Por que o hidrogênio verde representa um enorme potencial para Trinidad e Tobago

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hidrogênio verde ou hidrogênio renovável é a última moda, mas será que corresponde às expectativas? Essa pergunta e outras mais foram exploradas na Pesquisa Colaborativa sobre Hidrogênio, realizada em 21 de setembro, no campus de Santo Agostinho da Universidade das Índias Ocidentais (UWI), onde graduados da Universidade de Trinidad e Tobago (UTT) e da UWI apresentaram suas pesquisas.

O que é exatamente hidrogênio renovável? É uma maneira inovadora de continuar extraindo e usando hidrogênio sem depender de combustíveis fósseis. Philip Julien, presidente da Kenesjay Green, empresa indígena de desenvolvimento de projetos dedicada à criação de programas de descarbonização em escala industrial, explica de forma simples: “É criado por eletrólise da água. A água é composta de hidrogênio e oxigênio. Se passarmos uma corrente elétrica através da água, as conexões serão quebradas, criando assim o hidrogênio e o oxigênio. Se usarmos uma fonte de eletricidade com baixa pegada de carbono, o hidrogênio produzido será o ‘verde’.”

A Kenesjay Green idealizou a criação da NewGen Energy Limited para construir instalações de produção de hidrogênio verde/renovável, cujo produto é incorporado à fabricação de amônia nas instalações da Trinidad Nitrogen Company, na zona industrial de Point Lisas, ao sul de Trinidad. Em 2022, a Hidrogène de France (HDF) adquiriu 70% das ações do projeto da NewGen por meio de sua filial local, enquanto a Kenesjay Green deteve os 30% restantes.

Um estudo realizado pela Corporação Nacional de Energia de Trinidad e Tobago com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento reforça o conceito de imenso potencial que o hidrogênio verde possui no país insular caribenho. Em um país que já tem os alicerces para se tornar o centro de produção, armazenamento e comércio de hidrogênio e amônia/metanol na América, o hidrogênio verde é considerado o próximo passo e uma opção viável de descarbonização para os setores industrial e elétrico.

Mercados de amônia

Em 2021, Trinidad e Tobago exportou US$ 1,74 bilhão em amônia, o que transformou o país no segundo maior exportador mundial. Mas a produção local de amônia utiliza gás natural, e o mercado exige que o produto seja produzido com baixo teor de carbono. Essa notável posição está cada vez mais ameaçada.

Um relatório da S&P Global Commodity Insights prevê que o mercado de amônia triplicará até 2050, ao passo que a procura por amônia de baixo carbono “revoluciona o mercado”:

Driven by improved economics resulting from decarbonisation policies, low-carbon ammonia is expected to grow from its current nascent state to 420 million tons—two thirds of the total market—by 2050. […]

The new strategic report, Low-carbon Ammonia: Facilitating the Transition to a Sustainable Future says that the potential use of low-carbon ammonia as a marine bunker fuel, industry feedstock and as a carrier for hydrogen used in power generation represents a profound shift for the industry—from one geared primarily towards fertilizer production to one driven by energy markets.

Com o estímulo de uma economia melhorada, resultante de políticas de descarbonização, espera-se que a amônia de baixo carbono cresça de seu atual estado inicial para 420 milhões de toneladas (dois terços do mercado total) até 2050.

O último relatório estratégico, ‘Amônia de baixo carbono: facilitando a transição para um futuro sustentável’, afirma que a utilização potencial de amônia de baixo carbono como combustível para transportes marítimos, matéria-prima industrial e transportador do hidrogênio utilizado na geração de eletricidade representa uma profunda mudança para a indústria, de uma produção destinada principalmente à fabricação de fertilizantes a uma produção voltada para os mercados de energia.

Na União Europeia, o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM) foi adotado pela Comissão Europeia como “ponto de referência para estabelecer um preço justo para o carbono emitido durante a produção de produtos com altas emissões de carbono que entram na União Europeia, e para incentivar uma produção industrial mais limpa em países terceiros”.

O vice-presidente da HDF Caribbean, Thibault Ménage, menciona o CBAM como incentivo para que Trinidad e Tobago avance em direção a essa tendência de descarbonizar o setor da amônia: “A Europa é um grande importador de amônia [de Trinidad e Tobago] (…) poderemos perder o mercado europeu, se não conseguirmos descarbonizar.”

