Será que o México terá sua primeira mulher presidente?

Captura de tela do debate no Instituto Nacional Eleitoral (INE) do vídeo “Primer Debate Presidencial – México 2024″ no canal de YouTube da INETV. Uso permitido.

Em 2 de junho de 2024, acontecerão as eleições presidenciais no México e, pela primeira vez na história mexicana, há condições reais de o país ter sua primeira mulher presidente. Claudia Sheinbaum Pardo e Berta Xochitl Gálvez Ruiz estão disputando o primeiro  lugar nas pesquisas de intenção de voto, deixando o terceiro candidato Jorge Álvarez Máynez a uma distância confortável. Por exemplo, a pesquisa conduzida pelo Mitofsky para a revista El Economista coloca Sheinbaum com 56%, Gálvez com 32,2% e Máynez com 11,8%.

As eleições vão acontecer em um cenário tenso em que os poderes executivo e legislativo estão em conflito com o judiciário, já que as leis que passam no Congresso estão sendo barradas na Corte Suprema. Violência contra políticos locais e a ação do crime organizado também estão aumentando.

Claudia Sheinbaum, contando com a continuidade política

Foto de Claudia Sheinbaum por Rodrigo Jardón via Wikipedia. CC BY-SA 4.0 DEED.

A atual candidata líder, Claudia Sheinbaum, é cientista e pesquisadora que se graduou na Universidade Autônoma do México (UNAM). Ela foi secretária do Meio-Ambiente da Cidade do México (CDMX) em 2000, trabalhando para o governo de Andrés Manuel López Obrador (AMLO) quando ele era prefeito da cidade, e agora ele é presidente do México. Em 2016, ela se tornou a prefeita de Tlapan, uma região da Cidade do México. Em 2018, ela se tornou a primeira mulher prefeita da capital, seguindo a mesma ideologia que AMLO e pregando a esquerdismo social-democrático.

Claudia Sheinbaum se tornou a candidata da coalizão do Movimento de Regenaração Nacional (MORENA), do Partido do Trabalho (PT) e do Partido Verde Ecologista do México (PVEM) em setembro de 2023, depois de eleições internas controversas onde derrotou o ex-secretário das Relações Internacionais Marcelo Ebrard Casaubon e o ex-secretário do governo Andan Augusto Lopez Hernandez.

Como prefeita da Cidade do México, liderou um dos mais ambiciosos programas de reflorestamento, plantando 30 milhões de árvores. Ela também aprovou a construção de duas linhas de bonde para conectar as partas mais altas da cidade, conhecidos como os Ônibus Bonde. Também liderou a expansão das linhas de ônibus-metrô. Durante a pandemia da COVID-19,  a UNESCO premiou a cidade por sua resposta resiliente à COVID-19 e aos terremotos de 2017.

A oposição mexicana atribui a Claudia os seguintes escândalos: a propina que seu ex-marido Carlos Imaz recebeu em 2006 do empresário Carlos Ahumada. Também há o colapso da escola primária de Rebsamen durante o terremoto de setembro de 2017, que resultou na morte de 26 pessoas, a maioria crianças, durante o governo de Sheinbaum como prefeita de Tlapan. Em 2022, uma das pontes do metrô colapsou no evento conhecido como “Linha 12“, onde 26 pessoas morreram.

Xóchitl Gálvez, competindo no segundo lugar

Foto de Xóchitl Gálvez por EneasMx via WikipediaCC BY-SA 4.0 DEED.

A expressiva Xóchitl Gálvez  é uma senadora do partido de direita da oposição, o Partido de Ação Nacional (PAN). Ela teve um começo humilde, sendo de uma família indígena no estado de Hidalgo e se graduando em engenharia da computação na UNAM. Gálvez entrou para a política em 2000, onde serviu como chefe do Centro para o Desenvolvimento dos Indígenas (CDI) na administração presidencial de Vicente Fox. Em 2015, ela se tornou a chefe da municipalidade de Miguel Hidalgo na Cidade do México. Em 2018, tornou-se senadora pelo PAN. Também é empresária especializada na construção de edifícios inteligentes e manutenção de sistemas de computador.

Como senadora, ela se tornou uma crítica ativa do governo de AMLO. Entre seus momentos memoráveis estão se acorrentar no pódio do Senado, ir a uma eleição vestida de dinossauro, e pedir “direito de resposta” em uma coletiva de imprensa de AMLO. Este último a ajudou a se tornar a candidata do bloco da oposição Frente Amplio por México, uma aliança composta pelo PAN, o Partido Revolucionário Institucional (PRI), e o Partido da Revolução Democrática (PRD). Gálvez foi eleita depois de um estranho processo em que todos os seus oponentes desistiram.

Até agora, apenas a empresa de pesquisas Massive Caller a colocou à frente de Sheinbaum, apesar de a metodologia mostrar uma taxa de abstenção de 95% para as respostas do questionário.

Gálvez também foi ligada a atos de corrupção. Em 2023,  o sucessor de Gálvez no gabinete do prefeito Miguel Hidalgo, Víctor Romo, denunciou supostos contratos entre as empresas de Gálvez e o governo. Da mesma forma, uma investigação do jornal Sin Enbargo revelou que a casa de Gálvez, avaliada em US$ 482.928,00, foi construída com um esquema de construção suspeito. O caso ficou conhecido como “La Casa Roja” (A Casa Vermelha)

Álvarez Máynez, construindo uma terceira via

Foto de Jorge Álvarez Máynez por EneasMx via Wikipedia. CC BY 4.0.

O deputado federal Jorge Álvarez Máynez não foi a escolha preferida do partido liberal-progressista (centro-direita), Movimento Cidadão (MC). Na verdade, foi o governador de Nuevo León, Samuel García, o candidato escolhido e que já tinha começado sua pré-campanha. No entanto, com a possibilidade de ser forçado a renunciar pelo congresso do estado, ele abandonou a disputa. Assim, o jovem zacatecano Máynez entrou como substituto.

Máynez construiu um nicho no voto jovem, defendendo medidas ambientais, energia verde e questões sociais como reduzir a jornada de trabalho ou melhorar o acesso a moradia.

Álvarez Máynez também buscou se posicionar usando as redes sociais e usando os dois primeiros debates presidenciais para apresentar as propostas de sua campanha. Até agora, a discussão mais comentada com um candidato aconteceu no segundo debate, quando ele questionou Gálvez sobre se ela iria apoiar a iniciativa de reduzir a semana de trabalho para 40 horas.

Em 2022, ele foi criticado nas redes sociais por sua visita a Kiev, que foi acusada de “turismo de guerra”, e em abril de 2023, uma apoiadora do partido o acusou de assédio sexual.

Apesar de representar uma fração da oposição no México, a linha do partido não quer se juntar ao bloco Frente Amplio. O Movimento Cidadão quer aumentar seu número de representantes no congresso federal e se apresentar ao público como uma alternativa ao binarismo político.

Em 2 de junho, além de eleger um presidente, eleitores irão escolher 500 deputados federais e 128 senadores. Além disso, os estados de Chiapas, Guanajuato, Jalisco, Morelos, Puebla, Tabasco, Veracruz e Yucatán irão escolher governadores e congressistas.

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