Presidente da Moldávia, Maria Sandu, sendo entrevistada pelo youtuber e jornalista exilado Yuri Dud. Captura de tela de vídeo do canal de Yuri Dud no YouTube. Uso livre.

A presidente da Moldávia, Maia Sandu, foi entrevistada recentemente por Yuri Dud, um jornalista russo exilado. Embora a entrevista em si seja reconfortante e interessante, entre outras coisas, Sandu fala sobre o apoio total da Moldávia à Ucrânia e espera integrar seu país em estruturas europeias mais amplas e é bastante incomum que uma presidente dê uma entrevista a um vlogger.

Além disso, a entrevista dela é em russo. Atualmente, há uma controvérsia na Moldávia em relação ao uso da língua russa, que deixou de ser um idioma de “comunicação internacional” no país em 2018 pela Corte Constitucional da Moldávia. O romeno é agora a única língua oficial da Moldávia, com outras línguas sendo consideradas línguas “minoritárias”. No entanto, o russo é, na verdade, a língua que uma grande parte da população na Moldávia ainda usa para comunicação. Quando a perguntaram se sua escolha do idioma se devia às próximas eleições (a fim de alcançar as comunidades de língua russa no país), Sandu negou, dizendo que há muitos meios de comunicação de língua russa na Moldávia e que está feliz por ser entrevistada em qualquer idioma. As eleições presidenciais moldavas estão previstas para outubro de 2024.

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Dud, um proeminente jornalista, apresentador de televisão e rádio e vlogger russo, tem feito suas entrevistas exclusivamente para o YouTube há vários anos. Ele começou a sua carreira como jornalista esportivo, trabalhando na publicação PROsport e nos canais de televisão NTV-Plus e Rússia-2. De 2011 a 2018, atuou como editor-chefe do Sports.ru.

Em 7 de fevereiro de 2017, Dud lançou um programa no Youtube chamado vDud, onde entrevista figuras notáveis como jornalistas, empresários, ícones culturais, personalidades da internet e políticos. A partir de maio de 2024, o programa conquistou 10,3 milhões de inscritos.

Enquanto trabalhava em seu país antes da invasão russa à Ucrânia começar, Dud tornou-se famoso e popular como um entrevistador que faz perguntas honestas e sem censura. Ele também produziu documentários focados na história russa, incluindo “Kolyma, a pátria do nosso medo”, que examina a região famosa pelos gulags de Stalin, onde os prisioneiros políticos estavam alojados, e “Beslan. Lembre-se.“

Beslan é o nome de uma cidade em Ossétia do Norte-Alânia, a república russa ao norte do Cáucaso, onde terroristas mantiveram crianças, pais e professores em uma escola como reféns de 1 a 4 de setembro de 2004. O ataque terrorista ficou conhecido como o Cerco à Escola de Beslan, no qual 334 pessoas, incluindo 186 crianças e 31 terroristas, morreram no que é considerado o tiroteio escolar mais mortal da história.

Críticas à forma como o governo russo lidou com a crise continuaram, incluindo acusações de uso excessivo da força e alegações de desinformação e censura nos meios de comunicação.

Em fevereiro de 2020, Dud lançou outro documentário, desta vez sobre a situação do HIV na Rússia, que ele chama de “uma epidemia da qual não se fala”.

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Quando a invasão russa à Ucrânia em grande escala começou em fevereiro de 2022, Dud condenou publicamente o movimento e deixou o país. Até 10 de março daquele ano, três episódios do seu canal no Youtube haviam sido declarados extremistas na Bielorrússia: “Komissarenko – uma nova vida após os protestos na Bielorrússia”, sobre o famoso youtuber e comediante bielorrusso Slava Komissarenko, “NEXTA – a principal mídia do protesto bielorrusso” e “Como continuar vivendo quando te expulsam do seu país”, que fala sobre os bielorrussos no exílio.

Em 15 de abril de 2022, o Ministério da Justiça russo o declarou um “agente estrangeiro”. Como muitas figuras da oposição e meios de comunicação forçados a fugir do país após a invasão — e a repressão e censura reforçadas que andaram de mãos dadas com ela — Dud agora continua seu trabalho no exílio da Rússia de Putin. Desde então, ele produziu inúmeras entrevistas e documentários, todos os quais despertaram interesse e controvérsia na Rússia e no exterior.

Uma das últimas entrevistas de Dud, concluída no ano anterior à invasão, foi com Alexey e Yulia Navalny um dia antes de deixarem a Alemanha (Navalny estava recebendo tratamento médico lá após uma tentativa de assassinato) e irem para a Rússia. O líder da oposição e prisioneiro político foi preso e assassinado em fevereiro de 2024, na colônia prisional russa. Sua conversa com Dud foi a última entrevista conhecida de Navalny.

O forte histórico de trabalho jornalístico de Dud pode ter contribuído para a decisão da presidente Sandu de conceder a entrevista, a primeira com uma chefe de Estado.