Antecipadamente, a NewGen Energy Ltd. buscou a certificação de carbono para suas amônias pela TÜV Rheinland com um limite de <1 kg de CO2/kg H2, o que permitiria que a amônia produzida para o mercado internacional com hidrogênio da NewGen fosse segura para exportação.

Declínio do gás natural e potencial para o desenvolvimento da economia local

O investimento da filial local da Hydrognéne de France no projeto da NewGen é também um investimento em Trinidad e Tobago. Em nome da HDF, Ménage declarou que vê um grande potencial para o mercado local de hidrogênio, mas a NewGen “tem que ser um sucesso” antes que a HDF considere continuar investindo em outros projetos da indústria verde em Trinidad e Tobago.

No entanto, as projeções são positivas. Na opinião de Ménage, a NewGen oferece à Trinidad e Tobago uma vantagem competitiva global pela demanda de hidrogênio renovável, que teria grande apoio pelo histórico do país como economia energética e por sua vasta experiência na indústria petroquímica. Ele afirma que “um único projeto de sucesso” pode mostrar que Trinidad e Tobago tem “capacidade e conhecimento”. Por sua vez, o presidente da Kenesjay Green, Philip Julien, afirmou em seu discurso de abertura do simpósio de hidrogênio, que o Caribe é decisivo na questão do hidrogênio (e não ao contrário). A abundância de recursos solares, eólicos e geotérmicos na área coloca o Caribe em um cenário ideal para aumentar a produção de hidrogênio.

Uma vez que as instalações hidrogênicas estejam em funcionamento (a data prevista é 2025), a NewGen será a maior e mais avançada empresa desse gênero no mundo: operando com força total produzirá 20.000 toneladas de hidrogênio verde por ano, o que corresponde a 5% do déficit de Point Lisas de 400.000 t.

Porém, essa é uma estimativa baixa, já que atualmente algumas das fábricas de Point Lisas não funcionam a todo vapor devido à falta de gás natural. Certamente, de acordo com o The New York Times, “a produção de gás foi reduzida em 40% desde 2010, forçando o país a fechar um de seus quatro terminais de exportação de gás natural liquefeito e três de suas 18 fábricas petroquímicas”. Diante desses sinais evidentes, Ménage pediu ao governo que busque qualquer oportunidade de descarbonizar o setor energético de Trinidad e Tobago para que o uso do gás natural possa ser aplicado.

O papel do desenvolvimento sustentável

Na Cúpula dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas de 2023, realizada em setembro, em Nova York, o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, assinalou que o mundo só alcançou 15% dos ODS na metade do prazo, que termina em 2030. Além disso, os ODS sofreram importantes contratempos em Trinidad. O Índice/Relatório de Desenvolvimento Sustentável classifica muitos dos ODS do país como “melhorando moderadamente” e “com dificuldades”, como o Objetivo 7 (Energia limpa e acessível), o Objetivo 8 (Trabalho digno e crescimento econômico) e o Objetivo 9 (Indústria, inovação e infraestrutura).

No que diz respeito ao compromisso de Trinidad e Tobago com as Contribuições Determinadas a Nível Nacional (NDC) do Acordo de Paris, o país deve se comprometer a reduzir em 15% a emissão de gases do efeito estufa dos três principais segmentos emissores (geração elétrica, transporte e indústria) até 2030.

Trinidad e Tobago é responsável por cerca de 40% de todo o carbono emitido pelo Caribe. A NewGen estima que sua contribuição para as NDCs é de 165.000 toneladas de dióxido de carbono do setor industrial. Rointra Hosein, estudante de mestrado da Universidade de Trinidad e Tobago, que apresentou sua pesquisa no simpósio, estima que ao substituir todo o hidrogênio cinza do país (produzido com gás natural) por hidrogênio renovável, o país poderá economizar até 2,1 milhões de toneladas por ano.

Localmente, o hidrogênio verde é um material alternativo adicional para dar suporte ao fornecimento cada vez menor de gás natural nos setores terminais de amônia e metanol (uma oportunidade que acelerou o desenvolvimento da NewGen), mas o potencial do hidrogênio limpo vai muito além. Pode ser um combustível limpo alternativo para muitas finalidades, como eletricidade, transporte e petroquímica. De acordo com Julien, “todas essas coisas que atualmente dependem de uma base de combustíveis fósseis podem, em teoria, ser substituídas, reabastecidas e aperfeiçoadas por uma fonte de energia não fóssil chamada hidrogênio”.

Christianne Zakour integra o Caribbean Energy Reporting com Climate Tracker.

 

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