Depois de dois longos anos, o mas voltou a Trinidade e Tobago

Uma mascarada se diverte na terça-feira de carnaval, 17 de fevereiro de 2015. Foto de Eduardo Skinner no Flickr, CC BY-NC 2.0.

Por Dra. Gabrielle Hosein

Este artigo foi publicado originalmente no Trinidad and Tobago Newsday. Uma versão atualizada é republicada abaixo com permissão.

Enquanto as vozes do Freetown Collective e Mical Teja ecoam das colinas e reverberam por Trinidade e Tobago, dificilmente haverá palavras melhores para descrever o momento.

Depois de dois anos sem Carnaval, há uma fluorescência de alegria e criatividade como quando a madrugada atravessa uma longa e artificial escuridão, dividindo todo um horizonte com um brilho que desperta. Parafraseando a sabedoria familiar, o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem na manhã de Jouvay .

Somos uma população que experimentou o confinamento mais longo da região e todos conhecemos alguém devastado pela alienação, desespero, luto e perda que a COVID-19 causou.

Hoje, somos sobreviventes, deixando nossos amados mortos se levantarem de onde nossos corpos os mantinham próximos, pois eram milagres formados da terra que podiam guiar como as estrelas.

Vagando em nosso paraíso terrestre agora, sem dúvida cautelosos com espectros como Picton , Chacon e Abercromby , estão ancestrais que irão olhar e ouvir, julgando e insistindo enquanto lançamos nossos fardos mortais nas ruas de cidades, aldeias e vilas. Eles também são vibrações fantasmagóricas, moldadas entre nós pelo vento, pelo calor cintilante e pela poeira do Saara.

Blaxx, Mighty Shadow, Black Stalin, Brother Resistance, Anil Bheem, Singing Francine, Singing Sandra, Bomber e Explainer. O professor Gordon Rohlehr, que fez da música calypso sua companheira ao longo da vida. Abençoe cada um deles.

Lionel Jagessar Senior, cujo espírito assistirá seu legado trazido à cidade pela primeira vez. Estudando seus desenhos finais ganham vida, que ele acene com aprovação paternal. Amém. Amém. Om Shanti. Abençoe-nos, cada um.

Nós, sobreviventes, emergindo do outro lado do portal da pandemia com todas as nossas brigas, imperfeições, dúvidas e famintos fumando preto-azulados como detritos ainda queimando, estamos perto o bastante da segunda e terça-feira de carnaval para sentir sua atração gravitacional. É uma atração em direção ao prazer por si só e para ocupar uma versão breve e espetacular de nós mesmos.

Pessoas honestas trabalhando duro tentando fazer sentido em um mundo enlouquecido, canta Freetown. Às vezes, aqueles designados para trabalhar arduamente juntam o privilégio da ascendência por meio de algo, qualquer coisa, para se sentir bem. Para eles, com toda a sua beleza humana e fantasiada, com tudo o que oferece para escapar das manchetes matinais, matanças e tribulações do custo de vida, Mas voltou.

Em festas, pan yards e concertos, as pessoas estão cantando juntas às centenas e milhares. Corações e braços abertos, e dando aos artistas suas próprias letras de volta para eles no palco. Uma multidão de estranhos, de diferentes credos e raças, mas que compartilham um amor que os faz levantar a voz no ar. Certamente, essa vibração tão pura e pura magia é também como louvamos.

A música está elevando as pessoas e inundando corpos de todos os tipos com uma energia e uma liberação que é visceral o suficiente para sentir. Está tirando a dor das pessoas, depois de tanto dor nos últimos anos. É também um poder unificador que desce, um poder que sentimos falta de ter em nosso meio. Somos lembrados porque a forma como votamos não nos dividiu mais. É por causa de como festejamos.

Nem todo mundo tem que amar o mas em nossa sociedade multiétnica e multirreligiosa. Nem todo mundo tem que entender por que e como isso é importante para alguns, por que e como pode ser arte, por que e como pode parecer liberdade ou por que e quando é importante.

Nem todos adoramos da mesma maneira. Não curamos todos iguais. Nem todos demonstramos amor da mesma forma, seja para nós mesmos ou uns para os outros. Há quem, julgando, só veja o “imoral, obsceno ou ofensivo” no Carnaval, muitas vezes de longe, o mas é um espírito de fuga que vem em seus próprios termos, de novo e de novo. Apenas assim, sem remorso e sem medo.

Aqui, em casa, atravessamos com tanto medo a atmosfera da vida cotidiana como aloés amargos, onde nos sentimos tão decepcionados e tão subestimados, mas o mas chegou para preencher um pouco do que as pessoas precisam.

Em nossa república imperfeita, desigualdades, exclusões, desgovernos, mentiras e pobreza de imaginação permanecem, como cordas que separam. A Quarta-Feira de Cinzas nos levará de volta à fumaça e aos espelhos nas coletivas de imprensa, e dinheiro desperdiçado aos milhões, para nunca ser distribuído como deveria ser. Essa morte da alegria, essa matança da união, esse atentado ao nosso futuro é mais imoral do que o fundo do caminho e mais escandaloso do que uma mulher livre.

Na segunda-feira, amanhã de manhã, interpretarei São Pedro, esperando no portão do céu. Todos os que devem ser enviados para queimar no fogo do inferno. O mas voltou. Santimanitay .

Dra. Gabrielle Hosein é professora sênior no Institute for Gender and Development Studies (IGDS) da Universidade das Índias Ocidentais, do Campus St. Augustine em Trinidade.

Inicie uma conversa

Colaboradores, favor realizar Entrar »

Por uma boa conversa...

  • Por favor, trate as outras pessoas com respeito. Trate como deseja ser tratado. Comentários que contenham mensagens de ódio, linguagem inadequada ou ataques pessoais não serão aprovados. Seja razoável.