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Ano novo, vida nova: Conheça as tradições latinas para a virada do ano

Categorias: América Latina, Argentina, El Salvador, Equador, Arte e Cultura, Humor, Mídia Cidadã

Captura de tela de uma máscara (Fonte: NyF Ecuador/YouTube [1])

A América Latina é rica em tradições para as festas de fim de ano. Nós temos costumes divertidos, curiosos, supersticiosos e ousados em todos os cantos do continente para abrir um novo capítulo em nossas vidas com o ano que chega. Existem tradições para atrair viagens, amor e dinheiro, ou simplesmente para fechar o ciclo do ano que passou de uma forma bem-humorada e memorável.

Vestir cores diferentes de roupa íntima

Na América Latina, um ritual muito antigo e enraizado na cultura é se despedir do ano passado usando roupas íntimas de uma determinada cor; cada cor tem um significado específico [2] e histórias diferentes sobre sua origem. Algumas versões especificam que as roupas íntimas não podem ser compradas por aqueles que as usam, e sim, devem ser presenteadas, ou ainda que devem ser usadas para trás.

A cor mais popular de roupa íntima em quase toda a região é o amarelo [3]. Geralmente, seu significado é relacionado ao sol, a novos começos e à prosperidade econômica. É usado em muitos países, como Colômbia, Equador, Venezuela, Chile, México e Peru e, às vezes, também na Argentina e no Uruguai, embora nestes países a bombacha (calcinha ou biquíni) rosa [4] seja muito mais comum. Existem diferentes teorias sobre sua origem, algumas relacionadas à religião, outras à moda vitoriana e outras ao desejo de encontrar o amor no próximo ano.

O vermelho, também ligado ao amor e à paixão, é outra cor muito usada no Peru e na Argentina, embora seja predominante na Espanha [5], onde tem origem medieval. A reportagem abaixo mostra como os mercados estavam repletos destas peças de vestuário  no final de dezembro:

Sair com malas à meia-noite

Os aventureiros escolhem esta tradição [5], que supostamente promete trazer muitas viagens e aventuras no próximo ano: faça as malas e dê uma volta pelo quarteirão imediatamente após o brinde da meia-noite. Esse costume é praticado em toda a região, embora seja mais comum na Venezuela, Colômbia, México e Peru.

Essa tradição varia muito: em alguns casos, basta colocar as malas em frente à porta ou andar com elas no pátio ou em todos os cantos da casa. Segundo outras versões, a mala deve ser preenchida com roupas e acessórios específicos para o local onde você deseja viajar (por exemplo, roupas de banho, toalhas e protetor solar, se você quiser ir para um lugar de praias ou clima quente).

O vídeo a seguir mostra uma família que pratica esse ritual. Eles correm com uma mala enquanto a famosa música “Año nuevo, vida Nueva [6]” (Ano novo, vida nova) da banda Billos Caracas Boys toca ao fundo:

Comer 12 uvas na véspera de Ano Novo

Em países como Equador, Argentina, Venezuela, Chile, México, Colômbia e Peru, também é tradição comer 12 uvas e fazer um desejo com cada uma, já que cada uva representa um mês do próximo ano.

Este tradição teve origem na Espanha e se espalhou para Portugal e América Latina. De acordo com a National Geographic [7], uma das hipóteses para a origem desta tradição remonta a 1909, quando houve uma boa colheita de uvas, e os produtores venderam o excedente, marcando a fruta como “uvas da sorte.”

De acordo com essa tradição, deve-se consumir uma uva por segundo durante os últimos 12 segundos do ano. No entanto, é muito difícil conseguir comer 12 uvas em 12 segundos, especialmente enquanto abraçamos aqueles que estão perto de nós e lhes desejamos feliz ano novo. Alguns dizem que o segredo é escolher uvas pequenas e sem sementes. Talvez, seguindo este conselho, consigamos finalmente comê-las todas este ano!

As pessoas fazem desejos para o ano novo e comem as 12 uvas.

Queimar um boneco ou “marionete”

Em muitos países, como Honduras, Panamá, Venezuela, Uruguai, Chile, Equador e Colômbia, e em algumas cidades da Argentina [10], é feito um monigote (marionete) que representa o ano velho.

Existem bonecos de todos os tamanhos. Geralmente eles são do tamanho de uma pessoa, mas há bonecos menores e muito maiores também. São feitos com diferentes materiais, como papelão, panos e jornais. Eles podem ser pintados, vestidos ou usar uma máscara de um personagem bem conhecido da televisão, do entretenimento ou da política que teve um papel relevante naquele ano e que, muitas vezes, simboliza um aspecto negativo daquele ano. Por exemplo, em 2020 e 2021 era popular [11] queimar bonecos que personificavam a Covid-19. Logo após a meia-noite, o boneco é queimado para se despedir do ano velho e receber o novo.

“Para os panamenhos, o significado desse costume é a purificação. Os bonecos do ano velho são uma representação simbólica das coisas negativas que aconteceram durante o ano. Elas estão no boneco e se queimam junto com ele”, explica [12] um jornal panamenho. Uma das teorias [13] sobre a origem dessa tradição diz que ela remonta a uma ameaça da febre amarela em Guayaquil, no Equador, em 1895.

Alguns ousam saltar sobre o fogo, que muitas vezes é bem alto, para simbolizar a passagem de um ano para o próximo. O vídeo abaixo, no Equador, mostra uma grande queima de vários bonecos:

Vestir-se como viúva

No Equador, há também a tradição de os homens se disfarçarem de “viúvas [14].” Normalmente, eles se vestem com roupas engraçadas ou escuras, e saem para a rua fingindo chorar pelo ano que “morreu.” Além disso, eles pedem moedas para pagar o “despertar” do ano velho e a vida da “viúva”, que supostamente é deixada sem meios de subsistência. Algumas pessoas também escrevem um testamento com versos e poemas engraçados para se despedir do ano e recitá-los para as pessoas e veículos que passam.

Existem artigos que dão dicas para “ser uma boa viúva” no ano novo: “as roupas devem destacar sua personagem; a peruca, os olhos e, sim, você não pode esquecer dos seios falsos”, aconselha Daniel Pavón, de 22 anos, na imprensa equatoriana. [15] Ele ainda acrescenta: “A atitude é a coisa mais importante”.

Soltar fogos de artifício

Em muitos países da América Latina e do Caribe, não há festas de Réveillon sem pólvora. Por exemplo, em El Salvador, soltar fogos de artifício com familiares e amigos tornou-se uma tradição inescapável. Os mercados estão repletos com vários tipos de fogos de artifício para todos os gostos, cada um com seu nome, como gallitos (galos), estrellitas (estrelinhas) e volcancitos (pequenos vulcões) para crianças, e metralletas (metralhadoras) para adultos se divertirem.

Houve tentativas de regulamentar [16] a comercialização de alguns fogos de artifício, mas eles continuam a ser vendidos e usados em grande escala para celebrar a temporada de Natal. Quando eles irrompem nos bairros à meia-noite, dão um ritmo adicional à música cumbia que toca nas casas e ao cheiro das deliciosas refeições de fim de ano. O vídeo abaixo mostra uma cena típica deste momento:

Enquanto você participa dessas tradições, pode escutar nossa seleção de músicas de Natal e Ano Novo mais populares da América Latina: