Quatro líderes da mudança combatendo a violência de gênero na África e na Índia

Da esquerda para a direita: Priye Diri, Josephine Mwende, Innocent Madonsela e Sagina Walyat. Imagem fornecida por Bidisha Saikia, usada com permissão.

Por Bidisha Saikia

Existem vários tipos de violência de gênero, incluindo emocional, psicológica, sexual e física. Os exemplos incluem mutilação genital feminina (MGF), assassinatos por honra, casamentos precoces e forçados, assim como tráfico sexual. Entre esses, violência de parceiros íntimos e violência sexual de não parceiros são duas das formas de violência mais comuns pelas quais as mulheres passam,  e globalmente, aproximadamente uma em cada três mulheres, em algum momento da vida, passou por alguma ou pelas duas formas de violência de gênero.

A campanha “16 dias de Ativismo Contra a Violência de Gênero”, liderada pela sociedade civil e apoiada pelas Nações Unidas, é uma iniciativa globalmente reconhecida que vai de 25 de novembro, o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, a 10 de dezembro, o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Durante este período crucial, indivíduos, organizações e comunidades se unem em um esforço coletivo para conscientizar e combater a violência de gênero. A campanha é uma plataforma poderosa para defender mudanças políticas, promover mudanças educacionais, amplificar vozes de sobreviventes e gerar envolvimento em atividades diversas que desafiem as normas sociais.

Nos últimos anos, quatro líderes da mudança do coletivo Nguyu estiveram ativamente envolvidos nessa campanha, incansavelmente lutando contra várias formas de violência no Quênia, Nigéria, África do Sul e Índia.

Do Quênia, a petição de Josephine Mwende Kamene destaca a necessidade urgente de acesso igualitário a cuidados com a saúde para mulheres durante a gravidez e parto, dando visibilidade à realidade trágica da violência obstétrica. Mwende é a fundadora e diretora executiva da AbleRise Africa Society, uma organização de base comunitária que desafia normas sociais e defende a inclusão e igualdade. A violência obstétrica incluiu várias formas de maus tratos, desrespeito e abuso contra mulheres durante o parto, sendo uma profunda violação de seus direitos e dignidade. Mãe solteira, Mwende nasceu com paralisia cerebral e enfrentou discriminação de vários hospitais quando chegou a hora de dar à luz o seu bebê.

Em agosto deste ano, Mwende encontrou-se com a secretária de gabinete do Ministério da Saúde, Susan Nakhumicha, para apresentar sua campanha. Sua experiência e recomendações foram consideradas quando a secretária de gabinete da Saúde, Susan Nakhumicha, apresentou-se ao Senado em 1º de novembro, para destacar os planos do Ministério de melhorar o acesso à saúde dos indivíduos com deficiências. Até agora, Mwende esteve à frente de sua campanha por cuidados com a saúde que incluam as pessoas com deficiência, adotando ações importantes como escrever artigos de opinião sobre o assunto e participar de programas de rádio locais e nacionais, programas especiais de televisão e entrevistas.

A campanha de 16 Dias de Ativismo vai além da conscientização ao encorajar ações objetivas tanto no nível individual como no comunitário. A advogada de direitos humanos e ativista Sagina Walyat, da Índia, esteve militando pelos direitos legais das mulheres rurais e urbanas nos últimos anos. Para dar apoio às mulheres que enfrentam dificuldades, o governo indiano estabeleceu vários números de telefone de ajuda, principalmente 181 e 1091, para garantir fácil acesso ao auxílio necessário. No entanto, ao longo dos anos, houve um declínio notável no número de chamadas feitas para o 1091, de acordo com informações da Polícia de Delhi, em comparação com estatísticas de 2021. Entre as razões dadas para a queda depois de 2021, no entanto, está que a violência doméstica aumentou durante a COVID-19, e então  aumentaram as patrulhas móveis nas áreas com mais problemas. Em resposta, Walyat iniciou uma campanha solicitando ao Ministério do Petróleo e Gás Natural; Habitação e Urbanização para divulgar os números de ajuda às mulheres nos cilindros de gás GLP, que são usados por 305 milhões de residências no país.

