No Togo, o cantor Elias Atayi usa a música como um veículo para os direitos humanos

Capture d'écran chaine YouTube ERFA https://youtu.be/UeveyN4s5Ng

Elias Atayi tocando violão. Foto de Jean Sovon, usada sob permissão.

Elias Atayi é um músico e cantor togolês que usa sua música para defender os direitos humanos de mulheres e crianças.

A proteção e promoção dos direitos humanos são de extrema importância para muitos togoleses, manifestando-se no ativismo de base local, nas artes e nas cenas culturais. Mesmo com as autoridades tentando melhorar a situação, ainda existem desafios em relação à proteção dos direitos humanos no Togo. Os cidadãos, por sua vez, estão fazendo o possível para construir um Estado onde o respeito aos direitos humanos seja priorizado.

É o caso de Elias Atayi, ou Eli Amate Ataya, como é conhecido no país. Ele é um artista comprometido com a causa dos direitos humanos, colunista e coapresentador do programa Nek'tar on TVT, um canal de TV togolês. Ele é um dos poucos artistas que regularmente denuncia abusos e aumenta a conscientização sobre os direitos de mulheres e crianças por meio de sua música. Ele usa sua arte para trazer mudanças positivas, como pode ser visto neste vídeo do YouTube:

A Global Voices entrou em contato pelo Whatsapp com Elias Atayi  para entender mais sobre sua abordagem ativista.

Jean Sovon (JS): De onde vem esse amor pela música?

Elias Atayi  (EA) Music is innate and I have practiced it since I was young. Growing up, I went to music classes from Togolese musicians such as Gospel Renya and Edi Togovi. I went to music groups and choruses. I started playing instruments including my guitar, which has always been my faithful friend. I joined the University of Lomé orchestra where I saw many names go through who are now established Togolese artists: Foganne with whom I released Mon Rêve (a song which paints the world in white) and Victoire Biaku (winner of The Voice Francophone Africa).

Elias Atayi  (EA) A música é inata e eu a pratico desde jovem. Crescendo, frequentava aulas de música com artistas togoleses como Gospel Renya e Edi Togovi. Frequentei grupos musicais e corais. Comecei a tocar instrumentos, inclusive meu violão, que sempre foi meu fiel amigo. Entrei para a orquestra da Universidade de Lomé, onde vi passar muitos nomes que hoje são consagrados artistas togoleses: Foganne, com quem lancei Mon Rêve (uma canção que pinta o mundo de branco), e Victoire Biaku (vencedora do The Voice Francophone Africa).

JS: Em suas canções, sentimos um compromisso com os direitos humanos. Por que você usa sua música para abordar questões de direitos humanos?

EA: In 2018, I joined the Documentation and Training Center for Human Rights (CDFDH). During various trainings and activities in the field, my commitment became stronger. With this framework, the oportunity was given to me to compose and record a song accompanying Xonam, an app used to defend human rights. It was a beautiful experience and it reinforced my commitment. The concept is simple: the message and means must be adapted to the goal. If young people like rap, let's bring them ideas about human rights with rap. I am one of those who thinks that the artist has a big role in achieving the Sustainable Development Goals ODD. The artist is heard, loved, and followed by millions of people. Their message and pleas will therefore have a greater impact and initiate more change from their followers. Because music is found in all homes, and when music is well-played, the lyrics stay anchored in the mind without us knowing it. This is the goal of my work: that the lyrics of songs have an impact on habits and behaviors. During Covid, when the pandemic was at its height, we released two singles (Respecte les mesures and La prophétie) to raise awareness among the population about the pandemic and its harmful effects. The message was well received even if these songs were not hits, I think it’s a start, especially since our means were limited.

EA: Em 2018, ingressei no Centro de Documentação e Formação em Direitos Humanos (CDFDH). Durante vários treinamentos e atividades em campo, meu comprometimento foi se fortalecendo. Com essa estrutura, me foi dada a oportunidade de compor e gravar uma música que acompanha o Xonam, um aplicativo usado para defender os direitos humanos. Foi uma experiência linda e reforçou meu compromisso. O conceito é simples: a mensagem e os meios devem ser adaptados ao objetivo. Se os jovens gostam de rap, vamos trazer ideias sobre direitos humanos com o rap. Sou daqueles que pensam que o artista tem um grande papel na conquista dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ODS. O artista é ouvido, amado e seguido por milhões de pessoas. Sua mensagem e apelo terão, portanto, um impacto maior e iniciarão mais mudanças em seus seguidores. Porque a música está em todos os lares, e quando a música é bem tocada, a letra fica ancorada na mente sem que percebamos. Este é o objetivo do meu trabalho: que as letras das músicas tenham impacto nos hábitos e comportamentos. Durante a Covid, quando a pandemia estava no auge, lançamos dois singles (Respecte les mesures e La prophétie) para conscientizar a população sobre a pandemia e seus malefícios. A mensagem foi bem recebida mesmo que essas músicas não fossem hits, acho que é um começo, principalmente porque nossos meios eram limitados.

