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Troféu Raça Negra: Brasil celebra personalidades que lutam contra o racismo

Categorias: África Subsaariana, América Latina, Brasil, Moçambique, Etnia e Raça

O troféu é entregue a activistas que contribuem para a luta contra o racismo. Imagem: Giovana Fleck/Global Voices

Presente de forma estrutural [1] na sociedade brasileira, o racismo tem sido registado em ritmo crescente. Segundo o Anuário de Segurança Pública de 2022 [2], foram contabilizados mais de 31% de casos relacionados com racismo em 2021, do que em 2020, no Brasil.

Buscando ampliar a consciencialização sobre o tema, foi criado o Troféu Raça Negra [3], para celebrar personalidades actuantes no combate ao racismo. O troféu foi entregue em Novembro de 2022, em São Paulo e, além de homenagear brasileiros, premiou nomes vindos do continente Africano. 

Sabe-se que Brasil e países Lusófonos de África são marcadas de uma história baseada na sua luta pela superação da colonização e busca de independência contra a dominação sofrida de países Europeus.

Parte dessa história tem sido destacada pela proximidade que Brasil e os países Africanos procuram recuperar [4] nos últimos anos. Aliás, mesmo durante o governo de Jair Bolsonaro (Presidente Brasileiro até o final de 2022), caracterizado por uma política internacional reclusa, os laços entre os países lusófonos permaneceram.

No geral, a origem das relações entre Brasil e os dois países Africanos remonta à época em que, então colónias portuguesas, vivenciavam uma relação marcada pelo tráfico [5] de  pessoas escravizadas entre os continentes africano e americano. Os três países fazem [6] parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa [7] (CPLP).

O Troféu Raça Negra destaca, também, união, representação feminina e direitos conquistados nas últimas duas décadas. Na página [8] da organização do evento, é destacado que o troféu foi lançado em 2000 durante o aniversário dos 500 anos da chegada dos Portugueses ao Brasil.

A segunda edição ocorreu em 2004. A partir daí, passou a ser realizado anualmente, com o objectivo de reconhecer e enaltecer pessoas que contribuem em diversas atividades, propiciando às futuras gerações o registo da determinação, trabalho, perseverança e exemplo público na construção de uma sociedade mais plural.

Entre as homenageadas de 2022 estava Graça Machel, política e activista de direitos humanos moçambicana. Ela também é viúva do líder político moçambicano Samora Machel e do ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela. Está igualmente Paulina Chiziane, escritora moçambicana e vencedora da última edição [9] do prémio literário da Lusofonia – Prémio Camões.

No seu discurso, Graça Machel disse [10]:

Eu quero, com humildade, dedicar esse troféu a todas nós mulheres do nosso tempo. Assumindo de mãos dadas. Todas nós vamos lutar para que essas meninas cresçam em uma pátria de iguais, que ninguém as magoe, as discrimine, dê um salário a menos, as trate com desprezo, simplesmente porque são mulheres.

O destaque do evento foi feito pela organização na qual Graça Machel lidera com outros activistas de África:

Graça Machel esteve ontem entre os 16 laureados no Brasil pelo Troféu Raça Negra 2022, sinalizando quanto respeito e reconhecimento ela conquista em nível mundial por suas ações que já causaram impacto em todo o mundo e deixaram sua marca em um ano de desafios e esperança.

Também foram premiadas Inês Maria Coimbra, Maria Alice Setúbal, Luiza Trajano, Sônia Silva, MC Soffia Gomes, Glaucimar Peticov, Neilda Fabiano, Aline Borges, Patrícia Villela, Paulina Chiziane, Leci Brandão, Duda Ribeiro, Aline Torres, Hélia de Souza (Fofão), Dilma Rousseff, Lu Alckmin, Simone Tebet, Marta Suplicy, Eunice Prudente, Marina Silva e Benedita da Silva.

Na ocasião, José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, organizadora do evento, disse [3]:

Essa é uma histórica noite. Nós estamos honrando o passado dos nossos ancestrais, de construir uma nação de iguais, e que ninguém seja distinguido pela sua raça ou cor da sua pele. Para que os nossos filhos tenham um país em que possam entrar, ficar e permanecer em qualquer lugar, que eles possam ser o que quiserem, e que eles possam desenvolver qualquer das suas habilidades.

Em Moçambique, o evento foi difundido por organizações cívicas que promovem direitos humanos no país: