Estamos vivendo em um planeta de plástico? No Caribe, o problema frequentemente parece insolúvel: canais entupidos de plástico, pontos turísticos cheios de lixo, depósitos de lixo informais em calçadas urbanas, plástico trazido pelas ondas nas praias e reclamações sobre descarte e coleta inadequadas de lixo.
Sob a superfície, mergulhadores encontram uma vasta quantidade de plástico quando fazem limpezas regulares no fundo do mar, por meio de programas como o Curaçao’s Dive Against Debris [1]. Todas as formas de vida marinha são afetadas, incluindo as aves marinhas que, segundo os cientistas, sofrem de plasticose [2].
Além disso, os resíduos plásticos são frequentemente culpados por piorar os efeitos das enchentes durante a estação chuvosa em territórios da região da Jamaica e Trinidade e Tobago, [3]contribuindo para desastres naturais. O impacto atual e futuro no turismo – outra fonte de resíduos plásticos – e em outras atividades marinhas é quase incalculável. Relatórios recentes têm mostrado a escalada do problema para a economia das comunidades costeiras e das ilhas [4].
De acordo com o Programa Ambiental das Nações Unidas, são produzidas cerca de 400 milhões de toneladas de plásticos anualmente no mundo todo, índice que vem aumentando desde os anos 1970. As estatísticas [5] são chocantes:
Approximately 36 per cent of all plastics produced are used in packaging, including single-use plastic products for food and beverage containers, approximately 85 percent of which end up in landfills or as unregulated waste.
Additionally, some 98 percent of single-use plastic products are produced from fossil fuel, or “virgin” feedstock. The level of greenhouse gas emissions associated with the production, use and disposal of conventional fossil fuel-based plastics is forecast to grow to 19 percent of the global carbon budget by 2040.
Aproximadamente 36% de todo o plástico produzido é usado em embalagens, incluindo produtos plásticos descartáveis de uso único para embalagens de comida e bebida; cerca de 85% deles acabam em aterros sanitários ou descartados ilegalmente.
Além disso, aproximadamente 98% dos produtos plásticos descartáveis de uso único são produzidos com combustíveis fósseis ou matérias-primas “virgens”. O nível de emissão de gases do efeito estufa associado com a produção, uso e descarte de plásticos convencionais feitos com combustíveis fósseis está previsto atingir 19% do limite de carbono global até 2040.
Apesar de as estatísticas serem alarmantes, estão sendo realizados grandes esforços, tanto globalmente quanto no Caribe, para deter a maré de plástico.
Em março de 2022, a quinta Assembleia Ambiental das Nações Unidas concordou em trabalhar [6] por um Tratado Global sobres Plásticos e fazer um acordo vinculante internacional para 2024. Algumas questões fundamentais ainda precisam ser resolvidas [7] quando os negociadores se encontrarem de novo em Paris, na França, de 29 de maio a 2 de junho de 2023. Organizações ambientais como o Greenpeace esperam [8] que um acordo sólido seja firmado, com duas prioridades:
An immediate cap on virgin plastic production to 2017 levels, followed by significant, annually increasing reductions in the production and use of plastic.
An end to single-use plastics, starting with the most unnecessary and harmful.
Limitar imediatamente a produção de plástico virgem para os níveis de 2017 e, depois, incrementar uma redução anual significativa da produção e uso de plástico. Dar um fim aos plásticos de uso único, começando com os mais desnecessários e danosos.
Globalmente, as ONGs estão fazendo todo o possível para conscientizar e encontrar soluções criativas. A Lonely Whale [9], por exemplo, fez uma parceria com o designer de moda Tom Ford para outorgar anualmente o Prêmio de Inovação em Plásticos [10], com foco em um tipo específico de plástico, as tradicionais sacolas de plástico fino e, também, buscar alternativas sustentáveis.
Mesmo com o panorama sombrio, é justo dizer que o Caribe também está lutando contra o plástico e descobrindo que, nesse esforço, as parcerias são eficientes.
Um exemplo notável é o Projeto de Limpeza do Porto Kingston (KHCP, na sigla em inglês), uma parceria entre a reconhecida ONG global The Ocean Cleanup [12], a fundação jamaicana Grace Kennedy Foundation [13] e a Clean Harbours Jamaica [14]. A iniciativa atraiu vários apoiadores locais, incluindo organizações sem fins lucrativos e o setor de negócios. Enquanto o projeto para a instalação de quatro barreiras de coleta de lixo – onde canais deságuam no oitavo maior porto natural do mundo – continua, a The Ocean Cleanup aplaudiu os esforços no Twitter:
More good news from Jamaica!
Interceptors 008, 009, 010 and 011 continue fighting plastic pollution in Kingston’s gullies.
We’re still confirming the catch quantities – stay tuned for more details of our Interceptors’ impact on plastic pollution in Jamaica. pic.twitter.com/XaEB7vWLdT [15]
— The Ocean Cleanup (@TheOceanCleanup) April 6, 2023 [16]
Mais boas notícias da Jamaica! Os Interceptors [11] 008, 010 e 011 continuam combatendo a poluição por plástico nos canais de Kingston. Ainda estamos confirmando as quantidades coletadas – fiquem ligados para mais detalhes do impacto dos Interceptors na poluição por plástico na Jamaica.
O KHCP, que inclui a participação de membros de quatro comunidades locais, diz que evitou que 213.980 kg de lixo entrassem no porto entre fevereiro de 2022 e março de 2023. A CEO da Grace Kennedy Foundation, Caroline Mahfood, disse à Global Voices em um e-mail:
The Harbour is undoubtedly a vital natural resource. This project is all about working together with the private and public sector, NGOs and community members, to reduce the pollution of the Harbour and create a healthier environment for the wildlife and people that depend on it. We hope that our efforts here will not only contribute to a healthier Harbour, but also pave the way for a sustainable future that benefits generations to come.
Sem dúvida, o porto é um recurso natural vital. Este projeto foca em trabalhar junto com os setores privados e públicos, ONGs e membros de comunidades, para reduzir a poluição do porto e criar um ambiente mais saudável para a vida selvagem e as pessoas que dependem dele. Esperamos que nossos esforços não apenas possam contribuir para um porto mais saudável, mas também abram o caminho para um futuro sustentável que beneficie as próximas gerações.
Alguns governos caribenhos já proibiram [17] certos tipos de plásticos. Na Jamaica, a proibição de sacolas plásticas de uso único, canudinhos e poliestireno entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2019, e o ministro responsável disse recentemente que está considerando uma futura proibição [18] de produtos contendo microesferas de plástico, assim como as onipresentes embalagens de alimentos que substituíram o isopor. Antígua e Barbuda tem um plano similar, e outras nações caribenhas [17] estão lentamente aplicando proibições. Ainda há preocupações com os microplásticos, no entanto, o quadro permanece incerto.
Apesar de preocupações de que a maioria dos plásticos do mundo, nos EUA por exemplo, [19] não possa ser totalmente reciclável, os países caribenhos continuam a manter os atuais projetos de reciclagem, oferecendo dinheiro pela coleta de garrafas. Um projeto piloto [20] em Trinidad e Tobago tem como objetivo reciclar 20% de suas garrafas plásticas até 2025. A Recycling Partners of Jamaica coletou 125 milhões de garrafas (2.7 milhões de kg) em 2022 e neste ano está expandindo seu alcance, inclusive a capacidade de coleta. A organização disse que [21] seus depósitos estão “cheios” com garrafas e que está observando um grande entusiasmo dos cidadãos em participar.
Enquanto isso, o Jamaica Environment Trust [22] continua seus esforços com foco na comunidade [23] para melhorar o manejo do lixo de forma geral. A sua limpeza de praia no Dia da Terra [24] de 2023, que vai focar em Kingston Harbour, já teve suas inscrições esgotadas.
Embora a tarefa de reduzir a poluição por plástico seja assustadora, especialmente para as pequenas ilhas do Caribe, parece que os cidadãos estão cada vez mais dispostos a aceitar o desafio. Com a chegada do Dia da Terra, talvez a maré esteja mudando.