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Protegendo áreas de conservação no Nepal do desenvolvimento de infraestrutura

Categorias: Sul da Ásia, Nepal, Desenvolvimento, Direitos Humanos, Governança, Meio Ambiente, Mídia Cidadã, Política, Green Voices
Imagem por Jana Asenbrennarova via Nepali Times. Usada sob permissão [1]

Imagem por Jana Asenbrennarova via Nepali Times. Usada sob permissão

Este artigo por Sonia Awale foi originalmente publicado no Nepali Times [1]. Uma versão editada é republicada na Global Voices como parte de um acordo de compartilhamento de conteúdo.

O Nepal, uma nação do sul asiático, é um dos líderes globais em restauração ambiental e conservação. Por exemplo, o programa de silvicultura comunitária [2] do Nepal aumentou a cobertura florestal para 45% nas últimas três décadas. Além disso, santuários naturais correspondem a um quarto da área total do país.

Dois anos atrás, os parques nacionais do Nepal chegaram a cinco anos sem nenhuma caça a rinocerontes. O Nepal também é o primeiro país com tigres nativos [3] a quase triplicar sua população do animal.

Mas novos projetos de desenvolvimento podem estar ameaçando estas duras conquistas. Projetos de infraestrutura linear irão, em breve, cruzar parques nacionais na região de planície de Tarai [4] no sul do Nepal — lar de muitas espécies endêmicas e ameaçadas — prejudicando o habitat e bloqueando rotas migratórias de espécies selvagens. [5]

Quase 400 dos 1.028 km da rodovia Leste-Oeste [6] cortam parques nacionais nos distritos de Parsa, Chitwan, Bardia e Banke. Linhas de transmissão foram construídas em áreas protegidas, e mais estão planejadas. Canais de irrigação como Babai, Ranijamara e Sitka estão obstruindo rotas de passagem de animais silvestres.

“O Nepal está entre os países que mais crescem em termos de infraestrutura, mas os projetos são também os menos planejados”, diz o diretor nacional do World Wildlife Fund Nepal (WWF-N), Ghana Gurung.

Equilibrar desenvolvimento e conservação [7] tem sido um desafio constante para países como o Nepal, mas especialistas dizem que não precisava ser. Em todo o mundo, planejadores estão construindo infraestrutura com salvaguardas amigáveis ao clima e à vida silvestre.

Na verdade, a rodovia Narayanghat-Mugling, de 30 km, tem os dois primeiros túneis para animais selvagens [8], onde a rodovia movimentada passa por um importante corredor de migração animal. Armadilhas de câmera nos túneis mostraram veados, javalis selvagens e outros animais usando-os regularmente, com metade do movimento dos animais ocorrendo no inverno, quando eles procuram por água.

A rodovia Narayanghat-Butwal, que está sendo renovada, terá 40 passagens para animais selvagens ao longo da seção de Daunne-Gaidakot. Sua localização está sendo determinada depois do monitoramento do movimento dos animais na área. O projeto, financiado pelo Asian Development Bank (ADB), também vai monitorar a frequência com que os animais usam as passagens.

A infraestrutura [9] é necessária não só para prevenir a fragmentação dos habitats da vida selvagem, como também para reduzir acidentes nas rodovias com espécies ameaçadas.

Mapa por Nepali Times. Usado sob permissão. [1]

Mapa por Nepali Times. Usado sob permissão.

Mas há uma tensão entre engenheiros de estradas e conservacionistas [10], com os primeiros priorizando conectividade enquanto os segundos são acusados de militância unidimensional pela vida selvagem sem considerar as necessidades humanas ou de desenvolvimento.

Preenchendo essa lacuna está o recém-lançado projeto Asia’s Linear Infrastructure safeGuarding Nature (ALIGN), [11]que tem como objetivo proteger áreas protegidas do impacto da nova infraestrutura.

Financiado pela USAID [12] e implementado pelo WWF, o projeto ALIGN foi lançado na United Nations Biodiversity Conference [13] em Montreal em dezembro de 2022 com foco inicial em três países: Nepal por sua rica biodiversidade, Mongólia por suas frágeis áreas protegidas e Índia, que está acelerando o investimento em infraestrutura.

