Solicitante de asilo LGBTQ+ russo morre fora do campo de refugiados holandês

Foto de ev no Unsplash . Usada sob uma licença Unsplash .

Em 29 de novembro de 2023, a LGBT World Beside, uma organização europeia de apoio a solicitantes de asilo e refugiados LGBTQ+ de países pós-soviéticos, publicou uma notícia devastadora em seu Instagram:

With deep regret, we announce the loss of another member of our community, Mikhail, a seeker of asylum from Russia. This is the third loss this year, and we express sincere condolences to Mikhail’s family and friends. Deaths in refugee camps, especially among the LGBTQIA+ community, are becoming a troubling trend. This is no longer just an incident but a cry for help. The government and COA (Central Agency for the Reception of Asylum Seekers) need to reconsider the policy of placing refugees from vulnerable groups.

Com profundo pesar, anunciamos a perda de outro membro de nossa comunidade, Mikhail, um requerente de asilo da Rússia. Esta é a terceira perda este ano e expressamos sinceras condolências à família e amigos de Mikhail. As mortes em campos de refugiados, especialmente entre a comunidade LGBTQIA+, estão se tornando uma tendência preocupante. Isso não é mais apenas um incidente, mas um pedido de ajuda. O governo e a COA (Agência Central de Recepção de Requerentes de Asilo) precisam reconsiderar a política de colocação de refugiados de grupos vulneráveis.

Mikhail tinha 24 anos de idade. Ele chegou à Holanda e pediu asilo há cerca de 12 ou 14 meses. De acordo com a LGBT World Beside, ele foi enviado para um centro de requerentes de asilo na cidade de Echt. Na postagem, a LGBT World Beside pede aos necessitados que “não hesitem em procurar ajuda de familiares, amigos e conhecidos”. “Você não está sozinho!”, tranquilizam os ativistas.

Um usuário do X (antigo Twitter) escreveu:

Há meio ano, em um campo de refugiados na [Holanda], Hina Zakharova, da Rússia, cometeu suicídio, e agora há notícias sobre outro rapaz russo. As pessoas ficam lá por anos, eu mesmo passei 14 meses SEM uma entrevista (COM MEU CASO!), eles levaram meu passaporte internacional, passaporte nacional, carteira de identidade militar, que ainda não devolveram.

Leia mais: Garota trans da Rússia comete suicídio em campo de refugiados

Citando o advogado assistente de Mikhail, um porta-voz da LGBT World Beside disse à Global Voices que o Serviço de Imigração e Naturalização tinha suspendido o processo de Mikhail por causa de um “suicídio fora do campo”.

Uma organização sem fins lucrativos da Holanda, a LGBT World Beside se concentra em fornecer apoio jurídico e psicológico a refugiados LGBTQ+ e suas famílias, bem como a pessoas LGBTQ+ que ainda vivem em seus países de origem. A ONG foi fundada em 2018 e realiza eventos sociais e trabalha para disseminar informações na Holanda e nos países de origem dos refugiados. Tenta criar um espaço seguro para membros da comunidade LGBTQ+, facilitando sua integração na nova sociedade, e apoiá-los na recuperação de sua experiência traumática bem como na luta contra a discriminação. A Global Voices entrevistou o representante da ONG via Telegram.

Global Voices (GV): Você sabe quantos refugiados LGBTQ+ da Rússia estão agora em campos holandeses?

LGBT World Beside (LWB): We do not know the exact number of LGBT asylum seekers from Russia at the moment, but we do know that, as of 2022, it could be more than 500. In most cases applicants are granted an interview at the end of 12 months. But we are also aware of cases where LGBT asylum seekers are not given a second interview, even after the official 15 months end. We hold regular meetings to make the socialization of arriving asylum seekers as comfortable as possible. Our meetings are attended by more than 80–100 people. But we understand that we are not omnipotent, and just meetings will not help to solve the issue with long waiting time.

LGBT World Beside (LWB): Não sabemos o número exato de solicitantes de asilo LGBT da Rússia no momento, mas sabemos que, a partir de 2022, esse número poderia ser superior a 500. Na maioria dos casos, é concedido aos requerentes uma entrevista no final de 12 meses. Mas também temos ciência de casos em que solicitantes de asilo LGBT não passam por uma segunda entrevista, mesmo após o término oficial dos 15 meses. Realizamos reuniões regulares para tornar a socialização dos solicitantes de asilo que chegam o mais confortável possível. Nossas reuniões são frequentadas por mais de 80 a 100 pessoas. Mas entendemos que não somos onipotentes, e apenas as reuniões não ajudarão a resolver o problema do longo tempo de espera.

GV: Se um refugiado tiver algum tipo de problema, como conflitos no campo, ou se estiverem apenas muito estressado, a quem eles podem recorrer para buscar ajuda?