JS: Qual é a sua impressão sobre a situação dos direitos humanos no Togo hoje?

EA: There is still a lot of work to be done, especially in rural communities; millions of people who do not know their rights, women abused without a voice, uneducated children – especially girls. It’s true there has been progress, but we are far from meeting the minimum.The human rights situation in Togo in the 80’s is nothing like the 2000’s. But we must do more to find new strategies, new ways of involving the youth, women, and children. We must bring joy and light to millions of youth in remote areas by organizing various initiatives based on human rights themes, as well as practical training to equip our population. We are ready to hit the ground running.

EA: Ainda há muito trabalho a ser feito, principalmente nas comunidades rurais; milhões de pessoas que não conhecem seus direitos, mulheres abusadas sem voz ativa, crianças sem instrução – especialmente meninas. É verdade que houve progresso, mas estamos longe de atingir o mínimo. A situação dos direitos humanos no Togo nos anos 80 não é nada parecida com a dos anos 2000. Mas devemos fazer mais para encontrar novas estratégias, novas formas de envolver os jovens, mulheres e crianças. Devemos levar alegria e luz a milhões de jovens em áreas remotas, organizando várias iniciativas baseadas em temas de direitos humanos, bem como treinamento prático para equipar nossa população. Estamos prontos para começar a todo vapor.

JS: Além da música, de que outras formas você contribui para o avanço dos direitos humanos no Togo?

EA: In 2019 I created my organization Equal Rights For All (ERFA) to promote human rights and civic participation in art, culture, and sport.  A bet not easily placed given the role art takes in politics. Yes, it takes art to promote human rights because people who do not know their rights will not be able to defend them. Often, people do not know whether the oppressor is violating their rights or not. Therefore they sit powerlessly in situations where they should seek justice for violations committed and demand respect for their rights. Currently, we have outlined several strategies that are very innovative and youthful. We have planned dance competitions, football matches, marathons, film nights, and a series bringing together local comedians around our theme. All these actions are aimed towards young people who are our first priority. 

EA: Em 2019 criei a minha organização Equal Rights For All (ERFA) para promover os direitos humanos e a participação cívica na arte, cultura e esporte. Uma aposta difícil de concretizar dado o papel que a arte assume na política. Sim, é preciso arte para promover os direitos humanos porque quem não conhece os seus direitos não poderá defendê-los. Muitas vezes, as pessoas não sabem se o opressor está violando seus direitos ou não. Portanto, eles se sentam impotentes em situações onde deveriam buscar justiça pelas violações cometidas e exigir respeito por seus direitos. Atualmente, temos delineado várias estratégias muito inovadoras e joviais. Planejamos concursos de dança, jogos de futebol, maratonas, noites de cinema e uma série que reúne comediantes locais em torno do nosso tema. Todas estas ações são dirigidas aos jovens, que são a nossa primeira prioridade.

JS: Você planeja fazer um álbum dedicado a esta causa?

EA: A 12-track album called Life’s Colors about which we find themes like Child in the Street, Civic Engagement, Peace, No to Violent Extremism, Environment Protection, Equality, etc. I am also focused on authenticity, Africa, its culture, its rhythms. It will be a purely human rights album with African sounds.

EA: Um álbum de 12 faixas chamado Life's Colors no qual encontramos temas como Crianças na Rua, Engajamento Cívico, Paz, Não ao Extremismo Violento, Proteção Ambiental, Igualdade, etc. Também estou focado na autenticidade, a África, sua cultura, seus ritmos. Será um álbum puramente de direitos humanos com sons africanos.

JS: Alguma palavra final para nossos leitores?

EA: We believe in a better world and we believe that art, culture, and sport can bring a radical change and enormous impact. I am calling on my fellow artists : it is time to convey important messages without too much vulgarity. With what we see and hear today in the media, I fear for our young brothers and our children. Regarding the organization, we have planned a campaign which will be launched shortly on networks followed by strong actions, but I would like to already raise awareness through this interview. 

EA: Acreditamos em um mundo melhor e acreditamos que a arte, a cultura e o esporte podem trazer uma mudança radical e um impacto enorme. Estou convocando meus colegas artistas: é hora de transmitir mensagens importantes sem muita vulgaridade. Com o que vemos e ouvimos hoje na mídia, temo por nossos jovens irmãos e nossas crianças. Em relação à organização, planejamos uma campanha que será lançada em breve nas redes seguida de ações fortes, mas gostaria de estabelecer a conscientização desde já através desta entrevista.

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