O ALIGN tem três objetivos principais: aperfeiçoar e fortalecer políticas existentes para que se alinhem com as melhores práticas internacionais, fortalecer parcerias para promover e apoiar investimento e implementar salvaguardas para infraestrutura linear e capacitação.

“Da forma como está, temos um quadro de políticas muito fraco, mas devemos fortalecê-lo para evitar os impactos da grande infraestrutura. Logo vamos revisá-lo,” diz Semina Kafle do projeto ALIGN numa entrevista com o Nepali Times.

Ela acrescenta: “Nosso foco está em produzir nossos próprios especialistas. Mas há uma grande distância entre como um engenheiro e um conservacionista pensam. Então decidimos nos voltarmos para a educação e fazer do impacto da infraestrutura linear no clima e vida selvagem uma parte integral dos estudos de engenharia”.

O ALIGN está trabalhando com o Instituto de Engenharia no campus de Pulchok para desenvolver uma disciplina eletiva para estudantes de engenharia civil e elétrica, e planejamento urbano.

A equipe também está colaborando com universidades americanas para trazer palestrantes de engenharia para o Instituto. Conforme a demanda e o interesse pelo curso crescerem, a disciplina eletiva será transformada em obrigatória ou até mesmo em um programa de mestrado.

“É fundamental capacitar nossos estudantes com as últimas tecnologias e construir infraestrutura linear ao mesmo tempo que garantimos a segurança da vida selvagem”, diz Shashidhar Joshi, diretor do Instituto.

Imagem por Jana Asenbrennarova via Nepali Times. Usada sob permissão. [1]

Imagem por Jana Asenbrennarova via Nepali Times. Usada sob permissão.

Ele acrescenta: “Isso já é praticado em outros lugares do mundo, e nós estamos integrando isso em nossos estudos de engenharia para redefinir o planejamento e infraestrutura.”

Rodovias, linhas de energia e linhas de trem mal planejadas ameaçam desfazer [14] o sucesso de conservação do Nepal. Com a caça bastante controlada, áreas protegidas agora estão ficando superpovoadas, levando ao contato mais frequente entre pessoas e tigres, elefantes selvagens e leopardos.

Passagens de animais selvagens sobre ou sob rodovias ou canais de irrigação podem fazê-los mais seguros [15] para espécies ameaçadas. De outra forma, colisões de veículos com animais selvagens podem se tornar um problema porque mais veículos estão trafegando em alta velocidade.

Rotas seguras para animais também irão reduzir o contato entre humanos e animais [16]. As passagens têm escoamento, prevenindo inundações, especialmente quando condições temporais extremas provocadas pela mudança climática levam a mais chuvas e enchentes relâmpago.

Estruturas amigáveis aos animais [17] selvagens em rodovias e canais de irrigação ajudam, mas eles precisam ser cuidados e monitorados. Um túnel em Barandabhar, um corredor de floresta de 29 km cortado pela rodovia Leste-Oeste em Chitwan, é frequentemente citado como uma passagem de animais selvagens notável. No entanto, Sandesh Singh Hamal do projeto ALIGN diz que a falta de manutenção o transformou em um depósito de lixo.

E acrescenta: “Quem deveria ser responsável pela manutenção? Não deveria haver conflito em relação à jurisdição, não podemos ficar passando o bastão de uma agência a outra.”

O projeto ALIGN tem um plano de ação até setembro de 2025, durante o qual também vai promover ensino e compartilhamento entre três comunidades foco. Com o Nepal participando de projetos como a linha férrea Leste-Oeste, o aeroporto de Nijgad e a linha expressa Kathmandu-Tarai, passagens para animais selvagens precisam ser integradas no planejamento.

Ghana Gurung do WWF diz: “Vamos trabalhar com os governos e tentar unir engenheiros e conservacionistas para garantir infraestruturas que não prejudiquem as áreas protegidas.”