
Urumqi, a capital da Região Autônoma Uigur do Xinjiang. Imagem capturada do vídeo ‘Beautiful Xinjiang, China | Muslim Area | Urumqi City | A Paradise on Earth’ do canal do Youtube EaziLine International. Uso justo.
A Região Autônoma Uigur do Xinjiang (XUAR), no oeste da China, ficou conhecida mundialmente através de reportagens sobre os chamados “campos de reeducação“, nos quais as autoridades mantinham centenas de milhares de residentes locais. Uigures, cazaques e representantes de outros grupos de etnia turca e muçulmana foram julgados devido a conexões com o islamismo. As autoridades chinesas denominaram a região como uma fonte de instabilidade e perigo, citando ameaças separatistas e terroristas, que foram utilizadas como justificativa para executarem medidas repressivas de larga escala contra os povos locais. Desde o final de 2016 a situação na região tem permanecido crítica.
De acordo com o relatório de 2018 do Human Rights Watch, embora tenham ocorrido repressões de muçulmanos de origem turca na XUAR anteriormente, a partir do final de 2016 o cenário piorou. Então, o ex-secretário do Partido Comunista no Tibete, Chen Quanguo, foi transferido para Xinjiang. Depois de sua realocação, Quanguo introduziu a política de assimilação forçada, que consistia na detenção de residentes locais sob o pretexto de enfrentamento das três forças do mal: terrorismo, extremismo e separatismo.
Analisando os dados da Procuradoria de XUAR, o HWR descobriu que, entre 2017 e 2021, quase 10% da população — 540.826 pessoas — foram processadas na região. A maioria delas ainda está na prisão. No entanto, em 2019, muitos dos campos de detenção extrajudicial foram gradualmente abolidos. Nos últimos anos, a região tem visto uma certa “liberalização” com o enfraquecimento de controles externos e as autoridades chinesas organizando ativamente visitas demonstrativas, principalmente para diplomatas e jornalistas de países muçulmanos.
A Global Voices conversou com Ivan Petrov (nome alterado por questões de segurança), um especialista de cultura bielorrussa que vive no sudeste da Ásia, para discutir as diferentes abordagens que as autoridades chinesas têm empregado para pacificar a região nos últimos oito anos. Petrov visitou XUAR duas vezes, em 2019 e 2023. A entrevista foi editada para fins de brevidade e clareza.
Global Voices (GV): O que te surpreendeu mais em Xinjiang durante a sua visita em 2019?
Иван Петров (ИП): В 2019 г. меня поразила невероятная система надзора. Города были поделены на сектора, на каждом перекрестке – отделение полиции. От перекрестка до перекрестка по улицам медленно фланировали полицейские машины или даже броневики. На улицах также установлены металлические заграждения. Едешь на машине, останавливают, проверяют содержимое багажника, и кто сидит в салоне.
Во всех общественных местах, типа парков и рынков на входе – сканеры документов и лиц. В обычных магазинах, ресторанах, аптеках – рамки-металлоискатели, дежурят охранники. Даже при входе в некоторые жилые кварталы такие же металлоискатели. По улицам ходят тройки полицейских, вооруженных щитом, дубинкой со штыком и рогатиной с электрошокером. Останавливают молодых ребят, проверяют содержимое их телефонов.
При въезде в любой город – блокпост с проверкой документов. Если с тобой какая-то проблема, тебя могут не выпустить из твоего города и не впустить в другой.
Из того, что еще удивило по сравнению с фотографиями десятилетней давности – все мужчины молодого и среднего возраста гладко выбриты, женщины без религиозных платков.
Ivan Petrov (IP): Eu fiquei espantado pelo incrível sistema de vigilância de lá. As cidades estavam divididas em duas seções, com um posto policial em cada esquina. Viaturas policiais e veículos blindados passavam lentamente pelas ruas, de um cruzamento ao outro. Barreiras de metal foram instaladas nas ruas. Carros eram parados para verificar o conteúdo do porta-malas e ver quem estava no carro.
Em todos os espaços públicos, como parques e mercados, havia escâneres de documentos e faces na entrada. Em lojas, restaurantes e farmácias havia detectores de metais e agentes de segurança em serviço. Até mesmo na entrada de algumas áreas residenciais havia detectores de metais. Três oficiais de polícia armados com escudo, bastão de baioneta e armas de choque andavam pelas ruas. Eles paravam homens jovens e verificavam o conteúdo de seus celulares.
Na entrada das cidades havia postos de inspeção com conferência de documentos. Se houvesse qualquer problema, você não seria autorizado a sair da cidade ou entrar em outra.
A coisa mais surpreendente em relação às fotos de 10 anos atrás era que todos os homens, jovens ou de meia-idade, estavam barbeados e as mulheres estavam sem burca.
GV: Quanto a região mudou nos últimos três anos? Quais diferenças você percebeu na sua visita em 2023?
ИП: К моему великому удивлению, ничего этого в 2023 г. уже не было. Исчезли блокпосты между городами, сканеры лиц в парках и рынках, пункты досмотра. Я спокойно проехал на такси в Опал к могиле знаменитого филолога XI в. Махмуда Кашгари, к которой в 2019 г. меня просто не пустили на блокпосту, сказав, что дорога закрыта.
Посетил город Яркенд, а в 2019-м меня в нем даже не выпустили с железнодорожного вокзала. В Яркенде, правда, чувствовался надзор – при выходе из поезда меня зарегистрировали полицейские и спросили, с какой целью я приехал, а в самом городе за мной по пятам ходил какой-то человек в штатском, но все-таки мне удалось попасть там во все те места, куда я хотел.
Другое отличие – в 2019-м многие таксисты и владельцы общепита не говорили по-китайски. В 2023-м все они уже свободно изъяснялись на путунхуа. Я даже видел детей, которые друг с другом говорили не по-уйгурски, а на путунхуа.
В целом, видимо, ускоренная и усиленная программа ассимиляции сработала, и власти ослабили узду. Но справедливости ради надо отметить, что эти языковые меры касаются не только уйгуров, а всех малых народов.
По всей стране в последние годы школьное образование ведется только на официальном государственном языке путунхуа, а не на языках национальных меньшинств. Жители четырех автономных районов Китая – монголы, уйгуры, чжуаны и тибетцы – обучаются не на своих языках, а на путунхуа. Так что дальнейшее существование разнообразных языков и основанных на них национальных культур под вопросом.
IP: Para minha surpresa, em 2023, eu não vi nenhuma das coisas que testemunhei em 2019. Postos de inspeção entre cidades, escâner facial em parques e mercados, e postos de segurança tinham desaparecido. Peguei um táxi tranquilamente para a cidade de Upal para visitar a cova de Mahmud al-Kashgari, um famoso filólogo do século XI. Em 2019, as autoridades simplesmente não me deixaram passar em um posto de inspeção, dizendo que a estrada estava fechada.
Visitei a cidade de Iarcanda e, em 2019, não me deixaram sair da estação ferroviária. No entanto, em Iarcanda, havia um sentimento de vigilância. Ao deixar o trem, a polícia me registrou e questionou os meus motivos para vir e, dentro da cidade, um agente à paisana me seguiu de perto, porém, fui capaz de entrar em todo lugar que desejava ir.
Uma outra diferença é que em 2019 muitos motoristas de táxi e proprietários de catering não falavam chinês. Em 2023, todos eles já eram fluentes em mandarim. Até vi crianças que conversavam entre elas não em uigur, mas em mandarim.
No geral, o programa de assimilação acelerada e intensificada parece ter afrouxado as rédeas. Para ser justo, deve-se observar que essas medidas linguísticas não se aplicam apenas aos uigures, mas para todas as minorias na China.
Em todo o país, em anos recentes, a educação escolar tem sido conduzida apenas no idioma oficial do estado, o mandarim, e não nos idiomas das minorias nacionais. Residentes das quatro regiões autônomas da China — mongóis, uigures, xuéns e tibetanos — são educados em mandarim. Assim, a existência continuada de vários idiomas e culturas nacionais baseadas nelas é questionável.
