Entrevista com ativista romena contra a desinformação revela que campanhas de desinformação atingem refugiados da Ucrânia

Ina Danila, gestora de projetos da organização romena de verificação de fatos e ativismo digital Funky Citizens. Foto de cortesia usada sob permissão.

Esta entrevista baseia-se na cobertura original da Meta.mk. Existe uma versão editada e republicada aqui sob o acordo de compartilhamento de conteúdo entre a Global Voices e a Metamorphosis Foundation. 

Enquanto as campanhas de desinformação vão inundando a Europa Central e Oriental, as organizações da sociedade civil posicionam-se na vanguarda de iniciativas para enfrentar esse desafio. A Meta.mk falou com Ina Danila, gestora de projetos da Funky Citizens, uma organização romena que trabalha com a verificação de fatos e resiliência à desinformação, sobre a situação atual na Romênia dentro do contexto regional, com especial comparação à Macedônia do Norte, um país dos Balcãs Ocidentais que aspira aderir à União Europeia (UE).

Meta.mk: A desinformação é uma ameaça para as sociedades democráticas a nível mundial. A Macedônia do Norte tem a sua quota de campanhas de propaganda e desinformação localizada e transfronteiriça. Metade da população do país, em geral, desconfia dos meios de comunicação. Como é a ambiente mediático na Romênia? Como estado membro da UE enfrenta os mesmos desafios?

Ina Danila (ID): There are a lot of similarities between the two countries, especially in terms of historical, political, and media contexts. In Romania, many news outlets are owned by media moguls or are paid for by political parties. Thus, the Romanian public’s trust in the press is weak, with only 20 percent of Romanians saying they have high or very high confidence in news outlets. Even the church, army, and police rank better in some recent studies. This situation makes us more vulnerable to disinformation and Russian propaganda, even more so now that there is a war near our borders.

Most of the population nurtures positive attitudes towards the EU and NATO and is hostile to the Kremlin. Even so, polarization, the rise of populism, and nationalism challenge the pro-Western status quo and open the door for foreign influence coming from the east, as demonstrated by a 2021 anti-Western propaganda report we conducted.

Ina Danila (ID): Existem muitas semelhanças entre os dois países, especialmente em termos de contexto histórico, político e de mídia.  Na Romênia, muitos meios de comunicação são propriedade de magnatas da mídia ou são financiados por partidos políticos. Por isso a confiança do público romeno na imprensa é fraca, com apenas 20% dos romenos dizendo que confiam ou confiam muito nos meios de comunicação. Até mesmo a igreja, o exército e a polícia aparecem em melhor posição em alguns estudos recentes. Esta situação nos torna mais vulneráveis à desinformação e à propaganda russa, e ainda mais agora que há uma guerra perto de nossas fronteiras.

A maioria da população nutre uma atitude positiva em relação à UE e à OTAN e é hóstil ao Kremlin. Ainda mesmo, a polarização, a ascensão do populismo e o nacionalismo desafiam o status quo pró-ocidental e abre portas à influência estrangeira vinda do Leste, como demonstrou um estudo sobre propaganda antiocidental que realizamos em 2021.

Meta.mk: Na Macedônia do Norte, espalha-se falsa informação através das redes sociais, especialmente no Facebook, Twitter e YouTube. Contudo os propagandistas ainda usam a mídia tradicional, embora não necessariamente os canais tradicionais. Como é a situação no seu país?

ID: For some parts of the population (especially Gen Z and millennials, but also an increasing number of baby boomers), social media is where they face disinformation. Along with YouTube and Instagram, Facebook is still the most popular social media platform, making it a large disinformation vessel in the country. However, we are also seeing worrisome trends on TikTok, which is much harder to monitor due to its content format, content life span, and low transparency levels of its algorithm. Plus, unlike your country, in Romania, mainstream channels are still at the top of the list for the accidental or intentional propagation of disinformation and fake news.

Not surprisingly, some politicians spread false information and fake news, but they didn't do it in an obvious way. Last year, current or former members of the Alliance for the Union of Romanians (AUR — a radical right-wing party) promoted pro-Russian narratives or contested the help offered to Ukraine by the EU and/or Romania, reaching audiences of thousands of people — both on TV and social media.

ID: Com respeito a algumas partes da população (especialmente a Geração Z e a geração do milênio, mas também a um número crescente da geração de baby boomers), é nas redes sociais onde a desinformação acontece. Junto com o YouTube e o Instagram, o Facebook ainda é a plataforma de rede social mais popular, sendo um grande recipiente de desinformação no país. No entanto, também vemos tendências preocupantes no TikTok, que é muito mais difícil de monitorizar devido ao formato e vida útil do seu conteúdo e à falta de transparência de seu algoritmo. Além disso, e ao contrário do seu país, na Romênia, os canais principais estão ainda no topo da lista da propagação deliberada ou não deliberada de desinformação e notícias falsas.

Não é de surpreender que alguns políticos tenham espalhado informações e notícias falsas, sem ser de maneira óbvia. No ano passado, membros antigos ou atuais da Aliança para a União dos Romenos (AUR — um partido radical de direita) promoveram narrativas pró-russas e contestaram a ajuda oferecida à Ucrânia pela UE e/ou pela Romênia, tendo alcançado uma audiência de milhares de pessoas — tanto na TV quanto nas redes sociais.

Meta.mk: Que efeito teve essa atividade no discurso político ou no comportamento dos eleitores romenos?

ID: The position of Romania regarding the war in Ukraine remains in line with the EU and NATO positions, despite pro-Russian destabilizing efforts. However, at a more general level, disinformation is already part of our political debates. Our colleagues at Factual regularly work on debunking political fake news and disinformation. So the Romanian political leaders keep them quite busy.

Another effect of all this information chaos (which got worse after the COVID-19 pandemic) is that voters seem to be more interested in populist discourses. At least this is what a poll from January 2023 shows: according to Atlas Intel, the radical right-wing party AUR might get 17.9 percent of votes in parliamentary elections next year, while its president, George Simion, is credited with a score above 10 percent in the first round of presidential elections in 2024.

ID: A posição da Romênia em relação à guerra na Ucrânia permanece ainda em sintonia com as posições da UE e da OTAN, apesar das tentativas de desestabilização em favor da Russia. No entanto, em geral, a desinformação já faz parte de nossos debates políticos. Nossos colegas da Factual trabalham regularmente para desmascarar notícias políticas falsas e desinformação. Assim sendo, os líderes políticos romenos nos mantêm bastante ocupados.

Outro efeito de todo esse caos informacional (que piorou após a pandemia da COVID-19) é o aumento do interesse em discursos populistas por parte dos eleitores. Pelo menos é o que revela uma pesquisa datada de janeiro de 2023: de acordo com a Atlas Intel, o partido radical de direita AUR pode obter 17,9% dos votos nas eleições parlamentares do próximo ano, enquanto o seu presidente, George Simion, recebe uma pontuação acima dos 10% na primeira rodada das eleições presidenciais em 2024.

Meta.mk: Até agora, que ferramentas criou a sua organização ou que soluções apresentou? O que funciona melhor?


ID: We use a mix of internal platforms, activities, and partnerships with other organizations to promote factual truths and increase resilience to disinformation. So, since 2014, we have run the fact-checking platform Factual.ro, a certified member of the International Fact-Checking Network. We also joined Meta’s fact-checking program last year. We use journalistic methods to identify and debunk potential disinformation on Facebook and Instagram, which platforms will subsequently deprecate in feeds.

In 2022, we helped create EFCSN’s European Code of Standards for Independent Fact-Checking Organizations. The Code is a joint effort by 45 organizations to set the transparency, ethics, and methodological standards to guide our fact-checking and policymaking efforts to combat disinformation.

However, debunking is not enough if it is not backed by building societal resilience. Because of this, we are always coming up with new ways to give activists and other engaged citizens in the area the tools they need to become change agents, just like Metamorphosis does in your country.

ID: Utilizamos uma mistura de plataformas internas, atividades e parcerias com outras organizações para promover a verdade dos fatos e aumentar a resiliência à desinformação. Por isso, desde 2014, somos os administradores da plataforma de verificação de fatos Factual.ro, membro certificado da Rede Internacional de Verificação de Fatos. Também nos juntamos, no ano passado, ao programa de verificação de fatos da Meta. Utilizamos métodos jornalísticos para identificar e desmascarar possíveis desinformações no Facebook e no Instagram, que as plataformas eliminarão posteriormente nas atualizações.

Em 2022, ajudamos a criar o Código Europeu de Padrões da EFCSN para Organizações Independentes de Verificação de Fatos. O Código resulta de um esforço conjunto de 45 organizações para estabelecer transparência, ética e padrões metodológicos para guiarem os nossos esforços na verificação dos fatos e criação de políticas de combate à desinformação.

Contudo, desmascarar não é suficiente sem o apoio da resiliência social. Por isso, estamos constantemente criando novas formas de dar aos ativistas e outros cidadãos envolvidos neste tema as ferramentas necessárias para se tornarem agentes de mudança, assim como faz a Metamorphosis em seu país.

Meta.mk: Você notou alguma alteração na propaganda relacionada com a guerra? Você viu, ou outros atores romenos viram, algum padrão de alteração na desinformação ao longo do último ano?

ID: Yes, we can talk about how trends in spreading false information have changed as the war progressed.

Right from the start, a series of international narratives caught on at a local level.

According to local experts, the depiction of Ukrainians as Nazis (with an emphasis on the Azov battalion) was among the most popular narratives during the first stage, with limited results because Romanians showed massive support for the Ukrainian cause.

Then followed a series of sneaky, pro-Russian stories, and there was a push for messages that said Ukraine was also to blame for the conflict. Lastly, after October 2022, the propaganda became more aggressive, emphasizing the fearsome strength of Russia, the nuclear threat, and the fact that the Western world would not jump in to help Ukrainians.

Also, we now have more misinformation and hate speech about Ukrainian refugees in Romania. A narrative about Ukrainians being too wealthy, having expensive cars, being corrupt, arrogant, or disobeying rules emerged in our country, the Republic of Moldova, the Czech Republic, and Poland.

This is sad because we are also experiencing compassion fatigue on the part of Romanians. And it might impact the levels of support shown to Ukrainians in need.

ID: Sim, podemos falar sobre a alteração nas tendências de disseminação de informação falsa à medida que a guerra avançou.

Desde o início, foi promovida uma sequência de narrativas internacionais a nível local.

De acordo com especialistas locais, a representação de ucranianos como nazistas (com ênfase no batalhão Azov) foi uma das narrativas mais populares durante a primeira etapa, com resultados limitados, porque os romenos mostraram imenso apoio à causa ucraniana.

Depois, seguiram-se uma série de histórias maliciosas pró-russas, e um impulso nas mensagens dizendo que a Ucrânia também era culpada pelo conflito. E finalmente, após outubro de 2022, a propaganda tornou-se mais agressiva, realçando a força temível da Rússia, a ameaça nuclear e o fato de que o mundo ocidental não se envolveria para ajudar os ucranianos.

Além disso, temos agora mais desinformação e discurso de ódio sobre refugiados ucranianos na Romênia. No nosso país, na República da Moldávia, na República Checa e na Polônia foi divulgada uma narrativa sobre os ucranianos serem muito ricos, terem carros caros, serem corruptos, arrogantes ou desobedecerem às normas.

Isto é triste porque os romenos também estão exaustos de compaixão. E isso pode afetar os níveis de apoio mostrados aos ucranianos necessitados.

Meta.mk: Se você desenhasse um mapa das principais narrativas identificadas no seu país no ano passado, quais seriam?

ID: We had both spinoffs of transnational narratives and local stories. We're sure you've heard of at least a few of them since they were popular in Eastern Europe and the Balkans.

Thus, we identified the following: stories about the failure of the Western model of democracy, the weakness of the EU and/or NATO, the fact that Russia was provoked by NATO, and the idea that Ukrainians or other small countries in the region are just pawns or colonies to be used in a bigger geopolitical game.

Not least, revisionist claims resurfaced in some countries, including Romania. In this case, the story said that Ukraine is a made-up country made up of land that belongs to other countries. It presented Russia's claims as valid. This narrative was promoted even by a former minister of foreign affairs, which alleged that Ukraine should hand over some territories to Russia, Romania, Poland, and Hungary to achieve peace. Other variants pushed forward the idea that Ukraine is an authoritarian state and that the Romanian minority on its territory is discriminated against (even though these narratives were non-existent before the war.

ID: Tivemos tanto derivações de narrativas transnacionais quanto histórias locais. Temos certeza de que você já ouviu falar de pelo menos algumas delas popularizadas na Europa Oriental e nos Bálcãs.

Por isso, referimos as seguintes: histórias sobre o fracasso do modelo ocidental de democracia, a fraqueza da UE e/ou da OTAN, o fato de a Rússia ter sido provocada pela OTAN e a ideia de que ucranianos ou outros pequenos países da região são apenas peões ou colônias para serem usados em um jogo geopolítico maior.

Não menos importante, é o ressurgimento de reivindicações revisionistas em alguns países, incluindo a Romênia. Neste caso, a narrativa refere-se a que a Ucrânia é um país composto de terras que pertencem a outros países. Apresentando as alegações da Rússia como válidas. Essa narrativa foi promovida inclusive por um ex-ministro das relações exteriores, que alegou que a Ucrânia deveria entregar alguns territórios à Rússia, Romênia, Polônia e Hungria para alcançar a paz. Outras variantes promoveram a ideia da Ucrânia como um estado autoritário e de que a minoria romena é discriminada em seu território (muito embora estas narrativas não existissem antes da guerra).

Meta.mk: Para terminar com uma nota mais positiva, você vislumbra algum otimismo no horizonte?

ID: We are a very active and action-oriented organization. So we have to remain optimistic to get things done. Fatalism and activism don’t work well together. On a more serious note, we think that these joint initiatives we are preparing will increase the impact of our organizations in areas related to disinformation awareness and resilience.

ID: Somos uma organização muito ativa e orientada à ação. Portanto, temos que permanecer otimistas para atingir os objetivos. Fatalismo e ativismo não funcionam bem juntos. Falando mais seriamente, achamos que as iniciativas conjuntas que estamos preparando trarão um maior impacto das nossas organizações em áreas relacionadas à conscientização da desinformação e resiliência.

 

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