LWB: If an LGBT asylum seeker has a situation in which they need help, they can definitely contact the case manager at the Central Agency for the Reception of Asylum Seekers (COA) right away, or a COA employee on duty, if something happens outside of working hours. Then, the asylum seeker can also file an official complaint with the temporary accommodation camp and camp authorities are obliged to process it. Of course,  there still might be problems with emergency assistance, but if someone is really in danger, they will get help. COA staff is helpful, caring and deals with conflicts, especially within the camp. COA staff has many meetings inside the camps to make the asylum seeker’s stay as comfortable as possible. If an asylum seeker could not solve an issue, they could call us, we would contact COA and the staff would help. For example, when an asylum seeker in one of the camps far away from major medical centers felt unwell at night, a medical helicopter arrived. As far as we understand, COA and GZA (a healthcare provider for asylum seekers) staff do not refuse medical care and do help with problems. But asylum seekers may indeed wait several months for a doctor's appointment.

LWB: Se um solicitante de asilo LGBT tiver uma situação em que precise de ajuda, ele pode entrar em contato imediatamente com o gerente do caso na Agência Central para Recepção de Requerentes de Asilo (COA) ou com um funcionário da COA que esteja de plantão, se algo acontecer fora do horário de trabalho. Então, o requerente também pode registrar uma reclamação oficial no acampamento de acomodação temporária e as autoridades do acampamento são obrigadas a processá-la. É claro que talvez ainda possa haver problemas com a assistência emergencial, mas se alguém estiver realmente em perigo, receberá ajuda. A equipe da COA é prestativa, atenciosa e lida com conflitos, especialmente dentro do acampamento. A equipe da COA realiza muitas reuniões dentro dos campos para tornar a estadia do solicitante de asilo o mais confortável possível. Se um solicitante de asilo não conseguisse resolver um problema, ele poderia nos ligar, nós entraríamos em contato com a COA e a equipe ajudaria. Por exemplo, quando um solicitante de asilo em um dos campos, longe dos principais centros médicos, sentiu-se mal à noite, um helicóptero médico chegou. Pelo que entendemos, a equipe da COA e do GZA (um provedor de assistência médica para requerentes de asilo) não recusa atendimento médico e ajuda com os problemas. Mas os solicitantes de asilo podem, na verdade, esperar vários meses por uma consulta médica.

GV: Como os refugiados podem obter assistência psicológica?

LWB: If an asylum seeker needs psychological support, they officially submit a request to the GZA inside the camp. We know that officially waiting for an appointment with a psychologist can take more than a month, sometimes two. And this is the first thing we would like to influence now. On our social media, we regularly post information on services of emergency and targeted psychological help, these are psychologists who are volunteers. But LGBT people need the support of specialists, they need safety on a regular basis. The fact that asylum seekers are on the territory of the Netherlands does not mean that they immediately feel safe, especially in light of the nonstop openly homophobic news from Russia. If waiting time for interviews has increased, we believe the support system in camps must change too as these are temporary refugee accommodation camps. Temporary, not permanent. Imagine how a person feels without certainty of being able to stay, when they have been waiting for an interview for 15 months.

LWB: Se um requerente de asilo precisar de apoio psicológico, ele envia oficialmente uma solicitação ao GZA dentro do campo. Sabemos que a espera oficial por uma consulta com um psicólogo pode levar mais de um mês, às vezes dois. E essa é a primeira coisa que gostaríamos de influenciar agora. Em nossas redes sociais, publicamos regularmente informações sobre serviços de emergência e ajuda psicológica direcionada, esses são psicólogos voluntários. Mas as pessoas LGBT precisam do apoio de especialistas, precisam de segurança regularmente. O fato de os solicitantes de asilo estarem no território da Holanda não significa que sintam-se seguros imediatamente, especialmente à luz das notícias ininterruptas e abertamente homofóbicas vindas Rússia. Se o tempo de espera para as entrevistas aumentou, acreditamos que o sistema de apoio nos campos também deve mudar, pois esses são campos de acomodação temporária de refugiados. Temporário, não permanente. Imagine como uma pessoa se sente sem a certeza de que poderá ficar, quando espera por uma entrevista há 15 meses.

GV: Depois que a Suprema Corte russa decidiu que o “movimento internacional LGBTQ+” é uma “organização extremista”, você espera uma onda de emigração em massa da Rússia?

We are already preparing to help on the spot. Every day it's getting harder to cross the borders. It will be hard to leave Russia, and visas are not so easy to get now.

Já estamos nos preparando para ajudar no local. A cada dia está ficando mais difícil atravessar as fronteiras. Será difícil sair da Rússia, e os vistos não são tão fáceis de obter agora.

Leia mais: Polícia invade imediatamente clubes LGBTQ+ em Moscou depois que a Rússia proíbe o “movimento internacional LGBTQ+

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