Cólera, uma doença que continua a preocupar Moçambique

As autoridades suspeitam que os casos sejam importados no Malaui, país que faz fronteira com Moçambique e que tem registado casos da doença. Imagem: Giovana Fleck/Global Voices

Desde o ano 2000, Moçambique tem sido afectado por uma doença que pouco é falada em outros países, mas muito preocupa o país. Trata-se da cólera ou então da chamada ‘doença das mãos sujas’. É uma patologia recorrente que afecta milhares de pessoas em Moçambique em cada época chuvosa, no início do ano.

Por conta disso, no dia 31 de Janeiro deste ano, a Organização Mundial da Saúde alertou que cólera é agora mais preocupante que a COVID-19 em África, face aos vários surtos de cólera no continente, onde já foram registados mais de 1.460 mortes e cerca de 45.800 infeções. Para OMS, o país mais alarmante é o Maláwi, onde morreram mais de 1.000 pessoas desde Março de 2022.

A cólera é caracterizada por ser uma doença que surge em virtude da prática de más condições de higiene ou da falta de tratamento adequado da água e do cuidado que se deve ter com a alimentação, sobretudo hortícolas. De forma específica, a cólera é uma doença que provoca fortes diarreias. Apesar de tratável, pode provocar a morte por desidratação se não for prontamente combatida.

Já para o caso de Moçambique, em 2023 a doença tem estado a afectar várias zonas do país e já fez mais de 16 mortes. Por exemplo, em finais de Janeiro [2023], o Centro Africano para o Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC) da União Africana, disse estar preocupado com a expansão do surto de cólera em Moçambique.

Sabe-se que a maioria dos óbitos por cólera têm sido registados no Niassa, no norte do país, e as autoridades suspeitam que os casos sejam importados no Malawi, país que faz fronteira com Moçambique e que tem registado casos da doença. Em estado de alerta, Domingos Guiole, do departamento de vigilância em saúde pública no Ministério da Saúde (MISAU) de Moçambique, citado em 16 de Janeiro pela televisão privada STV, referiu:

Nós temos um cumulativo de 1.376 casos de cólera e 16 óbitos, que correspondem a uma taxa de letalidade de 1,2%.

Já no dia 1 de Fevereiro [2023], a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF), referiu que tem estado apoiar as autoridades sanitárias no controlo do surto em Moçambique:

Actualmente a situação que se apresenta é já de mais de 1.500 casos no país, com vários distritos e províncias afetadas. Os dados oficiais são de aumento para esta semana, mas os dados exactos, o número exacto de casos e tudo o que é mais importante são as capacidades locais, as capacidades do Ministério da Saúde para travar o surto.

Neste caso, estamos a encontrar, por exemplo, no Niassa, que já há muitos anos não tinha um surto, uma falta de capacidade de gestão dos centros de tratamento de diarreia, de gestão de casos. Há muito tempo que no Niassa não havia casos, portanto carece de pessoal de saúde formado e treinado para tratar dos casos. Portanto, precisam de mais apoio dos parceiros.

Nas redes sociais, o debate sobre a doença tem sido destacada como preocupante, e se chama atenção para que as autoridades de sáude de Moçambique tomem medidas urgentes. É o que é dito por Egídio Vaz, comentador político:

No Malawi, a cólera forçou duas grandes cidades, Blantyre e Lilongwe, a adiarem o início das aulas. Agora vejo este anúncio da Secretaria do Estado de Niassa a apelar à mobilização da população para adoção de medidas preventivas. Curiosamente o Distrito do Lago faz fronteira com o Malawi, separando-se do Lago Niassa.

Se a cólera já entrou em Lichinga e isto vem desde Setembro, a situação não deve se limitar à mobilização apenas. O assunto exige atitudes adicionais, que julgo estarem a ser implementadas, porém, carecendo da máxima divulgação. No Malawi, a cólera atingiu níveis preocupantes, em parte, devido a falência dos serviços de saúde, provocada pela deterioração da situação económica do país.

Enquanto isso, o Ministério da Sáude local tem estado a difundir publicações de alerta e exemplos do que pode ser feito para conter a doença no país:

A má higiene das mãos contribui para contrair a #cólera. Lave as mãos com água e sabão ou cinza, depois de usar a latrina, e evite que elas fiquem contaminadas pela bactéria que causa esta doença.
Tire dúvidas ligando sem custos para o Alô Vida: VODACOM 84146; TMCEL 821490 ou 1490; MOVITEL 1490 #MISAU #prevençãodacólera

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