- Global Voices em Português - https://pt.globalvoices.org -

Hong Kong está realmente “de volta aos negócios” com as normas de controle da Covid-19?

Categorias: Leste da Ásia, Hong Kong (China), Economia e Negócios, Lei, Mídia Cidadã, Política, Saúde, COVID-19
[1]

As pessoas são obrigadas a usar o aplicativo LeaveHomeSafe para entrar na Torre de Imigração em Wan Chai. Foto: GovHK via HKFP.

A versão original desta postagem foi escrita por Tom Grundy e publicada [2] no Hong Kong Free Press em 13 de novembro de 2022. A versão editada a seguir foi publicada pela Global Voices sob acordo de parceria de conteúdo com o Hong Kong Free Press. 

Com as restrições da Covid-19 eliminadas dos livros de história em todo o mundo, o chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, anunciou aos líderes empresariais que a cidade está “em cena novamente [3]“, enquanto seu chefe de finanças declarou que a cidade está “de volta aos negócios [4]”.

No entanto, a realidade do local sugere ao contrário, pois as normas rigorosas de distanciamento social seguem em plena atividade e o chefe de saúde insistiu, em meados de novembro, que a cidade ainda está enfrentando uma “emergência de saúde pública [5]”.

Do outro lado da fronteira, na China continental, Pequim intensificou [6] o compromisso com as políticas de Covid-zero, apesar de ter anunciado a flexibilização de algumas normas [7] em 11 de novembro. Em Hong Kong, a economia vem sentindo a pressão, pois o governo revelou que o PIB caiu 4,5% [8] desde o ano passado.

Entretanto, o polo financeiro tem um histórico comprovado de recuperação, conforme declarou Lee na cúpula dos banqueiros [9] no início de novembro. Mas seria prematuro afirmar a volta da normalidade, uma vez que a chegada de visitantes à cidade apresenta queda de 97% [10] em comparação com três anos atrás?

O Hong Kong Free Press (HKFP) revisa as normas de distanciamento social que ainda estão em vigor (algumas esquecidas, outras bizarras), enquanto os médicos questionam o embasamento científico [11] por trás delas e o público questiona cada vez mais se são realmente necessárias [12].

Máscaras em público e proibição de reuniões grupais

As máscaras devem ser usadas em locais públicos, incluindo lojas, caso contrário, a população corre o risco de pagar uma multa fixa de 5.000 HKD (cerca de US$ 640). O governo permitiu isenções para aqueles que se exercitam ao ar livre ou em academias e estádios desportivos, mas não para fumantes.

O líder da cidade salientou que os protetores faciais vieram para ficar: “As máscaras permanecerão, pois creio que todos os especialistas orientaram que elas [são] importantes para controlar a propagação da doença”, declarou Lee em meados de novembro. Mas alguns especialistas, como o epidemiologista Ben Cowling, dizem que há poucos argumentos científicos [13] para essa exigência nesta fase da pandemia.

Reuniões com mais de 12 pessoas são proibidas em locais públicos. Os grupos devem, também, manter uma distância mínima de 1,5 metros. Os grupos turísticos locais são limitados a 30 pessoas, mas caso todos os turistas tenham se submetido a um teste rápido, o limite aumenta para 100 pessoas. Os infratores recebem uma multa fixa de 5.000 HKD (cerca de US$ 640).

Aplicativo de rastreamento de COVID-19 para locais importantes

Desde 24 de fevereiro, a população deve apresentar comprovante de vacinação por meio do aplicativo de rastreamento LeaveHomeSafe para entrar em locais como supermercados, centros comerciais, escolas, repartições públicas, hospitais e outros.

Aqueles que tomaram três doses da vacina contra a Covid-19, ou duas, caso tenham tomado a segunda dose menos de cinco meses antes, receberão um código QR azul pelo aplicativo para permitir a entrada. Os pacientes infectados receberão um código QR vermelho e os viajantes que chegarem receberão um código âmbar, o que os impedirá de entrar na maioria dos locais.

Em setembro, o passaporte da vacina foi estendido a crianças de até cinco anos de idade, que devem ter recebido pelo menos uma dose da vacina contra a Covid-19 para entrar em vários tipos de estabelecimentos.

Testes de Covid-19 para visitantes, trabalhadores essenciais e moradores

Quem visitar Hong Kong deve preencher um formulário de declaração de saúde do governo e apresentar um teste rápido negativo para embarcar em voos. Os viajantes devem realizar testes rápidos diários e quatro testes de PCR durante a primeira semana, que é o período de “automonitoramento”. Os testes de PCR são realizados no dia da chegada (dia zero) e novamente no segundo, quarto e sexto dia.

Se algum teste der resultado positivo, o visitante receberá uma ordem de isolamento. Dependendo de suas condições de vida, ele pode ser obrigado a ir para um acampamento de quarentena do governo.

Professores, profissionais de saúde, funcionários de casas de repouso, músicos que tocam em locais de música ao vivo e quem trabalha com serviços de alimentação estão entre os que devem ser submetidos a testes regulares de Covid-19.

Aqueles que residem em áreas de surto definidas pelo governo podem ser submetidos a um teste obrigatório de ácido nucleico de Covid-19. Multas fixas de 10.000 HKD (cerca de US$ 1.280) são impostas àqueles que não se submeterem ao teste.

Restrições ao consumo de alimentos e bebidas

Comer e beber deve continuar sendo proibido nos transportes públicos de Hong Kong, conforme o Departamento de Saúde confirmou ao HKFP no início de novembro. O departamento informou que as normas foram “baseadas na ciência”.

Embora o consumo de alimentos e bebidas sempre foi proibido em áreas pagas do MTR, anteriormente era permitido em muitas rotas de barco.

As mesas de restaurante podem ser ocupadas por até 12 pessoas, com obrigatoriedade de divisórias, para haver espaço entre os grupos.

Os mesmos limites são aplicados no caso de piscinas, instalações desportivas, academias de ginástica, salões de beleza e casas de massagem, locais de entretenimento público, locais de diversão, centros de jogos de diversão, locais de eventos, instalações religiosas, barbearias e salões de cabeleireiro, balneários, salões de festas, clubes e casas noturnas, locais de karaokê, instalações de mahjong e navios de cruzeiro.

Nos locais de alimentação, quando os clientes estiverem longe de uma mesa, não podem consumir alimentos ou bebidas e devem usar máscara. O aplicativo LeaveHomeSafe deve ser usado ao entrar no local.

Até 240 pessoas podem participar de um banquete, no entanto, devem ser submetidas a um teste rápido e apresentar o resultado no prazo de 24 horas.

Além de usar o aplicativo LeaveHomeSafe, quem quiser entrar em bares ou casas noturnas deve apresentar a foto do teste rápido realizado nas últimas 24 horas, contendo o nome da pessoa e a data. Os estabelecimentos só podem preencher até 75% de sua capacidade e cada mesa deve ser ocupada por, no máximo, seis clientes. Nos bares, os frequentadores que estiverem longe de uma mesa não podem consumir alimentos ou bebidas e devem usar máscara, inclusive quando estiverem dançando.

A maioria das salas de espetáculo está restrita a operar com 85% da capacidade.

Restrições em eventos e locais públicos

Foram impostas várias restrições em eventos públicos recentes, enquanto outros não obtiveram nenhum tipo de aprovação. A Maratona de Hong Kong foi cancelada e, em seguida, reprogramada [14] para fevereiro. O Cross-Harbour Swim foi autorizado, [15]mas limitado a 1500 nadadores.

As piscinas públicas só podem receber nadadores até a metade de sua capacidade. A ocupação de outros espaços ao ar livre também está restringida, inclusive nas arquibancadas.

Cinemas, salas de espetáculo, museus, locais de eventos e instalações religiosas só podem lotar seus espaços em até 85% da capacidade.

As fontes de água em todos os locais públicos de lazer foram desativadas desde 29 de janeiro de 2020 e permanecem interditadas.

Restrições escolares

Todos os estudantes de Hong Kong devem fazer um teste rápido para entrar nas dependências escolares.

As aulas presenciais em período integral foram suspensas para alunos do ensino fundamental e médio em agosto de 2020. As escolas de ensino médio precisam que 70% de seus alunos tenham recebido duas doses da vacina para entrarem com o pedido de funcionamento em período integral ou oferecerem atividades extracurriculares após as aulas. O mesmo ocorreu com as escolas de ensino fundamental a partir de 1º de dezembro. Não há previsão de retorno do ensino em período integral para o jardim de infância.

Quarentena para pessoas infectadas

Dependendo da gravidade dos sintomas, aqueles que apresentam ao governo um resultado de teste positivo podem ser enviados a um hospital ou  centro de isolamento comunitário, ou ainda, podem permanecer isolados em casa sob orientação do aplicativo StayHomeSafe. Também devem usar uma pulseira de rastreamento eletrônico. Os pacientes não vacinados permanecerão em casa por duas semanas, ao passo que os vacinados poderão sair, contanto que apresentem resultados negativos no sexto e sétimo dia.

Os contatos próximos com pessoas infectadas em uma residência também podem exigir quarentena domiciliar. Porém, aqueles que vivem em apartamentos subdivididos, não têm banheiro funcional com descarga ou instalações para lavar as mãos, ou moram com indivíduos de alto risco, não podem se isolar em casa.

Atribuições policiais e multas

A polícia detém poderes especiais para dispersar reuniões grupais ilegais e exigir dados pessoais e carteiras de identidade dos suspeitos de violar as normas da Covid-19. Pode, igualmente, inspecionar locais reservados e aplicar multas.

Outros agentes autorizados, tais como o Departamento de Agricultura, Pesca e Conservação, e o Departamento de Higiene Alimentar e Ambiental, também estão habilitados a aplicar multas.