa sorte para todos no caminho do Berilo.

Esse é um desejo que os cidadãos do Caribe ouviram com muita frequência. E com a próxima reunião da COP agendada para Baku em novembro, a região espera muito mais do que desejos de boa sorte, e pede ação.


 

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