Edson da Luz, conhecido como Azagaia, era um dos artistas mais destacados do rap em Moçambique. Falecido no dia 9 de Março, sua música era relevante em diversos países lusófonos. Azagaia, aos 38 anos, foi vítima de um ataque [1] de epilepsia.
Azagaia ficou conhecido por defender causas sociais por meio da sua música crítica contra a forma como os políticos governam em Moçambique. Por várias vezes, Azagaia chegou a ser preso ou ser intimado pelas autoridades moçambicanas por conta da sua música, como uma afronta ao poder político vigente. Uma das vezes data de 2016, quando a actuação do artista fora cancelado [2] sem razão aparente.
As reacções sobre a morte de Azagaia vieram de todo o lado, com lamentações e tristeza pela morte do rapper. Das autoridades moçambicanas, a ministra da cultura, Eldevina Materula, disse [3] ter ficado ‘extremamente chocada’ com a notícia:
Sem dúvida que a música e a cultura moçambicana estão de luto. O mundo perdeu um ‘rapper’ único…
Jovens e grupos de cidadãos se organizaram para mostrar a sua admiração e estima pelo rapper, organizando actos de vigília e solidariedade ao artista e sua família, seja em Moçambique, Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Angola🇦🇴 e Moçambique🇬🇾
Os nossos desentendimentos e competições nas redes sociais não passam de #falatórios_de_irmãos [4], quando o assunto é sério unimo-nos e ficamos um só.
Nas fotos, noite de Vigília em homenagem ao Rapper Azagaia em Angola🇦🇴. #POVONOPODER [5] pic.twitter.com/4bOM9cAOuH [6]— Habbias Mc Official (@HabbiasMc) March 12, 2023 [7]
Já no dia do seu enterro, ocorrido no dia 14 de Março, várias pessoas acorreram ao local das cerimónias para se despedir do rapper.
A massa juvenil em peso na despedida do mano #Azagaia [8] na praça da Independência
Povo no poder ✊🏽❤️🇲🇿 pic.twitter.com/Pt01oV9yQX [9]— Cídia Chissungo (@Cidiachissungo) March 14, 2023 [10]
Contudo, quando os apoiantes se deslocavam ao cemitério, foram impedidos [11] pela polícia que bloqueou uma das passagens por onde o cortejo fúnebre devia passar. Como explicação, foi dito que se estava a usar uma via imprópria para o efeito:
Cortejo fúnebre de Azagaia condicionado
Viúva e as filhas do rapper descem do carro e pedem à polícia para passar #azagaia [12] #cerimoniasfunebres [13] #opaisonline [14] #opais [15] #gruposoico [16] pic.twitter.com/IK6UZ0BZ6g [17]— O País Online (@opaisonline) March 14, 2023 [18]
Como forma de prestar outras homenagens ao rapper, em diferentes cidades capitais de Moçambique foram organizadas manifestações pacíficas no dia 18 de Março, incluindo a capital Maputo.
Temos o despacho oficial do Conselho Municipal de Maputo: não há nada que obste a realização da marcha neste sábado, dia 18. #Avancemos [19] #PovonoPoder [20] #Azagaia [8]
— Hortência Franco (@HortenciaFranc0) March 17, 2023 [21]
Moçambique, PRESENTE ✊🏾🇲🇿#POVONOPODER [5] #AZAGAIA [22] #Heroidajuventude [23] pic.twitter.com/vX6xFNplam [24]
— Hortência Franco (@HortenciaFranc0) March 16, 202 [25]
Porém, no mesmo dia foram relatos actos de impedimento, violência e tortura contra os cidadãos que pretendiam honrar Azagaia. Sem razão aparente ou justificada, a Polícia da República de Moçambique usou a força [26], inclusive gás lacrimogêneo, para dispersar os manifestantes que de forma pacífica tentavam manifestar.
Não existia razão [27] clara para a acção da polícia, dado que a marcha havia sido devidamente comunicada. Os relatos da acção da polícia foram feitos amplamente nas redes sociais:
Era para ter sido uma marcha pacífica. Uma caminhada de minutos. Não era pra protestar contra o alto custo de vida ou outra coisa parecida. Era pra homenagear um rapper já morto. Porquê tanta violência contra civis? Queremos criar insurgents também no centro e sul? Bomba-relógio? pic.twitter.com/Ceulo8z9uG [28]
— Alexandre (@AllexandreMZ) March 18, 2023 [29]
Usando gás lacrimogéneo e cães, a polícia da República de Moçambique inviabilizou a marcha em homenagem ao rapper e músico Azagaia. Dezenas de pessoas foram detidas na sequência na intervenção policial, apesar do Município de Maputo ter dado luz verde para a realização da mesma. pic.twitter.com/KlQAxkec1c [30]
— VOA Português (@VOAPortugues) March 18, 2023 [31]
O saldo negativo começa a vir a tona.
Uma nota: Em países mais democráticos onde sempre acontecem estas manifestações, a população já sabe como se defender das atrocidades policiais. Vamos aprender aos poucos. pic.twitter.com/CWZq7W3oxY [32]— Rafael Machalela 🇲🇿 (@rafaelmachalela) March 18, 2023 [33]
Como reacção, a Amnistia Internacional veio repudiar [34] os acontecimentos, apelando responsabilização dos actores da violência:
A polícia deve abster-se de visar mais os manifestantes, incluindo a sua detenção arbitrária e o seu envolvimento em actos de violência retaliatória contra os manifestantes pacíficos.
As autoridades devem investigar rapidamente a polícia que prendeu pessoas em Maputo e as sujeitou a espancamentos e assegurar que sejam responsabilizadas pela violação dos direitos humanos dos manifestantes, incluindo o direito internacional.
Até ao momento não se conhece nenhuma reacção oficial, por escrito ou outro meio, que venha da polícia sobre o que realmente sucedeu naquele dia 18 de Março.
Depois dos actos de violência, foi colocada a circular uma petição virtual que tinha como objectivo informar ao mundo sobre o que estava a suceder em Moçambique. Até ao momento que se publica este texto, as assinaturas já ultrapassam 15.000:
Assinem este abaixo assinado! E partilhem o máximo que puderem. Vamos fazer que o mundo saiba o que está a acontecer.https://t.co/TemktSdtjV [35]
— Beth M. (@BethMuhale) March 18, 2023 [36]
Não se conhece ainda nenhum pronunciamento oficial do Chefe de Estado ou de outras autoridades políticas do Governo sobre os actos de violência e espancamento contra os cidadãos em várias cidades de Moçambique naquele dia 18 de Março.