 A organização de Walyat, a Beacon of Rights, dedica-se a promover os direitos humanos e das mulheres, com o objetivo de causar impacto social com foco na educação, saúde e direitos sexuais e reprodutivos. A organização também busca diminuir a lacuna de gênero na alfabetização legal na Índia com auxílio e conscientização voluntárias sobre assuntos legais. “Nesses 16 Dias de Ativismo, peço um mundo onde todos, independentemente do gênero, possam viver livres da violência e discriminação”, disse Walyat.

Prive Diri, da Nigéria, é uma jovem diretora de cinema feminista e especialista em desenvolvimento com experiência em combate e prevenção à violência sexual e de gênero. Ela lidera uma campanha pedindo a gratuidade de tratamentos médicos para sobreviventes de violência de gênero na capital, Abuja. Ela disse, “como socorrista da violência de gênero, todo dia, eu ouço histórias de mulheres e meninas que sobreviveram a essas violências; conforme caminho com elas para conseguirem a justiça, vi o custo da justiça e o impacto de longo prazo que isso pode ter na vida de uma pessoa”. Diri se envolveu com a Agência Nacional de Desenvolvimento de Cuidados Essenciais com a Saúde para entregar sua petição e discutir como mais de 30.000 centros de saúde essencial na Nigéria poderiam garantir a confidencialidade e cuidado ao lidar com casos de violência sexual e de gênero.

No momento, Diri está trabalhando em um curta-metragem que ela planeja lançar antes do fim do ano, destacando o sofrimento das vítimas de violência sexual e de gênero na Nigéria. Ela planeja envolver o Ministério da Mulher e o Ministério da Saúde na capital, Abuja. O governo dos EUA recentemente reconheceu seu trabalho ao conceder a ela a bolsa Mandels Washignton Fellowship, fundada pelo presidente Barack Obama em 2010.

De Johanesburgo, na África do Sul, Innocent Madonsela, de 34 anos, ficou chocado com a existência de Funelani nganeno/Ukuthwala (expressão em zulu para denominar um tipo de casamento forçado) na municipalidade local de Nkomazi na província de Mepumalanga. Essa é uma prática na qual garotas menores de idade são sequestradas e estupradas por homens mais velhos, que então as levam à casa dos pais com uma oferta de casamento em troca de um pagamento simbólico. Ambas as família concordam com o casamento informal, ilegal e não documentado sem o consentimento da garota.

“Essa tradição não acontece apenas na minha vila; recentemente, houve relatos de que crianças de 10 anos engravidaram no último ano, com KwaZulu-Natal registrando 26.515 meninas grávidas com idades de 10 a 19 anos em oito meses”, disse Madonsela. Ele ajudou mais 20 meninas nos últimos 12 meses. Seus esforços incluem resgatar algumas garotas e dar a elas um espaço seguro. Ele trabalhou com uma ambulância da vila, transportando meninas para o hospital mais próximo (a 64 quilômetros de distância) durante partos que ameaçavam a vida delas e complicações da gravidez. Ele quer garantir que a ajuda esteja disponível para todas as garotas vulneráveis e foi isso que o levou a fazer uma petição on-line solicitando à Comissão de Direitos Humanos para intervir e proteger as meninas, e interromper essa prática.

A campanha de Madonsela tornou essa questão um assunto nacional, e ele envolveu diversos setores, incluindo a polícia sul-africana, a Comissão de Direitos Humanos, a Comissão de Gênero, e o Conselho dos Líderes Tradicionais, para acabar com essa prática e a gravidez na adolescência em Nkomazi. Sua petição é apoiada por mais de 10.500 pessoas, e continua aumentando.

Em uma notável convergência de objetivos, Josephine Mwende, Sagina Walyat, Priye Diri e Innocent Madonsela estão unidos apesar da distância geográfica, tendo como ponto em comum a formidável força de mudança que têm como líderes no coletivo Nguvu. Unidos pelo mesmo compromisso, esses líderes da mudança são o exemplo do potencial transformador inerente à busca coletiva por empoderamento e mudança social.

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