GV: A que você atribui essas mudanças em Xinjiang? As autoridades chinesas alcançaram o seu objetivo?
ИП: Я думаю, тут несколько факторов. Один, как я сказал, сработала программа ассимиляции. Другой, возможно – личный. Раньше Синьцзяном руководил переведенный из Тибета Чэнь Цюаньго, там он осуществлял похожую политику. А сейчас его сменил ученый и технократ Ма Синжуй из более либеральной провинции Гуандун.
Еще один фактор – давление Запада, на которое Китай был вынужден отреагировать. Как мне говорили знакомые уйгуры, программа лагерей, куда людей отправляли без суда и следствия, отменена. Большую часть закрыли, а оставшиеся переформатировали в тюрьмы. Теперь туда заключают по формальным причинам.
Ну и наконец, Китай решил развивать туризм в Синьцзян. Нужно показать, что это благополучный регион. А как это сделать, если на каждом шагу проверки – блокпосты и пункты досмотра? Ведь этим утомительным проверкам подвергались и туристы-ханьцы. Так что пришлось отретушировать картинку.
IP: Penso que há vários fatores. Primeiro, como disse, é que o programa de assimilação funcionou. Uma outra razão talvez seja pessoal. Anteriormente, Xinjiang era liderada por Chen Quanguo, que foi transferido para o Tibete, onde ele implementou uma política repressiva parecida. Agora, ele foi substituído por um cientista e tecnocrata, Ma Xingrui, da província mais liberal de Guangdong.
Um outro fator é que a China foi forçada a responder à pressão do Ocidente. De acordo com o que colegas uigures me disseram, o programa de campos onde pessoas foram enviadas sem julgamento foi cancelado. A maioria deles foi fechado e o resto foi transformado em prisões. Agora as pessoas que são enviadas para lá são encarceradas por razões formais.
Por último, a China decidiu desenvolver turismo em Xinjiang. É necessário mostrar que essa é uma região próspera. Como isso pode ser feito se postos de conferência e inspeção estão em todo lugar? Afinal, turistas chineses han também foram submetidos a essas verificações tediosas. Assim, as autoridades tiveram que mudar o panorama.
GV: É como se as pessoas de Xinjiang não estivessem mais sendo encarceradas em uma escala industrial. No entanto, o que acontecerá com aqueles que foram encarcerados inicialmente e que provavelmente não serão libertados?
ИП: Отпустили тех, кто находился в лагерях без приговора и на взгляд властей встал на путь исправления. Тем же, кому не посчастливилось попасть в жернова судебной системы, никто не собирается пересматривать обвинения, часто ужасающе смехотворные.
Так, например, на много лет сажали женщин за то, что они изучали Коран в детстве, 50-60 лет назад, или приговаривали к пожизненным и длительным срокам заключения редакторов одобренных государством учебников, по которым до того велось преподавание в школах всего Синьцзяна. Эти люди, как правило воспринимаются как глубоко религиозные верующие или национально ориентированные интеллигенты, надолго или навсегда изолированы от общества.
IP: Penso que permanecerão sob custódia. Aqueles que estavam em campos sem uma sentença e que, na opinião das autoridades, tomaram o caminho da correção foram soltos. Para aqueles que não tiveram a sorte de serem pegos pelo sistema judicial, ninguém irá reconsiderar as acusações, que são no geral terrivelmente ridículas.
Por exemplo, mulheres foram encarceradas por muitos anos por estudarem o Alcorão quando eram crianças há 50 ou 60 anos. Editores de livros didáticos aprovados pelo estado, que foram anteriormente utilizados em escolas em toda a Xinjiang, foram condenados à prisão perpétua e longos períodos de pena. Essas pessoas, em regra, que são vistas como profundamente religiosas ou intelectuais nacionalistas, são isoladas da sociedade por um longo tempo ou para sempre.